A UNE SOMOS NÓS, NOSSA FORÇA, NOSSA VOZ.

A retrospectiva da UNE e a sua perspectiva no passo-a-passo da classe estudantil nos capítulos da História brasileira. Cada sigla pra cada abreviação. E cada significante pra todo instante.

Fim de ano é o momento pra fazer a retrospectiva e refletir sobre o que aconteceu de bom ou ruim no ano. Pra quem passou em todas as matérias ou não, o que interessa são as férias. Eu passei para o 3° (já tendo concluído matérias do 4°) período em Comunicação Social. Pouco comentado que esse ano foi de Congresso da UNE e muito comentado foram as ocupações pelo Mundo. Também teve #ocupebrasília pelos estudantes reivindicando os interesses da classe com os 10% do Produto Interno Bruto (PIB) e 50% dos royalties do pré-sal para a Educação e aprovação do Estatuto da juventude…

O 52° Congresso da União Nacional dos Estudantes (CONUNE) sediado em Goiânia (GO) zona centro-oeste do país, convocou mais de 10 mil estudantes universitários dos quatro cantos do país vindos em caravanas ao meio do Oiapoque e Chuí para o mesmo endereço: a praça universitária de Goiânia, entre a Pontifícia Universidade Católica (PUC-GO) e a Universidade Federal de Goiás (UFG). Além de outros países da América Latina como o pessoal da Organização Continental Latino-Americana e Caribenha dos Estudantes (OCLAE).

Do lado carioca, o trajeto partiu do Rio de Janeiro, passando do DDD 21 ao 19 (São Paulo), 34 (Minas Gerais), 64 e 62 (Goiás). A volta foi bem mais rápida, fizemos em algumas horas o que teria sido um dia e meio de “ida”. 62/64, 34, 24 (Rio também) e 21. Foi o que se percebia na tela do celular. Apesar de cansativa, são nessas viagens de ônibus que se dá pra ter uma vaga idéia da dimensão continental do território brasileiro. Poderemos dizer, também, que a nobre diversidade cultural do país, se encontrou na juventude acampada aos redores das Universidades PUC e UFG.

Assim como outras caravanas que chegaram já de noite, parte da dezena de milhar perdeu a solene abertura do congresso, a homenagem à Leonel Brizola que propagandeou pelos rádios a mobilização popular frente a cada vez mais clara tentativa do golpe e ao presidente da UNE do mesmo ano de 1961, Roberto Amaral. Brizola Neto representou seu avô. O Ato foi em memória dos 50 anos completados em 2011 da “Cadeia da Legalidade” que o Movimento Estudantil (ME), em grande participação, garantiu a posse de João Goulart em conseqüência da renúncia de Jânio Quadros vista às forças ocultas (?) nas vésperas da Ditadura Militar.

O ex-ministro da Ciência e Tecnologia, Roberto Amaral afirmou ser mais grave o “Monopólio da Informação” do que as próprias discussões acerca do Monopólio da Comunicação. As vias possíveis de discurso sob os canais de e-mails, sites, blogs todas essas redes sociais como Twitter, Orkut, Facebook, MySpace e etc; não possibilitada na época da Cadeia da Legalidade, que aconteceu enquanto surgia no país as televisões, tornar por conhecido para o povo brasileiro a existência de uma resistência ao clima que avisava no ar, a iminência de um golpe militar. E então, é dessa ‘guerrilha tecnológica’ que parte o papel decisivo que a UNE pode desempenhar para a sociedade, se organizando nos meios tecnológicos e alternativos.

O ex-presidente lamentando ausência do ex-vice presidente e da atual presidenta do Brasil, marcou presença junto com o Ministro da Educação Fernando Haddad no II Encontro Nacional do Programa Universidade Pra todos (PROUNI), discutindo o tema “Pensando nos desafios da Educação”. É do entusiasmo dos militantes da União Nacional dos Estudantes entoarem o coro “Ôô/ Ôô/ o filho do Pedreiro/ vai poder virar Doutor”. Só não foi falado nos problemas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) porta de entrada para o Sistema de Seleção Unificada (SISU) e PROUNI. Anteriormente já havia publicado alguns artigos na internet e mídia impressa como um jornal tradicional e minha nota da prova de 2010 foi zero na redação. E eu achei que seria o meu forte…

Lula teria dito que após esses meses afastado oficialmente da cadeira de presidente, o que mais tem feito é dar palestras. Inclusive já fez mais viagens internacionais do que quando era presidente. Lula deixou de ir ao Egito e Tunísia pra falar de democracia para os jovens estudantes daqueles países por preferir estar presente no momento democrático junto aos estudantes brasileiros que é o seu congresso.

Para além da questão do ensino público e gratuito, o Programa Universidade Para Todos (PROUNI) junto com o novo Fundo de Financiamento ao Ensino Superior (FIES) criado por Fernando Henrique Cardoso, faz estender as lutas dos estudantes, também, nas portas das universidades particulares. Lula deixa claro como a juventude burguesa tem medo do acesso à educação das camadas mais baixas da sociedade.

O grande problema do acesso ao ensino superior é injustamente sua seleção. O próprio vestibular para as universidades públicas atestam isso. Segundo o presidente da Fundação Cultural Palmares, Zulu Araújo, existia cotas para a classe dominante quando os filhos dos fazendeiros estavam isentos do vestibular assegurados pela “Lei do Boi” (lei n° 5.465/1968) permitindo acesso a 50% das vagas nos cursos de Agricultura e Veterinária. Isso regulamentado até 1985, não por acaso início da redemocratização brasileira.

Comprova-se que o nível das universidades, através do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (ENADE), não caiu com a inclusão social conquistada, e que os melhores coeficientes de rendimento (CR’s) dessa “nova cara” das universidades brasileiras são em grande parte dos mesmos que foram acusados de miscigenar a ignorância da elite que vai ficando confusa quando a -intelligentsia brasileira- possa vir a agregar novos quadros intelectuais oriundos dos mesmos problemas sociais que isolam sua participação da ciência, da cultura e vida política da nação.

Ernesto Che Guevara ao ser nomeado professor Emérito da Universidade de Santiago falou que “A Universidade precisa ser pintada de preto, de mulato, de trabalhador, de camponês” e justamente nisso tem se dado o avanço mais claro das lutas estudantes pela democratização do acesso ao Ensino Superior. Em 2002 com os 190 milhões de habitantes tínhamos 12% do povo brasileiro sendo universitário. Hoje cerca de 13,9%. Em comparação com a Bolívia investe 6% de seu PIB sendo um país menos desenvolvido que o Brasil, e nossos “Hermanos” embora seja um país bem menor, praticamente, o acesso a universidade é estendido a toda a população argentina.

Augusto Chagas, ainda na posição de presidente da União Nacional dos Estudantes, na sua fala no plenário ressaltou as muitas atribulações dos estudantes durante a sua gestão de 2 anos, acentuando ainda mais o processo de mudança do perfil dos universitários que atenuou mais a mestiçagem do povo brasileiro. Dentro das universidades, já é mais nítida a sua diversidade. Como nas próprias palavras, de Norte ao Sul, Augusto Chagas confirma a presença significativa dos 24 dos 27 estados da República Federativa do Brasil.

Chagas criticou a impressa por se limitar a considerar a UNE como “Chapa Branca” por não entender a relação dos estudantes com o Governo Federal em tempos de democracia, destacando que o patrocínio financeiro, é um dinheiro público e este vem dos cofres da União, e a União Nacional dos Estudantes é comprometida para com as causas públicas; e que a mesma UNE já teria enviada uma carta ao presidente do Brasil, João Goulart, dizendo que “A UNE não oferece poderes plenos à ninguém.”

A marca da tradição da UNE é lutar pelo poder de transformar a sociedade. Nesse momento o plenário inteiro vai a pique gritando o trecho de seu hino: “A UNE somos nós/ nossa força/ nossa voz!”. O presidente da UNE se demonstrou satisfeito com sua contribuição a frente da entidade, e que a mesma chega os seus 74 anos continuando firme no lado que sempre esteve historicamente, compromissada com a organização da classe estudantil.

