Um Rio de tristeza e desesperança

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Como morador do coração do centro da cidade do Rio de Janeiro, um dos fenômenos que mais me causam assombro e tristeza atualmente é o grande número de pessoas que vivem em situação de moradia de rua da antiga Cidade Maravilhosa. Me dá um misto de horror, tristeza e desesperança ver tanta gente nessa situação tão deprimente.

Desde a hora em que acordo e desço para a rua, vejo um batalhão de pessoas se levantando de frente de lojas, prédios comerciais e bares e restaurantes por toda a região. São pessoas de todas as idades, que vão se preparando para viver mais um dia de infortúnio. São tantas que mais se assemelham a uma legião de desesperados a procura de um rumo, que parece estar longe de ser encontrado.

Segundo estudos recentes da Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos, o número de pessoas em situação de moradia de rua no Rio de Janeiro triplicou desde 2013. Só no último ano, cresceu 75%. Mas não precisa ser um grande estudioso para detectar a maior causa dessa tragédia anunciada. Os rombos e escândalos da gestão do governo do Estado do Rio de Janeiro, com certeza, são a principal causa desse fato. Gastaram rios de dinheiro em obras e revitalizações de resultado duvidoso, deixando de lado setores mais necessários. Fecharam postos de exames, bibliotecas e restaurantes populares.

Com a crise financeira criada pela péssima gestão política e financeira dos últimos anos, muitas pessoas da periferia e de comunidades estão perdendo seus empregos. Muitos servidores estaduais estão sem receber salários há meses, sem condições de contratar quaisquer serviços, por exemplo. Aliás, como centenas de milhares de trabalhadores estão sem receber, os mesmos deixam de consumir, fazendo com que pequenos comerciantes e empresários demitam funcionários, que não conseguem emprego rapidamente. De cada 10 postos de trabalho que são fechados no país, 8 estão no Rio. Muita gente que agora vive na rua possui curso superior e qualificação profissional.

É triste ver tantos famintos e desesperançados vagando pela cidade a esmo. Outro dia, vi um adolescente pedir a uma mulher que lhe pagasse uma quentinha. Ela se assustou, já que o rapaz (de uns 12 ou 13 anos, negro, obeso e totalmente em andrajos) a tocou no braço. Vi a cena e me sensibilizei. Chamei o menino e disse que pagaria o seu almoço. Chamei-o para um bar ali na Cinelândia e o menino disse que era para irmos a um que ele conhecia, pois era bem barato. Falei para ele não se preocupar, pois estava com dinheiro.

Chegamos e ele escolheu carne assada, com arroz, feijão, macarrão e maionese. Pedi pro garçom caprichar. Ele queria pra viagem. Quando a quentinha ficou pronta, ele me agradeceu em nome dele, da irmã e da avó. “Como assim?”, perguntei. Então, ele me contou que era da Favela do Jacarezinho e que foi despejado de uma ocupação de moradia. Estava na rua com as duas há mais de um ano, e que a avó estava passando muito mal.  Falei que iria comprar outra, mas ele disse que eles estavam acostumados a comerem pouco, que era bom pois assim “não ficariam mal acostumados”. Meus olhos se encheram d’água. Fui embora me sentindo o ser mais impotente do mundo.