A incrível capacidade de falar bobagem e inventar as mentiras mais estapafúrdias

Bolsonaro em visita a hospital de campanha em Goiás, estado governado por Caiado, médico que preferiu não dividir esse mico com o presidente - Foto da Presidência da República

Há uma competição dentro do governo federal para apurar quem fala mais bobagem. O general da Saúde disse outro dia que até pouco tempo nem sabia o que era o Sistema Único de Saúde, porque, conforme explicou na ocasião, ele também sempre utilizou o sistema público de saúde, mas do Exército, no qual nunca se ouviu falar em superlotação, falta de insumos, pessoal ou verba, reclamações dos usuários.

Dias antes, tinha declarado para quem quisesse ouvir que os testes de Covid são responsáveis pelo aumento dos casos, porque se ninguém for testado os números vão diminuir. Devia se envergonhar o general Pazuelo e evitar declarações desse naipe, que só deixam a nu seu despreparo de milico num país de paisanos pobres. Outra da sua lavra foi “Se o processo eleitoral nas cidades, com todas as aglomerações e eventos, não causa nenhum tipo de aumento da contaminação, então não me falem mais em afastamento social”. Com certeza rumou para uma das praias lotadas na orla carioca. Foi Pazuelo quem decretou, qual imperador de mentirinha, que “precisamos compreender de uma vez por todas que nós só aplicaremos vacinas no Brasil registradas na Anvisa”. Para mim sempre foi claro que a agência está aí pra isso mesmo. Convém é acelerar o registro para o começo do ano que vem e parar de chamar a Coronavac de “vacina do Doria”, se não quisermos passar mais um recibo de republiqueta sul-americana cujo setor de saúde é comandado por um milico fardado, em vez de médico.   

Na véspera ou antevéspera destes rompantes de sinceridade, o presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, num rasgo semelhante, admitiu que só agora aprendeu que no Brasil há pessoas vivendo em lixões, coisa que jamais passaria por sua cabeça. E ninguém protestou, virou a lata de lixo da sua casa nem questionou suas credenciais para estar à frente do maior banco social brasileiro. 

A credencial dele é uma apenas: é filho do empreiteiro Leo Pinheiro, da OAS, preso por Sérgio Moro na Lava Jato e solto depois de assinar delação premiada implicando Lula em corrupção da sua empresa. Em depoimento anterior, tinha deixado o ex-presidente de fora da delação, e como castigo continuou na tranca mais um período no frio curitibano pra aprender o que é bom pra tosse. A presidência da Caixa foi o agradecimento a Leo Pinheiro pelos serviços prestados à operação. O próprio Moro, lemos na imprensa, é o mais novo contratado do escritório americano responsável por administrar a recuperação das empreiteiras que ele, quando juiz de piso, levou à bancarrota com perseguições implacáveis. “Juiz de piso”, a propósito, é como são chamados magistrados de primeira instância, aqueles que muitas vezes se nivelam aos do futebol. Bem, aí está o fio da meada, basta puxar e desenrola-se o imenso novelo, o emaranhado de desmandos e de absurdos do governo e de seu entorno.

Como entorno é claro que nos referimos aos filhotes do presidente, ladrões de salários, milicianos que mataram Marielle,  destaques do gabinete do ódio. São mosqueteiros na defesa da injustiça, da desigualdade, da invenção e divulgação de notícias falsas que embalam o sono dos ainda simpatizantes do seu pai, grupo cada dia mais restrito. O deputado federal Eduardo Bolsonaro, por exemplo, acabou de afirmar que o número de desempregados sobe porque este vasto contingente se recusa a trabalhar apenas para boicotar o presidente da república. Pessoas decentes não foram às ruas calar a boca do deputado, mandá-lo à merda ou lugar menos recomendável. Antes, o mesmo Eduardo tinha escrito no twitter o seguinte:  

O governo de Xi Jinping respondeu pela sua embaixada em Brasília em termos duros: “Na contracorrente da opinião pública brasileira, o deputado Eduardo Bolsonaro e algumas personalidades têm produzido uma série de declarações infames que, além de desrespeitarem os fatos da cooperação sino-brasileira e do mútuo benefício que ela propicia, solapam a atmosfera amistosa entre os dois países e prejudicam a imagem do Brasil. Acreditamos que a sociedade brasileira, em geral, não endossa nem aceita esse tipo de postura. Instamos essas personalidades a deixar de seguir a retórica da extrema direita norte-americana, cessar as desinformações e calúnias sobre a China e a amizade sino-brasileira, e evitar ir longe demais no caminho equivocado, tendo em vista os interesses de ambos os povos e a tendência geral da parceria bilateral. Caso contrário, vão arcar com as consequências negativas e carregar a responsabilidade histórica de perturbar a normalidade da parceria China-Brasil“.

O episódio protagonizado pelo intrépido deputado filhote provocou comentário oficial do governo insinuando que talvez a China devesse trocar o embaixador no Brasil por alguém mais diplomático – o que vindo do presidente que já advertiu os Estados Unidos que “acabada a saliva, resta a pólvora” parece piada, mas vamos em frente, os chineses venceram o duelo graças a ameaças concretas. Consta que papai Jair puxou a orelha diminuta de Eduardo e mandou parar com as provocações e que ele não gostou, porque, afinal, posta nas redes o que os intestinos do Palácio do Planalto pensam – infelizmente, para nós.