Vila Aliança: lugar de história e luta

Vila Aliança. (Créditos: Reprodução Internet)

Nesse início de 2018, a Vila Aliança, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, completa mais um ano de fundação. A data oficial de seu nascimento é o dia 07 de janeiro de 1961. Porém, a história desse lugar remonta a um tempo ainda mais antigo.

A Vila Aliança, assim como outras favelas e bairros das periferias do Rio, surge como resultado de um processo de remoção de trabalhadores para regiões mais afastadas da cidade. No caso, os moradores da Vila Aliança vieram do Morro do Pasmado (Botafogo), Morro do Pinto (Santo Cristo) e da Favela do Esqueleto (onde hoje se localiza a UERJ). Nesse processo, foram criadas a Vila Aliança e a Vila Kennedy, ambas no bairro de Bangu.

Esses conjuntos habitacionais foram parte do projeto chamado “Aliança para o Progresso”, desenvolvido pelo presidente norte-americano John Kennedy em parceria com outros países. A alegação era se tratar de um apoio internacional para a melhoria de vida das populações mais pobres.

Contudo, sabemos que havia outros interesses por trás desse dito gesto de caridade: além do processo de gentrificação das áreas nobres da cidade, o presidente dos EUA estava receoso com a ameaça comunista que se espalhava pela América Latina, sobretudo após a Revolução Cubana de 1959. Não é à toa que a Vila Kennedy ganhou uma réplica da Estátua da Liberdade, além do nome do presidente, como uma forma de “divinização” do modelo capitalista americano.

 

Presente de abandono

Hoje, a Vila Aliança é conhecida apenas pelas notícias ruins: tráfico de drogas, operações policiais e descaso geral nos serviços públicos por parte dos governantes. Apesar disso, a história da comunidade sempre foi de resistência e luta, antes e depois de sua criação. Antes de virar bairro, a área era um grande terreno que pertencia aos donos da Fábrica Bangu. Ela foi planejada para receber os trabalhadores deslocados. À medida que a população foi crescendo, os serviços públicos não receberam os devidos investimentos.

Os moradores mais antigos ainda lembram de como se deram os enfrentamentos para o surgimento do bairro e as lutas seguintes. Muitos afirmam que os donos da fábrica buscavam comprar as lideranças religiosas para que estes não permitissem que os moradores fossem ocupando as outras ruas da Vila. Porém, aqueles que já tinham sido deslocados conheciam na pele a dor de serem expulsos de seu lar, construído com tanto esforço.

Além de seus ocupantes, que sempre foram batalhadores, a Vila contava com grandes expressões artísticas locais, como, por exemplo, a Festa Junina Frevo Mulher e os Blacotas, além do Grêmio Recreativo Bloco Carnavalesco Boêmios de Vila Aliança. Na última Taça das Favelas, o time campeão era de lá.

Todo o bairro de Vila Aliança é a história viva da luta dos trabalhadores. Por isso é tão simbólico para nós moradores o fato de que as ruas centrais possuem nomes de profissões, como as ruas do Farmacêutico, do Alfaiate, do Florista, do Granjeiro, do Eletricista, do Mensageiro, entre outras.

Hoje, a comunidade se encontra abandonada pelos governantes, como a maioria dos bairros operários e favelas do Rio de Janeiro. É muito importante resgatar as histórias de luta dessa gente guerreira, aprender com o passo e nos organizarmos para construir uma vida mais digna para esse povo tão forte, alegre e trabalhador.