“A história que a História não conta”

Créditos: Davi Ferreira

Penúltima escola da noite, a Estação Primeira de Mangueira trouxe para Sapucaí o enredo “História para ninar gente grande”, com a proposta de repensar a história do Brasil que estamos acostumados a ouvir. Foi uma narrativa baseada nas “páginas ausentes”. Se a história oficial é uma sucessão de versões dos fatos, a do o enredo proposto foi um lado B. O que é convencionado nos faz entrar num jogo no qual geralmente se “torce” para quem “vence”. Esquecemos, porém, que quase sempre os vencidos somos nós.

De autoria do carnavalesco Leandro Vieira, que está por lá desde 2016, ano da última conquista da escola, a música foi uma forma de desconstruir a história do Brasil que a elite propagou e ainda propaga. Ao longo dos nossos mais de 500 anos, a narrativa tradicional escolheu seus heróis, selecionou os feitos bravios, ergueu monumentos, batizou ruas e avenidas. Ao mesmo tempo, desvalorizou e condenou quem deu, literalmente, o sangue para construir o país, como os índios, negros, mulatos e pobres. Estes não viraram estátua.

A letra do samba citou ainda a vereadora Marielle Franco, assassinada brutalmente em março do ano passado, no trecho: “Brasil, chegou a vez / De ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês”. A arquiteta Mônica Benício, viúva de Marielle, o deputado federal Marcelo Freixo e o vereador Tarcísio Motta desfilaram à frente da última ala.

Uma novidade da escola para esse ano foi a primeira musa trans da Mangueira, Patrícia Souza, de 25 anos, que quebrou os paradigmas de uma escola tradicional. A bateria “Tem que respeitar meu tamborim”, do mestre Wesley do Repique e da rainha Evelyn Bastos, acompanhou o intérprete estreante Marquinhos Art’Samba.

A verde e rosa do Morro da Mangueira é uma das maiores escolas do samba brasileiro. Foi fundada em 1928, por um grupo que contava com Cartola. O nome da agremiação, inclusive, foi escolhido pelo lendário sambista, por ser na época, a Estação da Mangueira, a primeira no trajeto entre a Central do Brasil e o subúrbio carioca, onde havia samba. Vários artistas estão ligados à Mangueira, como Jamelão (intérprete deles por mais de 50 anos), Leci Brandão, Alcione, Maria Bethânia, Chico Buarque, Mart’Nália, Péricles e Ivo Meirelles. A escola é a segunda maior vencedora da história do grupo especial, tendo 19 títulos, o último conquistado em 2016. No ano passado, conseguiu o 5º lugar. 

Com um desfile de muita emoção, e quase perfeito, seguido de gritos de “É campeã!” ao seu final, a Mangueira desponta como a favorita para levar seu 20° título em 2019.