24 dias sem resposta

Crédito: Priscila Barbosa / ANF

No último dia 5, no Centro do Rio, um aglomerado intenso de jovens e mulheres se concentrava na Lapa.

O objetivo de dialogar sobre os últimos acontecimentos políticos do estado e do país levou pessoas de vários pontos da cidade a se unirem e entender quais os próximos passos, diante das atrocidades recentes que se acumulavam em nossa garganta. Muitas vezes impedindo um grito e nos fazendo enxergar impotentes.

No meio da conversa, alguém grita em plena multidão.

“Paz?! A gente não quer paz, a gente quer guerra. Levaram uma das nossas covardemente, a sangue frio e você me pede para lutar pela paz?”

A voz que ecoava no salão lotado era forte, potente e vinha de um corpo cansado de gritar, mas com muito a ser dito. Era a voz de uma mulher. Uma mulher negra.

Seguimos com nossa alma armada, apontada bem na cara do sossego. Mas o que queremos, não seria paz? Será que já não nos tiraram todo o sossego de uma vida sem medo?

Embora os objetivos sejam comuns, as estratégias divergem e nos fazem perder o foco, e foco é o que mais precisamos ter nesse momento.

É hora de se alimentar de estratégia.

Afeto é estratégia. Silenciar enquanto mapeia o caminho é estratégia.

É necessário entender qual a paz que não queremos conservar, pra tentar ser feliz.

Quantos de nós já morreram socialmente? Andando com seus corpos pelas ruas, mas sem perspectiva de futuro, de vida ou de ideias na mente? Quantos de nós têm apenas a estrutura corporal como recipiente, mas anda com as emoções e a visão de futuro destroçada?

Pelos 24 dias sem resposta, seguimos não admitindo. Ecoamos em todos os cantos do país e do mundo que vamos nos manter vivos. Não vivos apenas fisicamente, como prioridade, mas com nosso emocional e psíquico prontos para ganhar a guerra estrategicamente.