Em comum com as falas de Lula, Chagas e Haddad, torna-se claro a façanha de duplicar as universidades públicas, bater a marca de 1 milhão de estudantes prounistas e um novo FIES com melhores condições de pagamentos e menores juros, além dos estudantes de medicina que se dirigirem ao Sistema Único de Saúde (SUS) não precisarem pagar, assim também, como os futuros professores que forem trabalhar no ensino público.

O Ministro da Educação também rebateu as críticas que o Movimento Estudantil teria vendido a sua consciência crítica por alguns “trocados e migalhas” pra realizar entre outras, a organização de seu congresso visando por em baixo do tapete, os problemas que existem na educação da sociedade brasileira.

Fernando Haddad reafirmou que a dívida de reparação apenas começou para com os estudantes, chegando a comparação do que teria sido interrompido em março de 1964, com as rajadas e chicotadas de metralhadoras na sede da União Nacional dos Estudantes, e que o Governo Federal recebe as reivindicações da classe estudantil quando desde então, com os governos anteriores não se havia diálogo. O que faltava na UNE antes e durante a ditadura, era justamente a presença da juventude da zona norte e oeste, dos subúrbios, das favelas, das periferias; que hoje se encontram com possibilidades mais claras de entrarem nas faculdades.

O desenvolvimento da pátria não advém das riquezas naturais segundo o Ministro da Educação, mais sim, do nível educação do povo brasileiro, e nisso se fundamenta o eixo central das lutas dos UNE tido como motor do desenvolvimento lato das potencialidades da nação e de seus cidadãos.

A bandeira da União Nacional dos Estudantes reúne futuro e tradição. E tradição não se quebra. É como a mística da camisa rubro-negra, que nas palavras do tricolor Nelson Rodrigues “Se Euclides da Cunha fosse vivo teria preferido o Flamengo a Canudos para contar a História do povo brasileiro.” Além da tirada clássica: “ Há de chegar o dia talvez em que o Flamengo não precisará de jogadores, de técnicos, nem de nada. Bastará a camisa aberta no arco. E diante do furor impotente do adversário, a camisa rubro-negra será uma bastilha inexpugnável.”

Eis o ponto de ruptura que a União Nacional dos Estudantes representa no cenário brasileiro. Karl Marx previu que com as lutas dos proletários, esses alcançariam sua emancipação e conquistariam a ferramenta de transformação da própria sociedade que o exclui da vida em bem-estar social. Pra isso bastaria sua consciência de classe ser despertada ou transmitida pelos agentes revolucionários. Darcy Ribeiro e Milton Santos se atribularam de complementar o pensamento marxista.

Marx contextualiza a mudança vinda “de baixo” “pra cima”, mais sente falta da definição acerca das potencialidades de organização da sociedade enquanto capitalista, gerar por meios de desenvolvimento das técnicas produtivas, a criação do ‘Homem Novo’ dado o seu poder de comunicação, sendo esse ator, o sujeito da mudança do processo histórico. A classe dominante sempre esteve presente, desde as navegações descobrindo o mundo em continentes maiores, dividindo em colônias, assim como na atual cultura burguesa que controla a Globalização diminuindo as distâncias entre os oceanos que separam os continentes, formando uma Aldeia Global.

Que na prova cabal resultado nos limites das fronteiras, a plenitude de uma outra cultura à englobar de dentro pra fora, seria precedida pela aparente decadência da rivalidade ideológica, quando contundo, é dessa ruptura que nasce uma outra maneira de se fazer política, mediante a própria História gerar os mecanismos de avanço tecnológico, permitindo a popularização do progresso e a conseqüente Revolução Social.

A amálgama mestra desponta trazendo o novo pensamento para ao seu tempo diante os sinais cada vez mais claros da sua existência. Tanto a Cultura como a Universidade já estão sendo ocupadas e são desses canais que hão de surgir num futuro breve, não distante e cada vez mais significante, como nas palavras do poeta Jorge Mautner :“Essa amálgama é mais do que uma mistura, mais do que uma miscigenação. Ela é uma reinterpretação vibrante de tudo, sempre incluindo a absorção de pensamentos contrários, em equilíbrios flutuantes, includente, pacificador e generoso como a imensa alma do coração do seu povo!”

Pra galera que chegou de noite uma notícia boa e outra ruim. A água para o banho da noite assim como na matina, ficava ligada diretamente. O problema é quem chegou depois da hora ou acordou tarde, teve que tomar banho frio. Banho quente era das 19:00HS às 22:00HS e 6:00HS às 9:00HS. Se não foi exatamente esses horários, são quase que aproximadamente.

Os alojamentos são as salas da escola ou ginásio, ocupado por barracas e colchões. Aquele que foi designado como responsável pela lista de delegados, suplentes e observadores é o mesmo quem vai te acordar por volta das 6:30/7:00HS para as plenárias internas da força política que você “foi” ou te “tirou”.

Essa plenária é o espaço para os informes e levantes que cada um pode intervir nos debates que serão travados entre todas as forças. É importante pra força política mostrar a sua cara, até para os tantos que são, estudantes que não sabem em quem vão votar nesse congresso e em qual corrente eles vão militar durante a sua vida acadêmica.

Leva-se em conta que pra esse momento acontecer, mais de um milhão de estudantes votaram nos seus representantes o que corresponde na média aritmética de 6 milhões estarem sendo representados na figura do delegado ou suplente de aproximadamente de 97% das universidades brasileiras. Entretanto, continuo sem saber o motivo do coletivo que eu “fui” ter posto no meu crachá de delegado a instituição que não é bem uma instituição, o Centro de Educação Superior a Distância do Rio de Janeiro (CEDERJ), que serve como ponte de ensino à distância da UERJ, UNIRIO, UFRJ, UENF, UFF e UFRRJ ao invés da minha faculdade, a Universidade Candido Mendes (UCAM). Fui de delegado sem saber de onde saíram os meus votos. Fiz todo o contato via facebook com o companheiro Daniel Gaspar, atualmente secretário estadual da juventude do PT/RJ.

É nas idas e voltas de ônibus, nos momentos descontraídos, que rola as palavras de ordem criativas da galera: “Eu já falei/vou repetir/ eu já falei/ vou repetir” e “O ovo/frito/ jamais será cozido” tudo com direito a ‘bis’. No caminho da ida do alojamento até o café da manhã, se a plenária atrasar, os estudantes correm o risco de perder o café, caso cheguem atrasado. Para as refeições como café da manhã, almoço e jantar, cada dia do congresso têm sua data e cor.

Sendo assim, não se pode fazer as refeições que não foram feitas anteriormente mesmo que se tenha o ticket . De manhã, por algum motivo, são filas mais rápidas e com jeito, pode até repetir. Não dá pra “encher”: um suco, um pão com fatia de presunto e uma fruta, banana, maça ou laranja. Disseram-me depois que Goiás é terra do suco da laranja, mais não se percebeu distribuição gratuita. Acho que me enganaram.

Fixada a tenda da sua companheirada, cada um, ou cada grupo de amigos, parte pras mesas de debates da sua afinidade. Quem é de cultura vai pra cultura, quem milita na área de mulheres vai pras feministas, quem combate a homofobia, busca sua mesa. Próxima parada só no almoço. Mais se o debate, o Ato, a representação artística for muito bom, vale a pena perder o almoço e comer por sua conta depois.

O CONUNE é o tido como fórum em representação da classe estudantil e é a partir dele que sairá os novos rumos do movimento para os 2 anos de duração da eleita direção. A programação do congresso se estendeu aos temas nacionais dos mais variados, indo desde os grupos de discussão como “As mulheres e o combate ao machismo” e “A UNE e o combate ao racismo” como Financiamento Estudantil, Soberania Nacional, Código Florestal etc…

Nesses debates nota-se o desenvolvimento e crescimento das minorias como no caso da Marcha Mundial das Mulheres (MMM) assim também como “movimento LGBTT e combate à homofobia” que consegue arrastar milhares de pessoas assumidas, ainda no armário e simpatizantes na suas passeatas de afirmação da opção sexual.

