41º BPM: Ódio às mulheres negras faveladas

Créditos: Reprodução da internet

Chão de sangue na escola. Correria no pátio. Precisamente há um ano, a estudante Maria Eduarda, 13 anos, foi executada, no final tarde do dia 30 de março de 2017, dentro de uma escola municipal localizada no morro da Pedreira (região da Pavuna), no momento de intervalo de um jogo de vôlei quando bebia água. Os policiais que a atingiram numa operação pertencem ao 41º Batalhão conhecido como “Batalhão da morte”, o mesmo que executou cinco jovens menores, há 2 anos, no bairro de Costa Barros disparando 111 tiros na direção de um carro. A menina foi atingida na escola por quatro tiros. O desdobramento do caso provocou nas redes sociais inúmeras interpretações de sua morte, na medida em que diversas pessoas afirmavam que a mesma havia morrido por possuir um relacionamento afetivo com pessoas envolvidas na criminalidade. Estes sustentavam seus argumentos de maneira contundente sem checar tais informações, responsabilizando a vítima por seu fim brutal.

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Numa cruel coincidência, neste ano, no mês de março (sempre dedicado às reivindicação das pautas políticas das mulheres), a vereadora Marielle Franco, 38, e seu motorista Anderson Gomes foram covardemente assassinados no dia 14, no Centro do Rio. Marielle, assim como Maria Eduarda, teve quatro tiros alvejados em seu corpo(todos na cabeça). Quinta vereadora mais votada do Rio de Janeiro, tornou-se uma inspiração na luta das mulheres negras nos movimentos sociais, reacendendo no espaço da Câmara Municipal a construção de uma política do diálogo da luta nas ruas. Levantou bandeiras fundamentais relativas ao direito das mulheres, negros e população LGBT. Contudo, o cerne fundamental da sua atuação enquanto parlamentar se concentrava na defesa dos Direitos Humanos, denunciando o processo de militarização das vidas e genocídio do povo favelado cotidianamente. Quatro dias antes de ser assassinada, Marielle Franco denunciou nas redes sociais a morte de dois jovens na favela de Acari e a conduta do 41º Batalhão em operação no dia. Novamente o corpo negro feminino teve sua imagem difamada e sua morte culpabilizada nas redes sociais por inverdades relacionadas à criminalidade. Embora a motivação e os autores do crime ainda sejam uma incógnita que o país inteiro deseja desvendar, os indícios de hipóteses de autoria relacionados a este batalhão não devem ser descartados. Porém, seria irresponsável afirmar com tamanha propriedade a autoria destes atores no assassinato diante deste alarmante crime político que chocou o mundo.

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Atualmente, a militante negra de movimentos sociais, integrante do coletivo “Fala Akari” e estudante de Ciências Sociais “Buba”, 25, moradora da favela de Acari vem sendo constantemente ameaçada por denunciar nas redes sociais e na atuação da sua militância a verdadeira chacina que este batalhão promove constantemente. Já teve que mudar seu local de moradia temporariamente fora da favela de Acari, além de ter sofrido sequestro relâmpago em abril de 2016. Na página “Fala Akari”, Buba, junto com seus companheiros do coletivo, deixa visível toda a dor e descontentamento dos moradores da favela com relação a truculência e covardia do 41º batalhão. Desde 2013, segundo o Instituto de Segurança Pública no Rio, o mesmo batalhão é recordista em homicídios e a média anual foi de 57 mortes. No ano passado, foram 69 registros.

Maria Eduarda, Marielle, Buba. O que elas tem em comum nas suas narrativas?

IMG-20180325-WA0007Mulheres negras, faveladas e de diferentes gerações afetadas pela violência do Estado. Há uma frase da pesquisadora Jurema Werneck em que ela diz: “ Ser mulher negra no Brasil é sinônimo de resistência”. A sua inserção, seja no mundo do trabalho, nos espaços públicos ou na atuação política é sempre subestimada ou preterível no campo das disputas de poder. No entanto, são as mulheres negras na favela que “movimentam as estruturas sociais” da cidade, transformando o luto em luta cotidianamente e criando redes de resistência contra a militarização da população preta e favelada. Grupos como “Mães de Maio”, em São Paulo, e “Rede Contra a Violência”, no Rio de Janeiro, se articulam prestando solidariedade às mães vítimas de violência do Estado e fortalecendo-as na denúncia das vítimas e defesa dos Direitos Humanos dos favelados.

A tentativa das corporações policiais em tentar silenciar a voz destas mulheres no cotidiano é inútil. O grito das mulheres negras e faveladas estremece as barreiras da exclusão, abrindo brechas para a construção de uma sociedade mais democrática. Embora elas sejam triplamente estigmatizadas por sua condição de mulher, questão racial e local de moradia, suas redes se multiplicam como “sementes”, deixando florescer na favela uma grande primavera da resistência.

Que muitas Marielles se multipliquem no seio da resistência política e de um mundo mais justo, que Marias Eduarda possam conquistar acesso a universidades públicas, movimentando a pirâmide social e que a luta de Buba Aguiar seja fortalecida a cada dia por todos nós.

MULHER NEGRA RESISTE!!!