Contra os decrépitos

airá grafite

O Rio de Janeiro finalmente reconheceu o graffiti como uma importante manifestação cultural para a cidade, e em meio as polêmicas que se sucederam desse fato, como grafiteiro há 15 anos, resolvi dar a minha opinião a respeito. Sei que esse é um projeto elaborado cuidadosamente, com uma visão progressista e voltada pro bem comum, tanto da cena do graffiti, quanto da cidade. Pra montar esse decreto Rio Graffiti, foram ouvidos em reuniões vários nomes experientes da cena do Rio (os que tiveram iniciativa de chegar junto), foram consultados outros modelos de projeto semelhantes, foi mantida uma postura de total abertura a discussão, para que esse documento pudesse representar a vontade legítima dos artistas urbanos do Rio. Sei que a cidade está cheia de problemas e sofro com eles, mas é preciso enxergar que a Prefeitura é um corpo composto por vários membros e que esses membros funcionam uns melhores, outros piores, uns com vontade e outros sem. Posso falar que o time envolvido nessa iniciativa não é político, é originário das ruas e voltado a atendê-las. O discurso que apresentou o Decreto, deixou claro que ele é um ato simbólico para o reconhecimento da importância dessa manifestação artística perante a sociedade e os órgãos do governo. Isso, internamente vai facilitar o entendimento por parte de burocratas e de trâmites processuais, auxiliando artistas e produtores que quiserem realizar projetos pra cena, assim como desmarginalizando a visão das forças de ordem pública a respeito da nossa atividade. Ficou claro que o intuito de forma alguma é criar uma repressão ou “caçada” aos artistas ou os seus graffiti. Se foram estipulados locais próprios para a prática, isso é uma conquista, antes não tínhamos nem possibilidade do diálogo. Quanto aos locais que não estão liberados, bem, se já temos um precedente, fica mais fácil conseguir outros… tudo acontece num processo… Quem pintar em qualquer local da cidade está passível de ser apagado e é assim em qualquer lugar do mundo. A diferença é que agora a cidade manifesta interesse em preservar a nossa arte, mas realmente isso não se mantém em qualquer lugar que quisermos, é até hipocrisia pensar assim. O graffiti tem caráter autoritário, ocupa sem permissão… mas também pode ser apagado sem permissão, ponto. Isso sempre fez parte do jogo… só que agora teremos uma maior sensibilidade e boa vontade dos responsáveis por essa manutenção. Não estou aqui defendendo a Prefeitura. Defendo sim um projeto idôneo, desenvolvido pra atender o nosso meio do graffiti e que antes de ser lido ou compreendido vai sendo condenado sem embasamento. Os tempos estão mudando, a sociedade, o modo de trabalhar, a política… mudemos também a nossa forma de reagir ao novo… mais visão crítica e menos maniqueísmo… O trabalho está só começando… Vamos com tudooo!!!