O Esporte também era encontrado na programação com o espaço na mesa “Juventude, saúde, esporte, lazer e tempo livre” que faz parte da Etapa livre da 2ª Conferência Nacional de Juventude, agregando o poder da juventude em ocupar e afirmar seu protagonismo nos cenários de desenvolvimento junto com a juventude negra, seus direitos e deveres, e a relação da Educação com o Trabalho. A UNE discute os meios possíveis para a permanência dos jovens nas universidades, através de mecanismos governamentais e políticas de assistência estudantil a fim de que os jovens não entrem precariamente no mercado de trabalho com sua mão-de-obra desqualificada e conseqüentemente barata.

Representada pelo Circuito Universitários de Cultura e Arte da UNE (CUCA da UNE) a área cultural estudantil, vem mostrando a cada ano, ou melhor, a cada 2 anos anos com a realização das Bienais de Arte, Ciência e Cultura da UNE, sua identidade e pesquisa enquanto cultura acadêmica, sem perder os laços da experiência do que foi o Centro de Cultura Popular da UNE (CPC’ da UNE) interrompidos tão logo o Golpe Militar triunfou. Temas partiram de “CUCA e a rede cultural nas universidades” como “Cultura e educação como projeto de extensão universitária” além de representações artísticas onde os participantes puderem ganhar de presente o catálogo da 7° Bienal, a última realizada no Rio de Janeiro.

A produção cultural acadêmica vem se tornando muito forte dentro da União Nacional dos Estudantes. Chaves mestras de inclusão e formação de cidadania, a Educação e a Cultura se completam como instrumento de transformação da sociedade, e evidentemente, o movimento estudantil sente a obrigação de promover novas manifestações políticas e estéticas para o Brasil. Nesse ano de 2011 completou-se 12 anos de atividades da Bienal, 10 do CUCA e comemorou-se 50 do CPC.

A Bienal na sua 7° edição se solidificou no calendário estudantil em status do maior festival estudantil da América Latina. No começo, a relação era de arte e cultura. Acrescentou no próprio título Ciência e Tecnologia, e em razão dos mega eventos esportivos que o Brasil vai sediar, novas particularidades também foram pensados no tamanho da Bienal. Lançado em 1999 na cidade de Salvador, hoje a Bienal em parceria com o CUCA Brasil afora, trata de misturar a dita cultura acadêmica com as culturas populares. Formando a partir dessas misturas, os títulos temáticos das reflexões propostas.

Hora do Almoço. A estudantada está cansada e o que é pior, com fome. Numéricas filas múltiplas e paralelas dividas por campos de ida e volta. Companheiros que são, se revezam na espera até a chegada nos pratos. Uns sentam e descansam, enquanto os outros estão de pé na fila. Claro, rola tempo pra “ir afinando o discurso”, mais a cabeça pensa melhor quando o corpo está alimentado.Todo o cuidado é pouco e haja sensibilidade. O prato é raso e de isopor e o garfo e a faca são de plásticos, como nas festas infantis. E aí, é melhor pegar logo dois pra garantir o risco de quebrar.

Todavia o que seria o esqueleto do Movimento Estudantil? O ME se caracteriza pelas idéias e ações tomadas em conjunto por sua classe organizada, os estudantes mobilizados pelo bem comum. Isso se estende ao mundo todo, mais tomaremos o caso do Brasil e suas dimensões continentais.

A base da militância estudantil está representada através dos Centros Acadêmicos (CA’s) dos cursos oferecidos pelas faculdades e também dos Diretórios Centrais dos Estudantes (DCE’s) das universidades que se atribulam dos problemas e soluções levantadas em todo o campus da instituição de ensino e, inclusive, as lutas populares a serem travadas nas ruas pelo povo, guiadas pela sua tradicional vanguarda. Separa-se por cada estado do Brasil a União Estadual dos Estudantes (UEE’s) e a União Nacional dos Estudantes Secundaristas (UBES) formada pelos adolescentes as portas de prestarem o vestibular…

Segunda rodada de debates antes do jantar , e mais um banquete de temas indo do Meio Ambiente à Saúde, passando por Desenvolvimento Econômico sem esquecer da Reforma Agrária como também Democratização dos Meios de Comunicação numa Conjuntura Internacional e etc; na volta para a praça universitária de Goiás, essa é numa ladeira e ainda existe o esforço e subir descer. São nessas passagens que a ocorre as distribuições das teses das mais variadas correntes que compõe a UNE e de adesivos de repúdio as discriminações e opressões de todas as forças, além de venda das camisas do Che Guevara, da Rosa Luxemburgo, do Fidel Castro… Assim como livros de marxismo, ciência política, de História… Com alguma coincidência, os estudantes de Ciências Sociais e História e alguma parte de Direito, tem um inclinação pra fazer Movimento Estudantil.

Teve debate sobre a política nacional de drogas e Marcha da Maconha em Goiânia também. Assegurada pela liberação do Supremo Tribunal Federal (STF), em volta da praça universitária, arrastando mil pessoas ladeira abaixo com as faixas dizendo “É proibido, proibir” e “Não à guerra, cultive a erva”. Os outros nove mil, não reforçaram os coros “Dilma Roussef/Legaliza o beck”, “Que contradição/ Maconha é crime/Homofobia não”, “Esquerda/Unida/ Fumando a proibida”e “Fume/Fume/ Fume companheiro/Estamos construindo o Partido Maconheiro”… Renato Cinco passou a bola paras as lideranças estudantis, através do ME, organizarem os coletivos da marcha da maconha em todo o país. E depois ainda tem gente que acha que os estudantes atravessam o país só pra ficarem doidões. Só foi 10%.

A secretária de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário dividiu a mesa com a jovem e bela presidente da comissão de Direitos Humanos da Câmara, a deputada federal Manuela D´Ávila e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso no Ato pela defesa da Comissão da Verdade “Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça” que tem como finalidade dar voz as famílias que perderam seus entes durante período da ditadura (1964-1984), para que seja possível dessa maneira, construir a memória social da nação brasileira que conhece apenas uma versão do que se tenha passado, e em conseqüência, seja os moldes do presente que é ignorada pelas gerações advindas desse processo histórico. Nesses que foi um dos mais aguardados e emocionantes momentos do congresso.

O Ministro da Justiça afirmou querer todos os tipos de documentos, papéis e arquivos que contenham as informações do período da Ditadura Militar pra serem abertos ao povo brasileiro através do Arquivo Nacional, servindo de fonte de pesquisa para os próprios estudantes, historiadores, os familiares que ainda não sabem da origem do desaparecimento dos seus filhos… Consolidando dessa forma, o fortalecimento da democracia e paralelamente assegurar que não se venha ter nunca mais, uma outra fase de tortura. Durante esse Ato eram ouvidos os nomes dos estudantes que foram desaparecidos como no exemplo dos adolescentes secundaristas Marco Antônio e Ismael Silva e todos falavam PRESENTE agora e SEMPRE. As arenas de debates levavam os nomes Aldo Arantes e Honestino Guimarães.

Esse é o desejo de todos que sobreviveram esse fascículo brasileiro. Que novas gerações de jovens não se desesperem ao pegar em armas pra lutar contra uma opressão sangrenta novamente. São nessas horas que sentimos a força que o nome e a bandeira da UNE tem. Não existe outra representação de uma classe que seja capaz de fazer a identidade do povo brasileiro inerente à sua evolução na História e prepará-lo pra sua própria Revolução. (Aprovada a Comissão da Verdade, não era bem o que se esperava…)

Embora muitos achem, e muitos os são, que a UNE serve apenas pra emitir carteirinhas que dê desconto pra entrada em show, cinema e etc; é clássico que a História da UNE se confunde com a História do Brasil, e se ela já não é mais combativa com era antes, é sinal que vivemos em outros tempos. Ora, não estamos num período autoritário e sim avançamos junto com a jovem democracia brasileira.

