A força dos povos indígenas e a resistência ao genocídio no Brasil

foto: arquivo pessoal da Nyng Kaingang

O Brasil é o país que mais matou indígenas na América Latina, na chegada dos colonizadores no ano de 1500 a população de índios era cerca de 4 milhões, atualmente são maios ou menos 1 milhão de indígenas espalhados pelo país, organizados em 250 etnias e ocupando 13,8% do território nacional, segundo os dados divulgados pela Funai (Fundação Nacional do Índio -2018). Essas estatísticas junto a falta de inclusão dos povos indígenas na dinâmica do país torna a situação desses povos bastante vulnerável.

De acordo com a antropóloga Helena Baptista, professora da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), a diferença do tratamento e inclusão dos povos indígenas no Brasil para os outros países da América Latina acontece principalmente pela forma de independência “ Em muitos países das Américas a luta pela libertação foi mais popular, guiada por revolucionários como José de San Martín e Somón Bolivar e tinham como mote a justiça social e igualdade de direitos. Já no Brasil, a independência aconteceu de forma mais elitista, guiada pelas decisões das autoridades e do próprio colonizador Dom Pedro I.” afirma Baptista. Além das características da independência do país a antropóloga também frisa as diferenças entre os índios brasileiros e outros povos indígenas das Américas. “ O Brasil tem um grande território fértil, o que tornou nossos índios nômades, sem apego ao território. Em outros países havia muito disputa por terras férteis, o que tornava os povos mais agressivos. Os índios brasileiros foram surpreendidos pela agressividade dos colonizadores”. Explica a antropóloga.

Hoje as principais lutas dos povos indígenas são por seus direitos que são constantemente atacados por latifundiários, mineradoras, usinas e industrias, o que acaba gerando a migração para as cidades. De acordo a Nyng Kuitá Kaingang a maioria dos indígenas vive na extrema pobreza. “Normalmente habitamos áreas de risco, favelas, vivemos de artesanato, empregos sem carteira e até trabalho infantil”. Afirma Nyng, líder da comunidade Kaingang em Curitiba. Ela ainda afirma que o preconceito a principal barreira enfrentada por todo o país “Não temos acesso a saúde na cidade, quando procuramos as unidades de saúde ou CMEIs (Centro Municipal de Educação Infantil) os técnicos nos mandam procurar os serviços da Funai, como casa da saúde indígena ou escolas em aldeias que nem sempre existem e quando existem são precárias”. Conta Nyng kaingang.

Outro problema apontado pela comunidade e por historiadores é forma da exploração das terras e trabalho indígena, o historiador Cézar Bueno afirma que os territórios são riquíssimos em riquezas naturais como bom solo e até matéria prima para jóias. “ A lógica de exploração continua a mesma da colonização, não há preocupação com a cultura e nem com a vida dos povos originários”. E ainda segundo o historiador essa lógica faz com que os indígenas se tornem ainda mais vulneráveis em território urbano, uma vez que eles não têm recursos para se manterem e também não tem liberdade para expressar suas culturas.

Apesar no cenário caótico de genocídio dos povos indígenas Nyng Kaingang é otimista com a luta “ nós indígenas contamos com uma rede gigantesca de índios e não índios que defendem a nossa vida e nossos costumes, nós sobreviveremos ao extermínio e ao ódio aumentado por esse presidente”.

No semana do índio, precisamos pensar a forma como racismo atinge os povos indígenas, encarar o genocídio dessa população ao longo dos séculos e pensar os índios brasileiros como sujeitos políticos  e garantir seus direitos.