A violência no Rio tem nome, território e marcador racial

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“A polícia pode dar 70 tiros em uma casa sem saber quem está dentro dela?” pergunta a repórter da Globo no programa Fantástico de 25/05/2020. A resposta legal é “não”. A resposta real é “depende”.

“A violência no Rio de Janeiro tem nome. João Pedro, Rodrigo” diz o repórter do Jornal Nacional de sábado, 24/05, após a morte de mais uma pessoa durante operação policial, seguido de uma longa reportagem de 4 minutos e 09 segundos.

Em duas reportagens, nos dois principais programas jornalísticos do país, veiculam o cotidiano de mortes ocorridas durante operações policiais no estado do Rio. Entretanto, nos dois materiais um fato, que deveria ser protagonista, não entra nem como coadjuvante. Se as reportagens fossem veiculadas na rádio até agora não saberíamos algo extremamente relevante para o caso: a cor das vítimas.

Em 4 min e 09 segundos de reportagem do JN, em que foram ouvidos professores, pesquisadoras e especialistas não houve sequer uma menção a raça/racismo/negro/preto ou qualquer marcador racial das vítimas e dos territórios. E por que isso é relevante?

Vilma Reis, socióloga e ativista baiana, fala muito bem sobre “territórios racializados”, e é dessa leitura que devemos partir. Ao analisar as mortes recentes de João Pedro (São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio), Iago (Acari, ZOna Norte), João Vitor (Cidade de Deus – CDD, Zona Oeste) e Rodrigo (Morro da Providência, centro do Rio) temos algo de extrema relevância em comum (que poderia ser o fato de serem jovens negros, mas ainda que fossem brancos outro ponto se manteria de pé): todas as mortes ocorreram em territórios racializados. Favelas ou periferias, territórios que, ainda que não exclusivamente negros, são majoritariamente ocupado por pessoas pretas. E favelas são territórios negros desde o nascimento da primeira, a favela da providência há 122 anos, nos desarranjos pós guerra de canudos.

Fica evidente que tal fato nada tem de acaso, o projeto de país naturalizou violência e violações em territórios racializados. Desde o corte de linhas de ônibus que ligam a favela à Zona Sul e às praias – como feito recentemente pelo ex-prefeito Eduardo Paes – a mortes e chacinas que se sucedem. Quando a violência ou violação tem CEP periférico já não assusta mais. 

Fato é que, ao apontarmos a problemática da política de segurança pública do Rio de Janeiro – e não digo do Rio do Witzel, mas de todo um passado recente desde que foi anexado o antigo governo da Guanabara – é necessário que façamos o enfrentamento do racismo institucional que direciona essas ações, o racismo que faz com que 77% das pessoas mortas em operações policiais sejam negras. E isso não é de 2019 ou 2020, é um dado que se mantém em um passado recente. Precisamos entender que essas mortes não são apenas despreparo ou má gestão policial, é o racismo que permite ao policial que, em determinados territórios, ele atire primeiro e pergunte depois. Mesmo que a resposta seja “meu nome é João Pedro, eu sou estudante e tenho 14 anos”.