Cada vez mais a memória patriótica se expõe na luz do que atrasou a História, justamente para uma geração que nasceu quando a ditadura militar acabou. Um novo clima de efervescência irá contagiar a todos novamente, como nos ciclos que História se processa, e fatalmente veremos a bandeira da UNE junto com os novos atores que se revelam no mesmo momento em que o período tecnológico da humanidade abre as portas para o popular.

Coincidentemente, a direção da UNE é formada por jovens que nasceram a partir das reivindicações populares para as Diretas Já! no ano de 1984. Agora no final do ano de 2011 todos estão com seus 27 anos de idade completados.

As plenárias finais são destinadas as votações das propostas consensuais e divergentes sendo obtidas sob métodos de concepção visual. Daí partirão as resoluções que servirão como pauta para as ações da entidade nos seus 2 anos seguintes.

O maior número de crachás levantados indica a aprovação. Enquanto eleição da nova direção que vai representar a gloriosa União Nacional dos Estudantes é obtida através dos votos nas urnas que por “questões organizacionais”, as urnas são postas atrás das forças políticas presentes ao congresso dividas nas cores vermelhas e verdes do ginásio Goiânia Arena, ao lado do estádio Serra Dourada.

Voto secreto não existe. Os próprios integrantes das forças estão na goela d’a urna reafirmando o n° da chapa. E uma sentinela fica prostrada atrás do guarda da urna vendo a sua votação. E o guarda não se importa. Até parece manter um sorrisinho. Detalhe que a sentinela saiu do movimento estudantil e apenas acompanhava sua namorada, eleita vice-presidente pela turma que eu “fui” a Democracia Socialista (DS).

Após esses 3 dias de congresso, debates, as horas de votações, o congresso termina com a oficialização da diretoria formada pela chapa “Movimento Unificado Para Mudanças no Brasil” já concebida antes mesmo do primeiro participante botar os pés em Goiás.

O meu camarada, Daniel Iliescu assume a presidência. Confesso que fiquei impressionado quando fui como observador do Movimento Estudantil, de ônibus até Brasília (DF), rumo ao 51° congresso de 2007 que estava por começar, mais já se sabia que a Lúcia Stumpf seria “a presidenta” dita pelo meu amigo Théo, também da UJS/RJ.

Mais é contagiante esse momento. As demais forças políticas se dividem como torcidas nas arquibancadas, cada uma com suas bandeiras, camisas e palavras de ordem ritmadas pelas respectivas baterias. E no meio do ginásio, como se estivéssemos assistindo a um só time jogar, e obviamente ganhar a partida, fica a majoritária na quadra. No telão foi transmitida a partida entre Brasil e Paraguai pela Copa América, decidida nos pênaltis…

O ME é dirigido pela União da Juventude Socialista (UJS) única tendência do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) desde 1991, há 20 anos (embora o PCdoB seja popularmente desconhecido no país). Quem presta atenção no congresso percebe que o movimento anda muito dividido. É como se uns falassem uma coisa e outros, outras. O que é mais confuso é quando falam o mesmo assunto, só que diferentemente.

A oposição, tida como a ‘Oposição de Esquerda’ (OE) existente é a juventude do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) essa oposição também é divida entre vários coletivos: Levante, Juntos!, Vamos à Luta, Contraponto, Rompendo Amarras, Rebele-se e Viramundo, todos também, ligadas às tendências internas do partido. Durante as plenárias finais, os coletivos ficavam de costas para o centro da quadra e entoavam: ”Não/ Nos representam não, Não/ Nos representam não”.

O PSOL é uma dissidência do Partido dos Trabalhadores (PT) e do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU). O PSTU saiu da UNE e criou a Assembléia Nacional dos Estudantes Livres (ANEL). A consagrada “Direita” não se fez com força presente na sua juventude no Movimento Estudantil. Mesmo assim o governo de Goiás que pertence ao do PSDB, liberou recursos pro congresso. E tido com “centro” a juventude do PMDB. Na sua tenda, era alguém chegar com o adesivo do partido no peito que estava liberada a cerveja.

O PT está na UNE com os seguintes coletivos: Mudança, Kizomba, Reconquistar, A UNE é pra Lutar, Para todos e Fora da ordem, cada um na sua, unidade só ocorre quando todas entoam “Juventude/ Petista/ De Esquerda e Socialista”. A Articulação de Esquerda (AE) também é PT, mais essa se pôs na Oposição sem se juntar à OE. De resto, a última turma do “do contra” é a juventude do Partido Comunista Revolucionário (PCR), esses ainda de maneira clandestina…

Fazem-se ainda representadas as juventudes dos partidos como o Partido Democrático Trabalhista (PDT), Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Partido Socialismo Brasileiro (PSB), Partido Popular Socialista (PPS) além de ainda outros, mais esses, são em menor expressão.

A Oposição de Esquerda também tem como concepção final a construção de uma sociedade mais justa, fraterna e igualitária. Porém, discorda da direção tomada pela majoritária da União Nacional dos Estudantes. Existe o desejo de romper com a burocracia do movimento, com o comércio das famosas carteirinhas e implantar a autonomia referente ao Governo Federal e paralelamente aos interesses dos poderosos, as Igrejas e a elite burguesa nacional; tornando mais democrático, ou melhor, verdadeiramente democrático e combativo junto as lutas populares da classe trabalhadora, das mulheres, negros, homossexuais e todas as castas oprimidas.

A missão da Oposição de Esquerda é mobilizar os estudantes, principalmente os que estão desapontados com a representação da sua classe, afim de resistir das demais formas de exploração e intervir junto aos movimentos sociais buscando a concretização da transformação social do Brasil e também do mundo.

Segundo a Oposição, A direção da UNE vem largando as tradicionais bandeiras das lutas históricas do ME, pela troca de aparelhar o Governo Federal sem fazer valer o seu senso crítico, e questionar a ordem vigente. As revoltas que ascenderam no mundo, em países como Espanha, Grécia, Portugal e nas Arábias, não despertaram a União Nacional dos Estudantes em agregar e posicionar os estudantes na linha de frente pra arrastar as massas para as mudanças que se fazem necessárias. Nem mesmo no Chile, país ao lado na América Latina, não é captada as influências dos novos ventos que sopram. Se faz latente o quanto antes possível, a solidariedade internacional que a UNE pode se articular afim de derrubar a cultura imperialista e lutar pelos ideais da democracia para o século XXI.

Parte daí o tamanho do papel que a UNE deve encorpar para além das dimensões continentes do Brasil. A oposição repudia a intervenção da OTAN na Líbia, e os estudantes não podem aceitar que o Obama declare guerra no próprio solo brasileiro e ainda destaca a luta da Dilma pela democracia nos tempos da ditadura militar. Seria uma espécie do sujo falando do mal lavado. Todo o ME liderado pela sua entidade representativa tem como missão a construção de um movimento que dispute a hegemonia em todas as regiões, contra a Direita reacionária e apoiando os levantes populares em prol dos regimes democráticos que devem-se dimensionar internacionalmente.

Um outro olhar sobre conjunta internacional é tida pela oposição como fundamental pra que se questione a Educação inserida no modelo capitalista, que dita as regras para os países em seu jugo colonialista. Diante do colapso da estrutura do mundo globalizado, a economia mundial teve uma das suas maiores crises da História como atesta o próprio Fundo Monetário Internacional (FMI). No mundo inteiro os revés da última crise de 2008 agravou ainda mais a vida dos trabalhadores arrastando mais de 30 milhões de desempregados à miséria, tanto nos países periféricos como nos centrais.

O Neoliberalismo se constitui com forte no atendimento aos interesses do Mercado, e frágil na garantia dos direitos básicos e de assistência às populações. Quem paga os déficits que fogem a regra, são os países “de baixo” enquanto os “de cima” impõe socialismo para com as perdas e capitalizam os lucros do capital financeiro e de seus monopólios. E o que não atingiria o Brasil, a “marolinha” foi apenas uma jogada eleitoral visando o pleito de 2010 disputado pela contraditória divergência de PT e PSDB, quando o ‘partido único’ desde a década de 1990 vem construindo a sua política de exclusão social. As privatizações, a tal da Reforma da Previdência e os cortes nas áreas de educação, saúde, cultura e etc; são alguns dos exemplos.

