A pessoa preta em situação de rua

Crédito: Rovena Rosa/Agência Brasil
O caso Givaldo está repleto de violências. Qual é a graça e a mensagem transmitida nos “memes” amplamente publicados e compartilhados nas redes sociais sobre o fato?
 
A migalha de afeto recebida por uma pessoa em situação de rua. A atenção carinhosa recebida por uma mulher. A doença mental que nos faz perder o limite da nossa responsabilidade afetiva num relacionamento.
 
Lembremos que no dia 14 de maio de 1888, surgiu uma camada da sociedade que desumanizada, precisava sobreviver. Livres, porém sem oportunidades. Sem políticas sociais inclusivas, sem emprego, sem moradia, passaram a viver na mendicância.
 
Se tornaram um problema social e eram chamados de vadios. Por causa desse termo, à época, 5 anos após a abolição, surgiu a norma que ficou conhecida popularmente como “lei da vadiagem”.
 
Pela lei, mendigar “por ociosidade ou cupidez” levava à prisão por 15 dias a três meses, podendo a penalidade ser aumentada caso comprovado que o ato era fraude ou fora realizado de modo “vexatório”.
 
Nesse contexto a periferia e a população em situação de rua adoecia. Entregavam-se ao que poderia aliviar tantas dores. O anestésico mais barato era a cachaça.
 
Esse aspecto estigmatizante acompanha a população em situação de rua até hoje. E o termo diretamente ao indivíduo preto, já que era a cor da pele dos ex-escravizados.
 
Os pretos e periféricos, com os seus comportamentos culturais e sociais tornam-se um risco à ordem pública. Tornam-se o suspeito padrão. Capoeiras, sambistas, religiosos… tudo que faziam estava associado à desordem.
 
Nas brincadeiras replicadas nas redes vemos alguns vídeos onde grupos de homens exaltam o “desempenho sexual” desse senhor. Sequer pensam nas questões afetivas, sociais e humanas que se atravessam o fato.
 
Precisamos ter cuidado… Conosco e com toda a sociedade.  Tais publicações estão reforçando a desumanização dos corpos femininos, negros e periféricos. Desumanizam na sua sexualidade, a sua liberdade de ter desejos, seus fetiches, seu direito aos envolvimentos e decepções afetivas.
 
É preciso não romantizar e não potencializar ataques ao que aconteceu e às pessoas envolvidas. A crítica ou a piada precisam estar alinhadas com a responsabilidade social que precisamos ter nas redes. Mesmo nos momentos de recreação.

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