A coletividade dos quilombos e a importância de amar

Nos quilombos as experiências eram distantes da individualista colonial - Imagem: Reprodução

“Quando encaro essa imagem, esse olhar negro, algo em mim se despedaça. Eu preciso recolher os pedaços e cacos de quem sou e começar tudo outra vez – transformando a minha imagem”. Esta fala se encontra no livro “Olhares Negros: raça e representação”, da professora Bell Hooks. Nela é possível observar a resistência do povo preto, presente em todas as outras obras da escritora.

Em seus livros, Hooks não deixar de evidenciar os mecanismos de opressão que permeiam a vivência negra. Ela sinaliza a importância de olharmos para as nossas trajetórias com cuidado, evidenciando, também, a importância do saber teórico como prática de cura das opressões, passando pela conscientização através do reconhecimento.

Sendo seres adaptáveis e moldáveis, as nossas experiências sofrem diretamente a influência de outras pessoas. Emicida em sua música “Cananéia, Iguape e Ilha Comprida”, canta “Metrópoles sufocam, são necrópoles que não se tocam / Então se chocam com o sonho de alguém/ São assassinas de domingo a pausar tudo que é lindo/ Todos que sentem isso são meus amigos, também”. O artista nos mostra que existimos no encontro, no cuidado, na troca, no partilhar.

O pastor Martin Luther King Jr já afirmava em sua autobiografia que: “há na unidade um poder impressionante. Onde existe uma verdadeira unidade, todo esforço de desunir serve unicamente para reforçá-la. O que os opositores não conseguiram ver é que nossos sofrimentos comuns nos haviam embrulhado num único invólucro do destino. O que acontecia com um acontecia com todos”. Mediante ao encontro, a partilha nos possibilita a cura e paralelamente a reconciliação, visando o bem estar de todos em suas diferenças.

Coletividade dos quilombos

Contrapondo-se à lógica individualista e sobretudo colonial, a perspectiva abordada tanto por Luther King, quanto por Emicida, carrega em si um aprendizado importante na sinalização da vida pela coletividade e especialmente a vida para a coletividade. Elas nos mostram que a relação pregada como utópica, pode ser ferramenta prática.

Os Quilombos nos mostram os locais nos quais os indivíduos possuíam experiências únicas e distantes da experiência individualista colonial. O estado que gostaria de destacar se chama, Ngola Janga, comumente chamado de Quilombo dos Palmares, obtinha uma estrutura política, econômica, social e cultural. Segundo o escritor, sociólogo e jornalista Clóvis Moura observou em sua pesquisa, o domínio territorial ocupado por Ngola Janga, equivalia a um terço do território de Portugal.

Relembrar a memória e coletividade dos quilombos, é reviver a atitude de amar.

*Este texto trata-se de uma opinião da autora.

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