Vidas Negras: um maio de lágrimas, luta e resistência

Manifestantes no ato "Vidas Negras Importam", no dia 31 de maio no Rio de Janeiro - Foto: Pedro Nelgri

O mês de maio de 2020 chegou ao seu fim. Deveria ser um mês apenas de comemorações e reflexões para a população negra pelo Dia da África e para analisar e repensar o dia 13, data de assinatura da Lei Áurea. Em maio também, os umbandistas e candomblecistas celebram os Pretos Velhos, entidades sagradas da Umbanda.

É um dos meses dedicado a celebração da cultura negra, mas, devido a pandemia do novo coronavírus, as comemorações foram restritas e simbólicas este ano, porém, não diminuiu a importância das datas comemorativas. Mesmo sendo um ano atípico e bastante conturbado no mundo todo, o preconceito e o racismo se mantiveram em alta, pelos quatro cantos do planeta. Atos racistas, que foram de insultos em grupos de aplicativos de mensagens e nas redes sociais, passando por abordagens violentas da polícia e mortes em operações nas favelas, marcaram o mês de maio de 2020. Com isso, a população negra resolveu dizer basta e ir às ruas para lutar por respeito e dignidade.

Brasil e EUA, protagonizaram diversos protestos contra o racismo, o fascismo, a intolerância, a brutalidade policial nas abordagens aos negros e o genocídio da população negra praticado pelos estados brasileiros e estadunidenses. Manifestações pacíficas e violentas, aconteceram em muitas cidades e continuam a acontecer na medida que ocorre mais um caso de racismo. No Brasil, o estopim da revolta aconteceu após a morte do adolescente João Pedro de 14 anos, um jovem preto morador da favela do Salgueiro, em São Gonçalo. Já nos Estados Unidos, o estopim foi o assassinato por asfixia cometido por um policial branco a George Floyd, um segurança de loja negro.

Guerra às drogas?

Nada do que estamos assistindo agora é novidade. No Brasil, particularmente, no Rio de Janeiro, a brutalidade nas abordagens policiais de pessoas negras dentro das favelas, as operações, que o governo chama de guerra às drogas, sempre foram e ainda são, uma forma declarada do Estado dizer que é racista. Toda essa “guerra” é amplamente exposta na grande mídia, que lucra a anos com a audiência e repercurssão dos casos.

Para relembrar o quanto as emissoras de rádio e TV faturam com as ações da polícia nas favelas, cito apenas um exemplo: Invasão no Complexo do Alemão em novembro de 2010. Quem assistiu e não ficou impressionado? Quem não se estarreceu vendo vários homens negros fugindo dos policiais por uma estrada de terra?

Alguns sem camisa, descalços, vestindo apenas bermudas, segurando armamentos pesados ou nada, sendo todos caçados como animais selvagens, como era feito no tempo da escravidão. Uma cena horrorosa que rendeu um prêmio internacional a maior emissora do país. E é com isso que eles tentam nos convencer que estão combatendo o tráfico de drogas. Nas imagens, porém, não foram mostradas as casas invadidas e destruídas pelos PMs, muito menos crianças, mulheres e idosos levando tapas na cara e sendo revistados de forma desrespeitosa pelos agentes da lei.

Resistência preta de cada dia

O ator Will Smith, em uma de suas páginas das redes sociais, disse a seguinte frase: “O racismo não está aumentando, apenas está sendo filmado”. É verdade, Smith está coberto de razão. O racismo e os racistas, sempre estiveram presente entre nós, nunca saíram do nosso convívio. O que está acontecendo é que, agora, com a tecnologia avançada suas caras, suas identidades e seus endereços estão sendo expostos para o mundo inteiro ver. A internet está revelando friamente, onde há e sempre houve racistas.

O ano de 2020 tem se mostrado complicado e muito triste para os negros.

Mães de Manguinhos no protesto “Vidas Negras Importam”, 31 de maio, Rio de Janeiro. Créditos: Pedro Nelgri

Um ano histórico que, infelizmente, terá em cada capítulo páginas negras, dada a quantidade de fotos e imagens de homens e adolescentes negros, mulheres e crianças negras, ofendidos(as), humilhados(as) e o pior assassinados(as) por um sistema muldialmente racista e opressor, que destrói e mata a séculos, tanto quanto pandemia.

Mas preto é sinônimo de luta e resistência e, sendo assim, tomaremos as ruas do mundo para exigirmos dignidade, igualdade, e principalmente, respeito com nossa gente e com nosso povo. Basta! VIDAS NEGRAS IMPORTAM!

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Carla Regina
Sou estudante do último período da faculdade de Jornalismo, gosto muito de ler e de escrever. Me acho simpática, pelo menos é o que me dizem as pessoas quando me conhecem, mas creio que eu seja sim, pois adoro fazer novas amizades e conservar as antigas. Comunicativa, dinâmica e muito observadora, um tanto polêmica. Gosto muito de trabalhar em equipe, mas, dependendo da situação, a minha companhia para trabalhar também é ótima. Pois, na minha opinião, a solidão aguça a criatividade, fazendo com que a mente e os pensamentos fluam um pouco melhor. Comecei a trabalhar muito nova, ainda quando criança e já fiz muita coisa na vida, mas meu sonho sempre foi ser Jornalista e Historiadora, cheguei a ter muitas dúvidas de qual faculdade cursar primeiro, já que para mim as duas carreiras são maravilhosas. Então, resolvi entrar primeiro para o Jornalismo e no decorrer do curso percebi que cursar a faculdade de História não era só uma paixão, mas também uma necessidade para linha de jornalismo que que pretendo seguir. Como sou muito observadora e curiosa, as duas profissões têm muito a ver com minha pessoa. Amo escrever e de saber como tudo no mundo começou, até porque. tudo e todos tem um passado, tem uma história para ser contada.