Um dia no Ocupa Escola

Começo a coluna me desculpando com os leitores da ANF por estar publicando meu texto tão tarde. É que foi um fim de semana corrido. Na verdade, um começo de semana corrido. Depois de participar do ato pelas Diretas Já em Copacabana, tive que fazer os preparativos para articular o Ocupa Escola, projeto da Secretaria Municipal de Educação do Rio.

Para mim, que participei de tantas ocupações políticas, trabalhar num projeto que se chama “Ocupa” não deixa de ser irônico. Porém apesar da transgressão como elemento comum, as semelhanças param por aí.

O Ocupa Escola é um projeto de Rede Complementar de Cultura, formulado pelo GT de Arte-Educação do movimento Reage, Artista! a partir do resultado de uma série de debates e fóruns públicos (Desconferência Municipal de Cultura, Conferências Municipal, Estadual e Federal de Cultura, Audiências Públicas e as diversas plenárias abertas realizadas desde o inicio de 2013).

O projeto visa mitigar os problemas locais, reconhecendo a escola como um dos instrumentos capazes de realizar a necessária democratização da cultura, beneficiando toda a diversidade cultural da metrópole, mas atendendo principalmente as escolas municipais da Zona Norte e Zona Oeste. Ao longo de 2014, desenvolvemos um trabalho de campo, mapeando as localidades, avaliando a infraestrutura de cada escola e desenvolvendo diálogos com a Secretaria Municipal de Educação, as Coordenadorias Regionais de Educação e a direção das escolas. Desde então, o projeto realizou uma centena de ocupações nas escolas que foram selecionadas para participar do projeto. Para nós, articuladores, é uma experiência muito rica e emocionante.

Hoje, coordenei uma dessas ocupações na Escola Municipal República Argentina, em Vila Isabel. Convidei o Coletivo Babalakina, que aborda a cultura afrobrasileira com debates, dança e moda, e foi uma experiência marcante ver os alunos, em sua maioria, negros, pela primeira vez diante de uma abordagem que eleva a autoestima. Os alunos participaram satisfatoriamente da apresentação e quase todos pediram para as integrantes do grupo para que os maquiassem e colocassem turbantes afros. Crianças e adolescentes, negras e brancas. No final todos festejaram muito a manhã.

À tarde, foi a vez do MC Tchelin contar a sua história de vida como ator, rapper e artista vindo de uma comunidade, assim como a maioria dos alunos que os ouviu. Foi a vez do funk, rap e dança do passinho. Mais uma ocupação feliz, onde os alunos também participaram alegremente. É importante que eles tenham esse contato e uma abordagem mais leve, sem aquela coisa acadêmica e didática hermética. Saí da escola de alma lavada!

Viva o Ocupa Escola!