Zuenir Ventura faz na ABL a segunda palestra do ciclo ‘Rio de Janeiro, 450 anos’

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No dia 12 de maio de 2015, na Academia Brasileira de Letras (ABL), o jornalista e Imortal Zuenir Ventura proferiu uma palestra em um evento do ciclo “Rio de Janeiro, 450 anos” – Os Rios do Rio,o qual faz parte das  comemorações dos 450 anos da cidade do Rio de Janeiro.
Zuenir lembrou em sua fala de vários momentos e  personagens marcantes da História da Cidade Maravilhosa. De como Debret e Rugendas mostraram os escravos e o modo de vida de seus cidadãos, em meio a um cenário paradisíaco. Como personagens do porte de João do Rio foram possíveis somente numa cidade cosmopolita e aglutinadora como o Rio de Janeiro.
O autor falou de João do Rio e como este sofreu preconceitos por ser negro e homossexual. Mas que mesmo assim estabeleceu a ponte entre a boêmia do gran monde da Belle Époque dos salões dos endinheirados e as músicas, notícias e novidades dos becos pobres da cidade.
O acadêmico também fez menção aos anos 50 e 60, que para alguns foi o auge cultural e estético do Rio de Janeiro. Mas, que para o autor foi o começo de um processo de decadência para a cidade, com a transferência do titulo de capital do país para Brasília e do centro financeiro para São Paulo.
Zuenir Ventura citou os bandidos Cara de Cavalo e Mineirinho, os quais viraram lenda na classe média carioca na época, símbolos de uma criminalidade crescente, mas para alguns representantes do enfrentamento do sistema, como para Hélio Oiticica, que com seu parangolé “Seja Marginal. Seja herói”, homenageou Cara de Cavalo, fez a cabeça de muitos militantes de grupos políticos de esquerda na década de 60/70.
Para o autor, na década de 1980, a chamada década perdida, o Rio de Janeiro, já combalido pela perda do status de capital, pelo ônus da fusão com o estado do Rio de Janeiro, e a crise econômica que assolava o país, chega ao fundo do poço, perdendo o titulo de Cidade Maravilhosa, para ser chamada de “Cidade Perigosa”.  O movimento turístico na cidade despenca, a violência é percebida nas ruas e nos apartamentos da classe média da zona sul da cidade.
Nos anos 90, essa sensação “térmica” da violência explode, tendo como marco as Chacinas da Candelária e de Vigário Geral, as quais Zuenir Ventura acompanhou de perto como jornalista e cidadão. O autor lembrou no evento que esses dois massacres foram executados por quem deveria aplacar a sensação de impunidade e perigo na cidade:  a polícia. Mas que a banda “podre” dessa instituição acabou funcionando como um bombeiro às avessas, jogando gasolina na já queimada imagem da cidade no exterior.
Já sobre os anos 2000, Zuenir Ventura saudou na palestra, a aplicação da política de UPP a qual, segundo o acadêmico, teria vindo para salvar a cidade partida dos marginais entrincheirados nas favelas do Rio de Janeiro.

O conferencista

Sétimo ocupante da Cadeira n.º 32, eleito no dia 30 de outubro de 2014, na sucessão do Acadêmico Ariano Suassuna – e recebido no dia 6 de março de 2015 pela Acadêmica Cleonice Berardinelli –, Zuenir Ventura é Bacharel e licenciado em Letras Neolatinas, jornalista, ex-professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Escola Superior de Desenho Industrial, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

Colunista do jornal O Globo, Zuenir Ventura ingressou no jornalismo como arquivista, em 1956. Nos anos 1960/61 conquistou bolsa de estudos para o Centro de Formação dos Jornalistas de Paris. De 1963 a 1969, exerceu vários cargos em diversos veículos de comunicação: editor internacional do Correio da Manhã, diretor de Redação da revista Fatos & Fotos, chefe de Reportagem da revistaO Cruzeiro, editor-chefe da sucursal-Rio da revista Visão-Rio.

Em 1988, lançou o livro 1968 – o ano que não terminou, cujas 48 edições já venderam mais de 400 mil exemplares. O livro serviu também de inspiração para a minissérie “Os anos rebeldes”, produzida pela TV Globo. O capítulo “Um herói solitário” inspirou o filme O homem que disse não, que o cineasta Olivier Horn realizou para a televisão francesa.

Em 2008, Zuenir Ventura recebeu da ONU um troféu especial por ter sido um dos cinco jornalistas que “mais contribuíram para a defesa dos direitos humanos no país nos últimos 30 anos”. Em 2010, foi eleito “O jornalista do ano” pela Associação dos Correspondentes Estrangeiros, segundo o site da ABL.