Saiu de cena o governo federal do PSDB e entrou o PT. O aparente crescimento econômico atrelado as desenvolvimento social, não poderia mascarar quais são os pontos estratégicos do governo agora exercido no primeiro mandato de Dilma Roussef. O salário mínimo dos trabalhadores teve tímido aumento sem contar também com o aumento da inflação que consome o valor líquido do pagamento, e por outro lado, para os parlamentares que trabalham bem menos num serviço que não é pesado, se viu na felicidade do Tiririca ao dizer que trouxe sorte com o aumento de salário, quando o palhaço foi o mais votado nas eleições.

Dúvidas melhores que essas não poderiam serem esclarecidas. Dilma é reconhecida por seu uma mulher culta, e segundo alguns, a mesma teria feito teatro grego com Ivo Bender. Diante de dois pilares chaves de transformação do Brasil, que são o Ministério da Fazenda e da Cultura, porque Dilma manteve o Guido Mantega e nem conhecia a Ana de Hollanda, só sabia que era irmã do Chico Buarque? Será que o Guido é marxista? Por aí pode se entender que Dilma se tocou mais nas músicas de amor, do que as de justiça social de Chico Buarque.

Ao mesmo tempo em que cortou verbas para os gastos públicos como Educação, Segurança, Cultura (?) e etc; se impressiona os investimentos para os mega eventos como a Copa de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), na verdade serve para aumentar os lucros da construção civil, que ignora as normas da Segurança no Trabalho em prol dos trabalhadores, ao exemplo claro da usina Hidrelétrica de Jirau, sem esquecer-se da Usina de Belo Monte e a transposição do Rio São Francisco, que propagandeia a degradação do Meio Ambiente e destruição do ecossistema, que supostamente o PAC seria uma alavanca de empregos como motor do desenvolvimento e inclusão social.

Em clima de ditadura e repressão, os movimentos sociais que denunciam esses fatos, vem assistindo o assassinato de suas lideranças e como se não bastasse, o aprovação do novo Código Florestal permite sob lei que os responsáveis pelos desmatamentos fiquem impunes. No mandato de Dilma continua a corrupção, será que ela também não sabe de nada? Corrupção é complacente com todos os governos capitalistas.

Por esse ponto de vista a entidade estudantil se transformou na dita “Chapa Branca” do Governo Federal que continua em regime de ditadura, só que numa espécie de “Ditadura Branca”. O mesmo partido que comanda a UNE há 20 anos não se relaciona com os estudantes das universidades brasileiras, os quais esses ignoram a presença e atuação do movimento no cenário político do país.

O diálogo seria então com as secretarias e ministérios do governo de quem recebe seus milhões anuais e ultimamente com a Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (ABMES), cuja associação, é formada pelo empresariado do Ensino Superior. E o que interessa aos barões, sãos seus lucros em cima dos juros.

Acredita-se também, que com a defesa praticada pelas expansão das vagas no Ensino Superior privado, através do PROUNI , acaba-se prejudicando a expansão do Ensino Superior público, com a Reestruturação e Expansão das Universidades federais (REUNI); face a isenção dos impostos que as bolsas prounistas permitidas ao empresariado do setor privado, acolher os estudantes nas faculdades particulares, sendo essa mesma verba que está faltando no REUNI.

Por essas e mais outras que virão, parte da Oposição defende um sistema de financiamento próprio das atividades da UNE visando sua independência aos governos e associações empresariais, e eleições diretas para a direção da UNE em todas as universidades brasileiras. Se na lógica, a União Nacional dos Estudantes recebe o apoio de seu parceiro, como poderia ser contra a política programática do seu camarada? Dessa harmonia dos governos como no caso do Rio de Janeiro, onde o governo Municipal, Estadual e Federal estão juntos, e os estudantes também, não vai surtir nenhuma mudança em efeito.

Esse último congresso foi consagrado como o maior da História da União Nacional dos Estudantes e nesse momento está em jogo a definição do Plano Nacional de Educação (PNE) dos próximos dez anos, momento apropriado para a mobilização dos professores, estudantes e toda a sociedade civil para pressionar o governo para as conquistas dos seus direitos e contra o corte de R$50 bilhões no orçamento, em peculiar aos também R$3 bilhões cortados do Ministério da Educação (MEC), fatores cruciais para o investimento na educação. A principal luta da UNE será a conquista dos 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para a Educação e os 50% dos Royalties do Pré-Sal, em encaminhamento. Esses são os primeiros passos para sedimentar a Educação como projeto de nação, tornar o ensino como um bem público e não uma mercadoria clientista.

Não se pode construir o modelo socialista idealizado após 20 anos de repressão e que com a eleição de Lula decepcionou os anseios do povo brasileiro pela suas liberdades democráticas. O tempo passa e a UNE em conjunto com outras entidades que compõe o Movimento Social, tem como missão intervirem com um amplo debate à sociedade em temas como os plebiscitos, as iniciativas populares, referendo e todos os instrumentos diretos de democracia. Como se tem memória, o ME brasileiro sempre se mobilizou contra os modelos econômicos que privilegiam os lucros aos desejos e necessidades de sua população, como as mudanças profundas que urgem serem realizadas como a Reforma Agrária, Universitária, Política entre outras…

Por outro lado, se acredita que já não somos mais o país do futuro, mas do presente. O Brasil está vivendo um outro tempo. Um tempo de otimismo de crescimento tanto econômico com de democracia na direção do desenvolvimento com bases de melhores distribuição de renda…

O último elo que liga a programação do congresso é o show, as atrações musicais. Afinal, também é necessário trocar uma idéia com a rapaziada, tomar uma cervejinha, dançar, enfim, se misturar e divertir com a diversidade juvenil. Uma observação feita pelos comentários masculinos é que de noite não se via as mesmas gatas de Curitiba, da Bahia, de São Paulo, de Minas, etc; que se percebia enquanto o dia estava claro. Uma outra parte da galera ficava no alojamento, rolava churrasco feitos por gaúchos, rodas de violão, vinhos, caipirinhas e papo afora madrugada…

As comemorações para seus 75 anos de existência em 2012 começaram neste 52° congresso, e nada mais interessante seria atualizar sua bandeira e diversificar também. Desse jeito podemos ver claramente a cara da entidade além de concluir que a miscigenação se compreende em todo o Brasil, sem as divisões por estado como na bandeira anteriormente. Um novo sítio da internet também foi lançado.

É dessa maneira que a pequena maioria dos estudantes tomam conhecimento da União Nacional dos Estudantes. E é uma ótima oportunidade pra rever seu papel de estudante e o papel da entidade que o representa. Não é necessário se filiar aos partidos que compõe o movimento. Pode-se naturalmente participar livremente sem se tornar orgânico. Fica claro que a História do Brasil e da UNE são similares, e se existe um vazio existencial, a UNE é a própria representação da ruptura que esse processo histórico atravessa…

Desde do Brasil Colonial os estudantes brasileiros participaram das principais questões nacionais. Se tem memória de que as lutas contra a independência, foram apoiadas pela juventude. No ano de 1710 foi registrado do primeiro movimento estudantil que venceu e expulsaram mil soldados franceses que haviam invadido a cidade do Rio de Janeiro, todos os estudantes vinham de conventos e colégios religiosos. As conjurações mineiras (1789) e baianas (1796) foram arquitetadas teoricamente pela juventude que estava na Europa.

No Brasil Imperial estavam os estudantes novamente se posicionando contra a escravidão. Com a chegada da família da Coroa portuguesa na sua colônia, chegou também o primeiro curso superior nas terras descobertas por Pedro Álvares Cabral.

A guerra de Canudos em 1897 contou fortemente com o apoio da classe estudantil. 4 anos mais tarde disso, foi criada a Federação dos Estudantes Brasileiros embora com pouco tempo de existência, foi a precursora do Movimento Estudantil. Em caráter de organização do dimensionamento que vai tomando corpo na linha evolutiva do movimento, em 1910 realiza é realizado o 1° Congresso Nacional dos estudantes em São Paulo.

