Trump e Síria

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Por ainda não se saber qual é a real estratégia de Washington para lidar com o ditador Bashal al-Assad e o grupo terrorista Estado Islâmico, é cedo para tecer previsões ou conclusões cheias de certeza sobre o ataque americano ocorrido na última quinta-feira, 06, na Síria. Assim que a Marinha dos Estados Unidos lançou mísseis contra a base de Shayrat, em Homs, rumores de uma Terceira Guerra Mundial esquentaram os ânimos dos mais eloquentes.

A resposta americana ao ataque químico na região de Khan Sheikhun – de autoria síria, segundo a ONG Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), – foi o bombardeio a uma das principais bases da força aérea de Assad. Esse ataque químico do dia 4 de Abril contabilizou 58 mortos e feridos. A ofensiva de quinta-feira deixou, até o fechamento desse texto, quatro crianças e nove adultos civis 9 mortos, o que não se compara às centenas de milhares de mortos e 5 milhões de refugiados em seis anos de guerra à Síria. O Pentágono aponta que “O uso de armas químicas contra inocentes não será tolerado”,  uma frase que, solta, seria justa, se este não fosse o contra-ataque ordenado por Donald Trump, presidente com menos de 120 dias de governo, e os anos de destruição causados no país.

Desde que assumiu, Trump amarga críticas à sua forma de governar, apresentando uma política externa desorganizada – já que há pouco tempo diplomatas americanos garantiam a permanência de Bashar al-Assad na Síria e agora o atacam – e, principalmente, uma estranha proximidade com a conservadora Rússia. Não se pode descartar a possibilidade dessa ação austera de ataque ser uma manobra que objetiva conquistar o público americano, demonstrando força e independência de Moscou, que é aliada do governo de Assad. A Rússia por sua vez, foi previamente avisada da ocorrência na Síria, mas, além de não querer se envolver no conflito com os EUA, não deseja aumentar seu envolvimento na Síria, até porque, oficialmente, o alvo de Moscou é o Estado Islâmico. Dizer que o governo russo não quer se envolver é diferente de dizer que apoiou o ataque americano. Putin chegou a dizer que foi uma “agressão contra um Estado soberano”.

Ainda que seja um cenário que exige cautela, a tendência é que Rússia e Estados Unidos continuem focando no inimigo Estado Islâmico, sendo o episódio  dia 6 um caso pontual. O futuro reserva surpresas delicadas caso o ISIS (outra nomenclatura para o inimigo em comum) perca territórios em decorrência dos conflitos com esses dois países. Os interesses locais, regionais e globais que circulam por ali compõem o trailer de um bom filme geopolítico.