Uma favela doente não pode ficar sem atendimento

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Uma doença silenciosa que está aplacando e ceifando vidas; uma doença quase que contagiosa, que se espalha de forma invisível. Até pouco tempo atrás, a depressão era considerada “doença de rico”. Alguns acham que é frescura, mas o fato é que ela está matando geral. Tanto o rico e o pobre, tanto na favela como no asfalto, pessoas têm desistido de viver devido à crescente onda de medo e pânico social que estamos vivendo.

Essa semana, dois jovens se suicidaram no Complexo do Alemão. Até agora, ninguém aqui do morro sabe realmente o que aconteceu – porque é desse jeito que acontece: ela vem de forma silenciosa. Muitos acontecimentos nos fazem pensar que foi esse um dos motivos que pode ter levado esses jovens a tirarem suas vidas dessa forma. A falta de perspectiva futura, jovens sem trabalho e sem renda, cercados por um mundo consumista e capitalista, doença psicossomáticas intrínsecas que a família não consegue perceber em um ambiente cercado de violência e medo: tudo pode ter sido o combustível que alimenta essa chama interna que consome aqueles que sofrem desse mal.

O mais preocupante de todo esse enredo é que essas dores poderiam ser amenizadas com a implantação do CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) no Alemão. As unidades do CAPS são mantidas pela gestão municipal. Tudo ia bem enquanto havia verbas para mantê-los, com muita gente atendida na região. Mas, na gestão atual, os números dos atendimentos caíram muito. Os altos índices de violência e a desordem social causadas pela gestão pública fizeram com que essas unidades não atendessem mais às expectativas. O prefeito atual tem deixado a desejar no quesito “cuidar das pessoas”, e vidas têm sido ceifadas.

As Clínicas da Família, que também se inserem nesse contexto, estão sem atendimento por falta de repasse de verbas para os funcionários que hoje trabalham para as OS’s (Organizações Sociais), que lucram milhões e fazem um desserviço à população do Rio de Janeiro. As UPAs também não estão cumprindo com seus objetivos, que é a atenção básica antes de os pacientes serem encaminhados para hospitais caso seja necessário. O papel desses organismos é extremamente importante para toda a população, mas a percepção geral é que os gestores públicos não estão nem aí para isso. Enquanto isso, o povo padece e morre.

Cresce o número de mortes gerados pela violência. Aumentam, dia após dia, as doenças que têm afetado diretamente os mais pobres, que não dispõem de recursos financeiros para uma consulta a um profissional de saúde mental, como psicólogos e psiquiatras, e dependem do CAPS para seguir com sua vida. Sr. prefeito Crivella, não feche essas unidades de saúde que tanto servem a muitas pessoas. A população está doente, precisando da atenção e do cuidado que o senhor mesmo nos prometeu em campanha.

Tenhamos a plena consciência de que o suicídio é uma doença da alma. Ele sempre acende um alerta de emergência de que algo está falhando na nossa sociedade. Isso é, em grande parte, culpa dos que governam e deixam de atender a população em suas necessidades de saúde. Em memória dos dois jovens que desistiram de viver, pedimos a plena manutenção do CAPS, das Clínicas da Família e da UPA daqui do Alemão. Esse é o meu apelo.