Vida difícil no Alemão: hoje, eu quero chorar

Teleférico, Clínica da Família, biblioteca e barracas fechadas na Estação Palmeiras (Créditos: Cleber Araújo / ANF)

O horizonte é turvo, os prognósticos são os piores possíveis. Nada de bom podemos esperar. Estamos perdendo o pouco que conquistamos e sendo surrupiados. As conquistas que alcançamos depois de tantos anos de abandono total agora nos estão sendo tiradas de forma vergonhosa.

Por último, foi a Clínica da Família, que ficava na Estação Palmeiras, última do Teleférico do Alemão. Lá, havia uma media de nove mil atendimentos por mês. Agora, a clínica se encontra fechada. Mesmo com o teleférico já paralisado, ela esteve em pleno funcionamento. Em dezembro, devido a uma troca de tiros em que funcionários e pacientes ficaram no meio do fogo cruzado, o espaço fechou. As atividades deveriam ter sido retomadas agora em meados de janeiro. Agora, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, a Clínica da Família Palmeiras não funcionará mais.

Além da CF, também tínhamos dois bons espaços que atendiam a população daquele local: a Biblioteca Parque e o Espaço SESI. Tudo está fechado. Ambos espaços serviam de forma digna os moradores de uma área que sempre foi muito esquecida pelo poder público.

O Morrão, como é chamada a parte alta da favela, sofre agora com o fechamento destes espaços. A área é de difícil acesso, já que as Kombis não fazem serviço de lotada até lá e nem mesmo o mototáxis gostam muito de subir devido à altitude. O Teleférico do Alemão era um meio de transporte muito necessário. Foi um serviço público totalmente indispensável, que hoje também encontra-se abandonado e fechado, com as cabines recolhidas e funcionários demitidos – entre os poucos que ainda trabalham, sobram salários atrasados.

Eu me pergunto: o que esse governo fez com a gente? Estamos vendo tudo ir por água abaixo, sem nenhuma esperança, sem uma perspectiva de melhorias. A cada dia, as perdas se acentuam, e o abandono generalizado se dissemina como erva daninha. Quando lembro de alguns poucos dias atrás, época em que imaginávamos que o morro agora iria melhorar e que as condições de vida aqui seriam melhores, percebo que foi tudo mentira.

Sou um homem positivo, motivado, e acreditei muito em tudo que vi acontecer aqui de bom: a chegada dos turistas, a favela em evidência, novos personagens surgindo, novas oportunidades aparecendo… Mas, agora, tudo se foi. Hoje, só o que nos restou foi a vontade de chorar por ver a nossa favela assim, em decadência e num caos generalizado, sem qualquer possibilidade de se reaver aquilo que um dia nos deram e agora tomaram, que nos foi tirado.

Só nos resta o choro.