Com a fundação do Partido Comunista do Brasil (PCB) em 1922, o “Partidão” aumenta-se o nível de politização da classe estudantil, formado pela juventude intelectual. Quando ocorre a Revolução Constitucionalista no ano de 1932, na linha de frente do comício estava os estudantes que terminou em conflito armado. Quatro morreram. Crescia o sentimento nacional da juventude brasileira para com a sua pátria. 43 milhões de habitantes, sendo 33 mil jovens quase que por conta exata cursam as 21 Instituições de Ensino. O que se pode calcular que menos de 0,1% do povo brasileiro era universitário.

Em 1937 durante o I Congresso Nacional dos Estudantes, nasce a União Nacional dos Estudantes (UNE) sediada na Casa do Estudante do Brasil no dia 11 de agosto. A feminista, poetisa e tradutora Ana Amélia Queirós Carneiro de Mendonça é eleita a presidente. Anteriormente havia sido a “Rainha dos Estudantes”. A temida crítica teatral Barbara Heliodora é sua filha.

Com sua entidade protocolada, as lutas do povo brasileiro pelas mudanças sociais guiada por sua jovem vanguarda, ganha um endereço como referência para as reuniões de organização do movimento. O II Congresso Nacional dos Estudantes se aproximava e Irum Sant’anna sugere a Paschoal Carlos Magno uma atividade cultural. Romeu e Julieta é encenado no Teatro Municipal do Rio de Janeiro para uma platéia de estudantes. Nesse mesmo ano de 1938 Carlos Magno funda, no porão da casa de sua mãe, o Teatro do Estudante do Brasil (TEB). Qualquer um que quisesse estudar teatro e fosse jovem, teria oportunidade. Começava os debates políticos a tomarem a cara da União Nacional dos Estudantes.

Com a repercussão da Segunda Guerra Mundial, a UNE realiza em seu Congresso Nacional de Estudantes o lançamento da mensagem “À Mocidade do Brasil e das Américas”; marco do que seria sua característica como mensagem de coragem, trazendo um canto de esperança para um Brasil em paz, imortalizando essa e outras frases em seu Hino. A UNE formou sólida oposição ao Nazifacismo de Adolf Hitler.

Na primeira ditadura brasileira que foi o Estado Novo, as bandeiras da UNE esteve presente nas manifestações dos anos de 1940 contra Getulio Vargas defendendo a ruptura contra os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão) e a favor dos Aliados (União Soviética, EUA, Império Britânico, República da China e França). A cultura é representada contra o Nazifacismo em peças teatrais encenada pelos militantes da UNE. Se identificava a relação da Cultura com a Política no Movimento Estudantil

Em resposta a repressão do governo de Getúlio Vargas a UNE promove manifestações por todo o país. Passeatas são reprimidas violentamente pela polícia e continua o registro de morte para os estudantes brasileiros. É desse tempo também a primeira invasão que policial na sede da UNE, pelo motivo do Congresso da Paz e os protestos pelo aumento da passagem dos bondes.

Como as ditaduras são regime impostos a força sobre o povo, Getúlio Vargas cria a sua Policia Especial. Como a polícia forma o braço instrumental do governo pra manter o sistema social injusto de exclusão social, é da Polícia Especial que surge a Scuderie Le Cocq em homenagem ao detetive Milton Le Cocq quando as iniciais ‘EM’ no brasão significavam Esquadrão dos Motociclistas e não Esquadrão da Morte como ficariam popularmente conhecidos.

Ao ser despejada por questões financeiras da Casa do Estudante, a classe estudantil, contagiada pelo clima da guerra, toma o prédio do Clube da Germânia, considerado como ponto de encontro do movimento nazista carioca, localizado no n°132 na praia do Flamengo em 1942. Não se sabe por qual motivo claramente, Vargas teria concedido apoio além de decretar pela lei n°4080 a oficialização em escala nacional, a UNE como representação dos universitários. Jerusa Camões funda o Teatro Universitário onde somente universitários faziam parte. Entre ele jovens promessas como Fernando Torres, Sérgio Brito, Sérgio Cardoso, Nicete Bruno, Milton Carneiro, Natália Timberg entre outros.

Durante a década de 50, digamos, a UNE viveu sua fase “direitista” liderada por uma ala que tinha vínculos com a União Democrática Nacional (UDN). Como estava ao lado da burguesia, não se teve problemas. O Mundo Pós-Guerra absorvia o Rock’ and Roll que combinava ritmos e acordes tanto da música “dos brancos” como “dos pretos”; num EUA de segregação racial.

O 1° Congresso Interamericano de Estudantes, tendo as bandeiras de lutas como o “Petróleo é Nosso” (e a Petrobrás também) justamente no ano de criação da empresa estatal, em 1952 é organizado pelos estudantes. Nessa altura dos acontecimentos políticos do país, o ME vai ganhando cada vez mais força e poder de intervenção nos rumos da sociedade, enquanto isso, o capitalismo crescia no Brasil e em conseqüência disso a crise política do governo tornava-se insustentável, a saída do chefe do Estado foi se suicidar. Na agitação dos anos 50, são feitos movimentos de resistência contra as tentativas de internacionalização da Amazônia de 1956 até 1958. E à favor da criação das Reformas de Base e Reforma Agrária também em 1958.

Aldo Arantes é eleito presidente da UNE e esse se dirige a Brasília pra um encontro com Jânio Quadros. É recebido por três ministros militares e sente de leve, um frio na barriga. Algo já não estava como deveria estar. Jânio renuncia por assombramento das forças ocultas (?).

Nessa virada para os anos 60, a União Nacional dos Estudantes e demais movimentos progressistas formaram o bloco Frente de Mobilização Popular. Mentes e corações se unem em prol da reformulação da estrutura social vigente. Inspirados pela Revolução Cubana (1959) que sustentava as mesmas possibilidades para o Terceiro Mundo, mais que no caso do Brasil, esta poderia ser concretizada por vias democráticas com os rumores da posse de Jango, por precauções e afim de assegurar que tudo ocorresse bem, a UNE muda sua sede em 1961 para Porto Alegre pra reforçar a Campanha da Legalidade. Tendo assumido o poder, um dos primeiros atos presidenciais de João Goulart foi visitar a UNE. Durante toda a década de 60 rolava a exibição de todo o tipo de filmes (nacionais e internacionais), nas favelas, nos sindicatos, praças, nas faculdades; em todos os espaços que fossem possíveis discutir a estética e a transmissão das mensagens.

Justamente aqui se evidencia o momento “de pico” em que a intelectualidade se solidarializa para com as causas nacionais, sobre o entendimento da função social da arte e a problemática da mística cultura popular, visando além de tudo, as influências para a construção do que foi denominado conceitualmente como Nacional-Popular.

Nesse cenário de efervescência cultural de 1959 até 1964, quando o golpe militar brasileiro decreta o fim da euforia de ‘Revoluções’, ao tempo que as mudanças estruturais se faziam nítidas, aparece uma figura que transita livremente pelos setores culturais, seja no teatro, no cinema, na música e nas universidades. Carlinhos Lyra próprio da Bossa Nova quando da vertente ainda de Bossa Nova ‘Nacionalista’, era íntimo também, do Teatro de Arena, Cinema Novo e do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC da UNE). A Matriz então se caracterizou por uma arte engajada, política de fato nas suas variáveis linguagens, que produziu cultura. O Partido Comunista do Brasil (PCB) era a referência, embora nem toda a vanguarda fosse filiada.

No ano de 1962 a União Nacional dos Estudantes em método agitprop, se dispõe a mobilizar o país inteiro em as caravanas da UNE Volante tentando transmitir didaticamente aos estudantes, operários e camponeses a realidade brasileira e o motivo das reformas sociais no país mediante a instabilidade que conspirava. Criou-se também o Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC da UNE) que após a temporada da peças teatrais do grupo Teatro de Arena Eles Não Usam Black –Tie de Gianfrancesco Guarnieri e Chapetuba Futebol Clube de Oduvaldo Vianna Filho, o Vianninha. Com o desânimo do resultado, ao apresentar os espetáculos para a própria classe média, o sociólogo Carlos Estevão Martins integrante do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB) ajuda a formar uma concepção de caráter teórico marxista, usando como pano de fundo a peça de Vianninha e Chico de Assis A mais valia vai acabar, seu Edgar com trilha sonora de Carlos Lyra.

