Sobre crise e Carnaval

Créditos: Caio Ferraz/ANF
Créditos: Caio Ferraz/ANF
Velha Guarda da Beija-Flor de Nilópolis. Créditos: Caio Ferraz/ANF

Não gosto de falar em crise. Não gosto da palavra, do contexto e do efeito psicológico que ela provoca nas pessoas. Carnaval é invenção, renovação, recreação, imaginação, transpiração e, acima de tudo, paixão.

Nada se opõe mais à crise do que a festa mais popular do Brasil. Basta passarmos pelos blocos ou por qualquer escola que desfile na Intendente Magalhães; para percebermos que o povo brasileiro foi o grande inventor da vacina anticrise. É na inventividade de nossa gente que nos superamos. Não há nada melhor do que viver na fantasia os desejos que nos foram negados. Quando as naus de Cabral aportaram nas terras dos índios que aqui viviam, esses se deram mal. Quiseram os portugueses catequizar os nativos, mas a relação deles com a bela natureza em que viviam, fez com que os patrícios não percebessem que alma de índio não se converte. Fizeram o mesmo com os escravos africanos, mas na força da religião, os negros suplantaram a dor da escravidão e transformaram seus batuques na festa, que tanto admiramos hoje. O que era crise para quem foi forçado a vir para este país nos porões dos navios negreiros? O que é crise, hoje, para um pedreiro que tem na labuta sua dignidade e que pode ser na passarela o mestre-sala da alegria?

Claro, podemos ver sinais de crise até mesmo na Sapucaí, mas ela não atingiu os belos e bem-acabados carros alegóricos da Beija-flor, escola que se diz soberana na passarela. Nem mesmo atingiu ao desfile da segunda escola do coração de todos os foliões, a Estácio de Sá. O mesmo ocorreu com Vila Isabel, Salgueiro, Portela, Imperatriz e Mangueira. E convenhamos, que para o jogo do bicho não há crise. Aliás, quanto mais na pindaíba o povo se encontra, mais ele faz uma fezinha para ganhar na milhar.

E mesmo que haja um colapso na economia – algo distante graças ao povo que sempre soube driblar a hiperinflação, que soube dobrar os tempos sombrios da ditadura militar e que saberá com a magia de sua alegria vencer este vendaval político que nos atinge – não podemos torcer para que nossa força se perca na tristeza de uma depressão.

Carnaval é magia e não há magia sem a reinvenção da alegria. Carnaval é folia e não há folia sem que haja a sinergia dita em um samba da União da Ilha: “diga espelho meu se há na avenida alguém mais feliz que eu”.

Crise não combina com carnaval. Crise não combina com a invenção da vida de um povo que luta para vencer, com força, fé, samba e axé.

E mesmo que haja um colapso na economia – algo distante graças ao povo que sempre soube driblar a hiperinflação, que soube dobrar os tempos sombrios da ditadura militar e que saberá com a magia de sua alegria vencer este vendaval político que nos atinge – não podemos torcer para que nossa força se perca na tristeza de uma depressão.

Carnaval é magia e não há magia sem a reinvenção da alegria. Carnaval é folia e não há folia sem que haja a sinergia dita em um samba da União da Ilha: “diga espelho meu se há na avenida alguém mais feliz que eu”.

Crise não combina com carnaval. Crise não combina com a invenção da vida de um povo que luta para vencer, com força, fé, samba e axé.