A força das favelas no carnaval do Rio

Créditos: Julianne Gouveia / ANF

Se o carnaval do Rio é tão espetacular e especial, ele deve muito para as favelas cariocas. E como deve. Afinal, foi da favela que saíram nomes como o de Silas de Andrade, Nelson Sargento, Candeia, Cartola e tantos outros grandes vultos que criaram ou ajudaram a criar as chamadas Escolas de Samba, que são a atração mais concorrida do carnaval carioca. E é o trabalho e apoio de milhares de moradores de comunidades, que tornam possível esse grande espetáculo.

Apesar de ser filho de uma cantora que puxou o samba da Beija-Flor de Nilópolis algumas vezes, esse universo era totalmente estranho pra mim. Há 10 anos, trabalhei como decorador de carros alegóricos do Império Serrano e a devoção e a dedicação que os colaboradores têm com a escola é muito marcante. A primeira vez que cheguei perto do desfile na Marquês de Sapucaí foi naquele ano. Dos ferreiros e torneiros mecânicos, passando por aderecistas, cozinheiros e serventes, praticamente todos moravam em favelas. O carnaval é o momento em que o morro desce, como bem lembra Wilson das Neves.

Lembro bem da apreensão dos empurradores dos carros alegóricos, todos eles da Serrinha. As tias da favela que chegavam com as nossas quentinhas também estavam bastante ansiosas, afinal, era o retorno da escola ao Grupo Especial e trazia um remake do histórico desfile “Aquarela do Brasil”. Mas vi essas coisas bem antes da escola entrar na avenida.

Ontem, na concentração das escolas pelo segundo ano para a Agência de Notícias das Favelas, tive a oportunidade de ver de perto as reações dos integrantes do desfile. O pessoal da favela tem uma postura completamente diferente dos turistas estrangeiros e pessoas que só querem “causar” na avenida. É emocionante demais ver as senhorinhas que saem de baianas fazerem aquela última prece para que tudo corra bem. Ou a concentração dos ritmistas, que mais se parecem com guerreiros prestes a entrar numa arena para defender suas vidas e honra. Ou as alas mirins com as crianças cônscias de suas responsabilidades, mas levando aquilo com a leveza que só a infância nos dá. Da porta bandeira e o mestre sala, passando pelo puxador de samba até a diretoria de harmonia e presidente, é muito fácil distinguir quem é do morro pra quem é do asfalto.

Se não fosse o morro e a favela, o nosso carnaval não seria tão maravilhoso! Viva as favelas de todo o Brasil!