Sim, nós podemos

Obama em seu último discurso / Créditos: Divulgação

O discurso de despedida do ainda presidente norte-americano Barack Obama ganhou as manchetes de todo o mundo nesta terça. O primeiro negro a comandar os Estados Unidos deixa o poder como símbolo de esperança, mesmo com todas as ressalvas diariamente feitas ao seu país.

O encerramento da era Obama parece marcar também o fim da sensatez. Apesar de todas as indisposições de seu país com nações de menor poderio, de seguir alimentando guerras absurdas como a da Síria e não conseguir criar políticas efetivas de combate ao racismo e à xenofobia, as eleições de Barack Obama em 2008 e 2012 foram frutos de uma década em que o mundo caminhou a passos largos para uma maior igualdade social. O chamado politicamente correto nascido no fim do século XX viu, enfim, florescer mudanças efetivas que empoderaram as parcelas marginalizadas da população.

As vitórias de Obama e de seu Partido Democrata fizeram eco ao que acontecia acontecia desde o início dos anos 2000 com a ascensão da social democracia na América Latina e em diversos países da Europa. Uma onda de desejo por liberdade, igualdade e fraternidade se instalou no Ocidente e, sim, a duras penas, pôde gerar mudanças. Até mesmo a apática população americana foi às ruas protestar contra as arbitrariedades, especialmente as policiais e de cunho racial, e acabou ganhando o apoio irrestrito de seu mandatário chefe, que sempre recusou a posição de intocável. O mundo pulsava de maneira diferente menos de uma década atrás, e é lamentável notar que tudo parece ter sido jogado no lixo com a eleição de um membro da elite branca do país – sem muita diferença quanto ao que ocorre no Brasil, exceto pelo fato de que o Donald Trump foi democraticamente eleito.

E o que nós, sobreviventes das periferias das periferias do mundo, temos a ver com tudo isso? Muita coisa. Ver um afrodescendente à frente uma das maiores e mais racistas superpotências do mundo foi muito inspirador não apenas para os negros, mas para todos que vivem à margem do poder hegemônico. Não à toa, vemos cada vez mais negros, LGBTs e – por que não? – favelados lutando por seus direitos com garra e vontade de mudar o mundo. Obama passará à história como um sopro de esperança para todos que sonham com um planeta mais igual – e tal qual ele provou, de alguma maneira, sim, nós podemos.