Rio de Janeiro comemora 50 anos da cultura hip hop

Rapper Bebel du Guetto cantando na Lapa
A rapper maranhense, Bebel du Guetto, fez seu nome na Lapa, no Rio de Janeiro - Foto: Tiago Nascimento/ ANF

“No dia 11 de Agosto completam 50 anos da realização da primeira festa de Hip-Hop. Em 1973 em Nova York, jovens se juntaram para expor arte e pacificar as guerras entre as gangues que ocorriam na época. O Hip Hop é a junção de cinco elementos (Grafite, Breaking, DJ, MC e o Conhecimento) que trazem a reflexão e luta pela emancipação da juventude periférica em todo o mundo“.

Trecho do panfleto do movimento Construção Nacional da Cultura Hip Hop, em comemoração ao cinquentenário do Hip-Hop, Rio de Janeiro, 11/08/2023.

 

As Block Party, primeiras festas de Hip-Hop realizadas por jovens do Bronx, Nova York, trouxeram espaços de manifestação artística e de levantamento da autoestima de jovens afroamericanos e latinos.
Nelas, com a ocupação do espaço público e o pertencimento ao território da periferia, foi criado um movimento cultural capaz de lutar pela desigualdade racial e social em todo o mundo.

Mais tarde, em 12 de novembro de 1973, em Nova York, foi fundada pelo DJ Afrika Bambaataa a ONG internacional Zulu Nation, precursora da promoção da cultura Hip Hop como ferramenta para manter os jovens longe do crime e da violência.

Através da Zulu Nation o movimento começou a se organizar internacionalmente para a promoção da paz, amor, união, diversão e levantar campanhas antiracistas. Um exemplo da importância da atuação do Afrika Bambaataa foi em sua visita a Medellín, Colômbia, na época em que os cartéis decretaram cessar fogo para recebê-lo e falar de paz.

Hip hop no Rio de Janeiro

Aqui no Brasil, temos como referência da Zulu Nation o DJ TR Zulu King, um dos principais responsáveis por trazer a cultura Hip Hop para o Estado do Rio de Janeiro.

TR foi apresentado ao Hip-Hop nos anos 90 por MV Bill, é autor do livro Acorda Hip Hop e luta constantemente por políticas públicas de valorização do jovem periférico. Segundo ele, “o hip hop é uma cultura que vem de lá dos Estados Unidos para cá, mas que se transforma de acordo com a cultura local”.

“Tem gente que é hip hop, tem gente que está. Eu quero ser”, diz TR Zulu King.

“Eu sei que a porra do racismo domina o Brasil. Não tem jeito, sempre somos marginalizados. E na mão dos fardados nós somos espancados. Nos chamam de crioulo ou então de negão. Dizem que onde moramos é escola de ladrão. Não são dignos de pena, esse animais. O sistema de racismo é muito eficaz”

Trecho de Racismo Eficaz (MV BILL, Grupo Geração Futuro), primeira faixa da Coletânea Tiro Inicial

A cidade do Rio Janeiro nunca compensou os crimes cometidos durante a colonização. O Cais do Valongo, centro do Rio, recebeu desembarque de pelo menos 3,6 milhões de pessoas escravizadas entre 1758 a 1831, que mais tarde foram obrigadas a organizar suas vidas nas periferias e nas favelas.

Até hoje o Estado pune, mata e extermina as mesmas pessoas que colocou em situações precárias. A desigualdade social, falta de distribuição de renda e o mito dos marginalizados, descrito por Janice Perlman, são um projeto.

Através do mito do marginalizado que o samba, o funk e o hip hop foram tratados, para o Estado brasileiro, como coisa de marginal, de vagabundo, bandido e de vadio. As instituições brasileiras são racistas e a Policia Militar, míope: não pode ver um favelado que chega atirando, não reconhece a cultura produzida na periferia e não trata o favelado como ser humano.

Capa da Coletânea Tiro Inicial, 1993, que lançou nomes como MV Bill, Gabriel Pensador, DJ TR, Damas do Rap e outros mestres do Hip Hop. São 30 anos.

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