Rock in Rio e a tristeza social

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Mais que um festival de música, o Rock in Rio é um evento superlativo em números e emoções. Segundo a organização, em 17 edições foram 8,5 milhões de pessoas na plateia, 182 mil empregos gerados, 1.588 artistas escalados, 3 milhões de árvores doadas à Amazônia e 500 milhões de pessoas impactadas em 2015. Ainda assim, falta algo para tornar a festa um evento completo.

Eu já participei de cinco edições do evento (1985, 2011, 2013, 2015 e 2017), sendo as três primeiras como mais um na multidão e as duas últimas como colunista da Agência de Notícias das Favelas. Em 2015, escrevi um artigo sobre felicidade. Neste ano, gostaria de falar sobre tristeza – não a melancólica, mas a tristeza social.

É claro que fico feliz de saber que um evento, em 32 anos de existência e persistência, evoluiu muito em organização e concepção. Este último ano se mostra como o mais diverso em música e lazer. Mas falta diversidade, falta periferia, faltam os negros como protagonistas. Falta a favela.

Bem sei que não basta a crítica. Nosso papel é propor avanços, nos pautar e nos colocar em cena. Eu não sou negro, mas estou cobrindo o evento com um negão de 1,90 m, de cabelo rastafari e estilo próprio: Julio Barroso, o ombudsman da folia. Nesses dois primeiros dias, observei olhares estranhos sobre ele. Isso não pode ser encarado como normal numa sociedade na qual metade da população é negra. Discriminação é fato social. Mas, o que fazer? É nosso dever propor à família Medina, no próximo festival, ações para a inclusão de negros e moradores da periferia. Este tem de ser o legado social que esta família deve deixar ao evento que leva o nome da cidade.

O Rio e o Brasil precisam entender que, numa partitura de música, a nota sol não apaga as outras notas. Pelo contrário, quando combinada com as outras notas, ela dá o tom da harmonia para que nossos corações possam se aproximar uns dos outros e festejar o amor. Aí, poderíamos imaginar que se “o mundo fosse nosso de vez e que a gente não parasse mais de se amar, de se dar, de viver…” – isso, sim, seria rock! Isso, sim, seria um sonho!