A nossa dor tem uma só origem: a nossa pele PRETA (a Julio Barroso)

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Ontem (17), li o depoimento do irmão Julio Barroso, também colunista da ANF, sobre o dia do ocorrido de sua prisão indevida, de seu condenamento e do cumprimento da pena de mais de oito anos no sistema prisional do estado do Rio de Janeiro. Além da situação ter sido caótica, pois o irmão quase levou um tiro fatal, teve que lidar com outras violências: ser espancado, insultado e ameaçado. Tudo isso enquanto lutava para não morrer. E ao sobreviver, Julio ficou preso mais de oito anos. Isso mesmo. Preso injustamente, quase uma década. Isso porque helicópteros com quilos e quilos de pastas de cocaína rodam por aí e ninguém vai preso, nem ao menos interrogado. Justiça para quem mesmo?

Todos esses injustos acontecimentos que ocorreram com Julio, ocorrem todos os dias no Brasil. Todos os dias milhares de jovens, em especial pretos, são presos por essa polícia assassina, por essa máquina de matar. Ao terminar de ler o depoimento fiquei num misto de tristeza, solidariedade e ódio. Este último tem se potencializado ultimamente, aliás, desde o assassinato de Marielle e Anderson, e quero transformá-lo em luta, em resistência.

Meu choro tem sido catártico. Não um choro imobilizador, mas um choro que desnaturaliza a violência com nossos corpos. A colonização no Brasil deu tão certo que às vezes achamos normal esses tipos de acontecimentos com nossos irmãos pretos, mas não são. Pelo contrário, são ações racistas que querem culminar em nosso homicídio.

Chega de extermínio de nossos corpos, chega de violência contra nós. Quero que meu choro seja catártico, porque mais uma irmã concluiu o doutorado, porque mais um irmão está trabalhando recebendo um salário justo, porque mais uma mãe comemorou rodeado pelos seus filhos o dia das mães, porque mais uma criança vai poder ter um futuro seguro e digno. Ao terminar o depoimento do Julio Barroso, em um misto de sentimentos, pensei: “temos que acabar com essa forma social e construir outra em que a vida seja a prioridade”. Julio, o que você passou jamais terá volta, mas relatar esse episódio serve para dialogar entre os nossos que isso ocorre e precisa e vai acabar. Tamos juntxs, irmão.