Passei um fim de semana com pessoas incomuns. Quer dizer: incríveis.
Aconteceu em Jacarepaguá um grande festival de música autoral, promovendo artistas e compositores da Zona Oeste, e inserindo-se num projeto bem maior de economia sustentável, revitalização de espaços públicos e animação cultural do bairro. Estou falando do “FES-Tival” da Taquara, organizado pelo coletivo da Feira de Empreendedores Sustentáveis, do JPA Eu Te Amo. Apesar do mau tempo, foram três dias lindos de festa e energia boa, envolvendo um bando de gente e deixando o público encantado.
No domingo, dei uma escapada para acompanhar na Glória a Trupe RÀIS, cortejo de palhaços convidado pelo Festival Anjos do Picadeiro, que leva alegria nas feiras e coleta a xepa para cozinhar um imenso rango coletivo para moradores de rua. Além da diversão, foram cerca de 100 pratos servidos em baixo dos arcos da Lapa no final da tarde.
Apesar de muito diferentes, essas duas iniciativas tem algo em comum: elas foram levadas do começo até o fim por “simples” pessoas. Pessoas que resolveram dedicar seu tempo e/ou dinheiro como se fossem ilimitados e sem nenhuma ambição lucrativa. Mais surpreendente ainda nos tempos de hoje: sem estar agindo em nome de nenhuma igreja, empresa ou partido, e (sobretudo!) sem a mínima autopromoção.
Fazendo isso, elas não ganharam muito mais do que tímidos agradecimentos de alguns (des)conhecidos e, talvez sem saber, a imensa admiração de muitos amigos.
Mas eu não duvido que domingo à noite, cada uma delas foi dormir com aquele sentimento pleno e tão merecido de ter feito algo foda e de ser fodástica. Podem chamar isso de orgulho. Eu chamo de felicidade.
Ontem, segunda-feira, presenciei na Tijuca o lançamento de um livro que, casualmente, retrata pessoas que têm tudo a ver com os meus parceiros do fim de semana.
“Cariocas de verdade – Histórias transformadores”, do fotógrafo Ricardo Siqueira que recorreu diversos lugares do Rio de Janeiro em busca de projetos ambientais, sociais, culturais e solidários para homenageá-los numa publicação. “Descobri que essas iniciativas eram pouco retratadas, conta o autor. A gente até sabe que elas existem mas elas têm pouca divulgação. Assim tive a ideia de promovê-las através da fotografia, reunindo vários personagens num livro só.”
Essas pessoas que agem com intenções tão diferentes das lógicas do poder e do dinheiro, são pérolas raras na sociedade atual. Mas nem tão difíceis de compreender. Pensa bem: quem nunca viveu essa experiência de parar para ajudar alguém e se sentir muito melhor depois? Talvez a própria essência do ser humano esteja justamente nessa generosidade espontânea e desinteressada, nessa capacidade de tornar-se de repente um anjo da guarda e sentir prazer nisso. Nessa busca da felicidade que move o mundo e poderia, quem sabe, mudá-lo.