Com os debates que se sucedem no meio acadêmico, num processo natural as coisas vão acontecendo e definitivamente surge o momento de se criar o formato carioca representando a forte cena de efervescência cultural inspirado por Leon Hirzman e Vianninha, ao conhecer o Movimento de Cultura Popular (MCP) liderado por Paulo Freire e Ariano Suassuna em Recife. O jovem ator José Wilker fazia parte do elenco. É valido ressaltar que nessa época apenas 1% da população brasileira era universitária. Vianninha cria com humor uma peça para o CPC intitulada “Auto dos noventa e nove por cento” na tentativa de dialogar come os excluídos do acesso ao ensino superior.

De início o CPC ira se chamar Centro de Cultura Popular (CCP), mas como Carlinhos Lyra o diretor musical do grupo, era um pequeno-burguês e não fazia cultura popular, o que poderia ser experimentado era popularização da cultura, portanto, Centro Popular de Cultura (CPC).

Surgem o movimento cineclubista e o lançamento do filme Cinco Vezes Favela marcando o auge da época. O filme marca bem o contraste que existia entre postura acadêmica do CPC e a dinâmica da cultura popular do Cinema Novo. Viria daí mais um “racha” da esquerda brasileira, quando a passagem do estudante de Direito da PUC-Rio Carlos Diegues se resume até o fim da produção do filme.

Leon Hirszman após concluir seu episódio ‘Pedreira de São Diogo’ se surpreende em dois momentos. O primeiro ao tomar conhecimento pela manchete do jornal O DIA que a pedreira de seu filme foi realmente explodida junto com a destruição dos barracos no entorno e 16 mortes dos moradores. A pedreira é a “pedra lisa” do Morro da Providência, atrás da Central do Brasil.

Com a experiência adquirida, Leon que junto com o Vianninha e Glauber Rocha eram os mais politizados da esquerda brasileira, roda um documentário de nome Maioria Absoluta retratando que o analfabetismo e miséria no Brasil não são por acaso, cujo pólo nordestino em pleno século XXI continua sendo dominado por coronéis. Collor e Sarney não deixam mentir a realidade.

O próximo filme de Leon que iria complementar Maioria Absoluta, Minoria Absoluta revisionava a Reforma Universitária para com população em geral e o contato dos intelectuais com o seu povo de forma até desesperada em algumas circunstâncias. Entre outras cenas, o famoso Comício na Central do Brasil foi registrado, mais como a polarização política e os golpistas davam a cada dia, a suas caras, como no exemplo literalmente das janelas do prédio ao lado, o Palácio Duque de Caxias. O pior aconteceu e o projeto foi abortado, pra sua segunda surpresa.

Pairava no ar um clima de tensão entre as divergências dos conservadores e progressistas. Sentindo que se aproximava a urgência do apoio popular a aderirem o projeto comum de um modelo reestruturante, é conclamado um comício na urgência das “liquidações” das lojas, afim de se tonarem claros para a população a realização de todas as reformas na sociedade. José Serra declaradamente do lado conservador hoje, era o presidente da UNE em 1964. Em 31 de março rumores da tentativa de um golpe de Estado havia repercutido no boca-a-boca mais que até então tudo estava sob controle. E não haveria mais o susto. Acreditou-se que o presidente fazendeiro ira fazer a Reforma Agrária, Urbana, Universitária, etc; a Revolução Social como um todo. Shows de Elza Soares, assim também com outras cantoras, esquetes de humor com Grande Otelo como comemoração da festa de celebração da vitória dos estudantes em seu auditório…

Tão logo o golpe militar tomou o poder central da nação, a 1° medida tomada pelos novos governantes, foi metralhar a sede da UNE na praia do Flamengo em 1° de março de 1964. O sonho havia acabado. O regime imposto derrubou a representação da UNE e das UEE’s por intermédio da lei Suplicy de Lacerda, e partir daí, o movimento passou a viver clandestinamente, como um perigo pra segurança nacional.

Castelo Branco assume a vacância. O episódio conhecido com “Massacre da Praia Vermelha” logo viria a acontecer. A barbárie arrombou as portas e quem pensava que a adrenalina era só diversão, se arrependeu.

Em 1967 Che Guevara é apanhado em emboscada na Bolívia e morre de olhos abertos.

O dia 21 de junho de 1968 foi o dia da “Sexta – Sangrenta” nas ruas do centro do Rio de Janeiro. De um lado os estudantes e parte da população começa a aderir as passeatas contra o regime militar. Bolinhas de gude faziam do outro lado, as tropas de cavalarias desequilibrarem, pedras e paus eram jogadas contras as ofensiva dos policias a pé ou nas viaturas e dos altos dos prédios, as pessoas em serviço sejam funcionário públicos ou da iniciativa privadas tacavam vasos de plantas, máquinas de escrever, cadeiras nas cabeças dos PM’s e um desses teve traumatismo craniano e morreu na hora. Era a hora do “Deus nos acuda”.

Em “68” especialmente marcante, Zuenir Ventura, embarcou na aventura de escrever um livre sobre essa, poderíamos dizer, época. 1968: O ano que não terminou. Por mais que estivéssemos em tempos de repressão, se não se tratava de uma mudança na política vigente, teríamos um Revolução Cultural, uma Segunda Semana de Arte Moderna em 1968. A liberação sexual estava plena, a pílula anticoncepcional era uma novidade e a AIDS logo chegaria pra acabar com a festa.

No próprio ano de 68 morre o estudante Edson Luís durante fechamento do restaurante calabouço. No dia seguinte, decretado como greves gerais dos estudantes, aproximadamente 50 mil participam do cortejo fúnebre. As palavras de ordem: Mataram um estudante. Podia ser seu filho”. A repressão ao movimento, gerou mortes e desaparecimento que continuam sem esclarecimento até os dias de hoje. A recente aprovada Comissão da Verdade irá tratar desse tema.

Em 26 de junho de 1968 devido ao recuo da Ditadura Militar, acontece a histórica “Passeata dos Cem Mil” da Cinelândia à Candelária. Trajeto inverso que durante o carnaval fazem o Cordão do Bola Preta e o Monobloco entre outros blocos. Os versos que embalavam as multidões eram das músicas Pra não dizer que falei de flores, Cálice, Alegria, Alegria e etc… Vindo dessa época repressiva, o período mais criativo da cena musical do Brasil.

Nesse intenso ano, é impedido o Congresso da UNE em São Paulo, na cidade de Ibiúna. Os estudantes se esforçaram pra aguentar os dias debaixo de chuva, horas nas filas pra uma alimentação feita por gente que nunca havia feito comida, se acomodarem numa infraestrutura que não suportava o contingente. Mais de 700 pessoas são presas entre elas, suas lideranças, Vladimir Palmeira, o presidente eleito Luis Travassos, José Serra, Franklim Martins e Jean Marc Von Der Weid. Dia 13 de dezembro é decretado o Ato Institucional n° 5 (AI-5).

Durante os anos de chumbo o movimento estudantil tendo suas lideranças presas ou exiladas, passou promover atos isolados. Num Congresso pequeno, Honestino Guimarães que era vice de Jean Marc Von Der Weid é eleito presidente em 1971. No ano seguinte desaparece. Nos cartazes espalhados pelas cidades os estudantes e artistas eram perseguidos implacavelmente pelo governo. O sentido da frase: “À menor suspeita avise o primeiro policial que encontrar”.

