O fantasma do Riocentro assombra militares golpistas

Peritos civis examinam a cena do atentado falhado no Riocentro em 1981 - Foto Arquivo

“Verdade indiscutível é que um grupo radical (…) desencadeou ações terroristas múltiplas obedecendo a linhas hierárquicas distintas das legais e legítimas e que se estendem não se sabe até que níveis superiores dos escalões governamentais (…) O simples saber ou mesmo desconfiar da intenção da prática de atos terroristas por parte de terceiros implica, em muitos casos, certa dose de responsabilidade pessoal para quem busque intervir, seja mesmo para contenção ou fazê-los abortar, ou sequer omitir-se de qualquer providência.”

O parágrafo acima não foi extraído de correspondência entre os elevados escalões do Exército em função dos atos terroristas praticados no dia 8 de janeiro em Brasília, mas é transcrito apenas para mostrar quão comum e antigo é o viés nas forças armadas de esconder debaixo do tapete a verdade que virá à tona um dia, afinal.

O texto foi escrito pelo ministro da Casa Civil do general-presidente João Figueiredo no dia 4 de julho de 1981, dois meses depois da explosão da bomba no colo do sargento que a montava dentro de Puma para detonar durante o show do Trabalhador, no Riocentro.

Em dois meses de investigações confusas, contraditórias e muitas vezes simplesmente mentirosas, todas as evidências apontavam para terroristas militares do Rio de Janeiro, por isso Golbery pegou o boné e deixou o governo para não participar da covardia de Figueiredo em não enfrentar os bolsões radicais da direita.

Esta é a situação que vivemos hoje: grupos de extrema direita dispostos a tomar o poder através de golpe militar derrubam torres de transmissão de energia, invadem prédios públicos na capital nacional, promove indisciplina e ruptura da hierarquia onde são princípios basilares, orientam civis aprendizes de terroristas a manipular explosivos e incentivam o descumprimento de ordens contrárias aos interesses subversivos e antidemocráticos.

De ação em ação, esses grupos já levaram à demissão do comandante do Exército em menos de um mês de governo por se recusar a afastar do comando o coronel até há pouco Ajudante de Ordens do antigo presidente e precipitaram a limpeza nos gabinetes, salas e corredores dos Palácios do Planalto e da Alvorada, de onde saíram em revoada mais de 50 militares nomeados no período infausto. Lembrando sempre que estas foram ações de conhecimento público; outras muitas há que ocorrem nos bastidores do poder.

Quando Lula age da maneira como demitiu o general que acabara de nomear para o comando do Exército, dá a resposta exata ao problema no âmbito militar, onde insubordinação é inadmissivel, mas também diz a toda a sociedade que uma nova ordem está no comando da nação, por vontade dela, e que por isso ela lhe deve o respaldo às providências difíceis que virão por aí. Todas as instituições civis, das estudantis às empresariais, tem a obrigação moral de dar suporte ao governo para afastar de vez  o fantasma do retrocesso, que ainda está vivo e ativo.