Como um desejo antigo da esquerda revolucionária que não acreditava na tomada do poder por vias pacífica e somente pela luta armada, quando o movimento estudantil estava de fato desarticulado, O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) um racha do PCB organiza uma guerrilha urbana que viria se conhecida como a Guerrilha do Araguaia. Estudantes, camponeses e militantes são decapitados pelas ações militares e seus corpos assim como os documentos desse episódio somem sem deixar vestígios. No exilo as pessoas enlouqueciam como a esposa de Juca Ferreira, ex- Ministro da Cultura. Outros curtiam França, Inglaterra, Polônia, Estados Unidos…

Os veículos de comunicação passam, quando noticiam os casos de morte, a “distorcer” como atropelamento de um estudante, ou no caso do professor da ECA, que esse teria cometido o suicido. O que era comum nos relatos do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI). Como foi forjado o assassinato do jornalista Wladimir Herzog, enforcado com a própria gravata.

Durante o 31° Congresso da UNE em Salvador (BA) quando é eleito Rui César Costa e Silva, é marcada a volta da entidade do modo clandestino, aplicado por Costa e Silva. Antonio Carlos Magalhães era o governador da Bahia e concedeu na época uma entrevista ao programa Abertura de Glauber Rocha.

ACM teria recebidos os estudantes com uma gravata vermelha em simpatia com o comunismo. Carlos Lyra pega um ônibus e também participa do congresso tendo regendo em coro pra mais de 5 mil estudantes, o Hino da UNE. O movimento estudantil adentrou o centro de convenções a pleno pulmões, no sentimento de um grito que estava entalado na garganta desde 64. Silvio Tendler documenta esses dias.

Embora o período militar já pudesse dar sinais que iria sair do “ar” o autoritarismo ainda viria a demolir o prédio da União Nacional dos Estudantes. Há anos havia metralhado a chicotadas e tacado fogo literalmente. Porém, se esqueceram de por abaixo o prédio símbolo e sede do movimento.

Com o regime perdendo força, em 1979 começa “As Aberturas” e as reivindicações para a “Anistia, ampla, geral e irrestrita”.

Em 1° de maio de 1981, no show que comemorava o Dia do Trabalhador, e com um público jovem e de estudantes, o que poderia ter sido o maior atentado terrorista, felizmente, acabou saindo pela culatra. Ingenuamente, tentaram acusar a esquerda de planejar o ataque, quando comprovou que o intento era renovar o autoritarismo que ia dando lugar a democracia “numa marcha lenta, porém gradual.” Golbery do Couto e Silva, consagrado com “O gênio da raça” e teórico na preparação para o regime militar, renunciou do Ministério da Casa Civil. A jornalista Belisa Ribeiro publicou o livro sobre o artefato Bomba no Riocentro. Assim como em 1968, com o livro 1968: o Ano que não terminou, poderemos considerar que os anos 80 ainda continuam pelos anos 2000 com o mesmo clima de “mormaço”. Belisa mantém um sítio na internet onde se tem um acervo do período de redemocratização do Brasil, e o papel da imprensa como plataforma de informações.

E a geração que compõe tanto o Movimento Estudantil e que trabalha com arte e cultura nasceram nesse mesmo período. Nas primeiras eleições, até as crianças foram contagiadas pelo clima, sem nenhuma dose de ingenuidade. Um menino de 6 anos e seu irmão mais novo de 3, puxavam um rap intitulado prefeito vagabundo.

Em 1984 começava o apelo para as “Diretas Já”. Em todos esses anos, com o povo tomando as ruas e as praças, no meio de todos os cartazes como “ABAIXO A DITADURA. POVO NO PODER” sempre se notou a bandeira da UNE e as faixas “ A UNE SOMOS NÓS, NOSSA FORÇA, NOSSA VOZ”.

Outros grandes protestos nas ruas acontecem. Em 1986 contra a dívida externa e 1987 à favor das Universidades públicas e gratuitas. Em 1992, explode outra vez o sentimento nacional, ainda que da classe média, nos rostos dos caras pintadas no Fora Collor, embora aí predominantemente, os estudantes eram secundaristas puxados pela UBES. As palavras de ordem eram: “Ai, ai,ai, empurra que ele cai”. O mesmo autor de prefeito vagabundo sobre a revisão de seu irmão mais novo que se tornou seu maior parceiro, Tiago Mocotó, escreve Hoje eu tô feliz, matei o presidente que foi censurado pelo Ministério da Justiça. Era o início de carreira de Gabriel, O Pensador.

Como alicerce pós-ditadura, Antônio Carlos Magalhães passou a ser o Ministro das Comunicações e o presidente da Nova República criou o Ministério da Cultura, pra que o Brasil seja “uma potência econômica, militar e política, também tem que ser uma potência cultural”, dando a pasta ao udenista José Aparecido de Oliveira. O que é estranho nisso tudo, é que se falou na Cultura quando supostamente a repressão terminou. Logo quando aconteceu o Golpe Militar, a primeira estratégia foi reprimir e censurar a Cultura…

No ano de 1999 a União Nacional dos Estudantes passa por outra renovação, pois vem daí a amostra da cultura que era feito dentro das universidades brasileiras. Nesse ano Ricardo Capelli era o presidente e propôs um convite, que foi aceitado, ao Fidel Castro pra participar do congresso em Minas no estádio do Mineirão.

V Bienal de Arte e Cultura da UNE em 2007com a proposta: “Brasil-África: Um rio chamado Atlântico”, temática da Bienal que retratou a diáspora africana onde participei da leitura dramatizada do texto Os Orixás de Abdias do Nascimento. Mesmo ano em que a União Nacional dos Estudantes completou 70 anos de existência e foi a vez dessa atual geração retomar o terreno do n°132 na Praia do Flamengo que era um estacionamento clandestino. “(…) A retomada da sede vai ser um marco na história do movimento estudantil” falei em entrevista ao jornal da Folha Dirigida. Aqui começou o meu contato com o Movimento Estudantil.

No ano de 2008, após a vinda do presidente Lula, do Ministro da Saúde José Gomes Temporão, do Governador Sérgio Cabral, entre tantos, é lançada oficialmente a Caravana da UNE Saúde, Educação e Cultura que percorreu os 27 estados da federação. Os atores do grupo teatral Tá Na Rua junto com o CUCA transmitiram, de maneira inteligente e com bom humor, as temáticas juvenis como o aborto, legalização das drogas, DST, Lei Seca, Reforma Universitária e etc; em propagação via Pontos de Cultura do MinC.

A Pedra Fundamental de construção do prédio da UNE e da UBES é lançada oficialmente no ano de 2010, com a presença de Lula, ministros, senadores e pessoas da vida pública, assim como o arquiteto Oscar Niemeyer que doou gentilmente o projeto.

Se o mundo todo está triste com as revoluções do século passado, a UNE é a própria ruptura desse processo histórico. Uma nova geração está amadurecida e até bem mais informada dos rumos que o mundo atravessa, e imerso nesse novo processo civilizatório que não por acaso foi teorizado por um dos maiores professores universitário em pleno 1968, Darcy Ribeiro. Essa geração atual vem cheia de vontade para cumprir seu papel, aliado dos novos artistas que emergem diante da tecnicidade.

Não é junto afirmar que vivemos no fim da História como querem acreditar que com a derrubada do muro de Berlim possa ser consideramente representada. Afinal de contas, um modelo social numa experiência de 72 anos não poder comparado com um outro modelo que vem reinando desde sempre, mudando apenas de nome.

Até da imaginária mordida na maçã proibida, dos tempos A.C ao D.C a doutrina que paira para suposta civilização humana é de quem deu as cartas, ou seja, os reis com suas leis. Humanidade em si, se tem os primeiros ensaios quando se depara com as instrumentalidades e ao seu favor, que tem sido tomada sob vias democráticas, na contra mão dos interesses do próprio Capital. Ou seja, é a própria prova que esse sistema não se sustenta e já nasceu com data de validade.

A retrospectiva da UNE e alguns “flashbacks” estão registrados, mesmo que em alguns instantes sejam “dejavús”, porém, a bandeira da UNE sempre esteve ao lado da bandeira do Brasil.

2011 termina com o pronunciamento oficial da presidência da República veiculado em cadeia nacional na televisão. A promessa foi que 2012 será melhor que 2011. E a palavra “Cultura” sequer foi citada. Nessas condições, não há pra onde correr, a nossa sobrevivência está em jogo. Teremos muitas lutas, estudos e trabalhos em 2012.

Paulo Mileno – Ator