“Racismo não existe”

Marcha das Mulheres Negras 2016. (Créditos: Tiago Nascimento / ANF)

Ontem, fui assistir ao filme Assassinato no Expresso Oriente, baseado no livro de Agatha Christie. Algo me chamou a atenção. Só havia um negro entre os participantes do trem – a história se passa em um trem de luxo. Isso mesmo, um negro. Saí dali provocado a refletir sobre a representatividade dos negros em dois ambientes: no sistema carcerário e nas faculdades.

Há quem diga que é vitimismo, o que, no dicionário informal, significa “doença das pessoas que acham que são punidas por alguma coisa ou assunto”. Bom, somos vítimas de um sistema escravagista e não dá pra falar sobre racismo sem voltar ao início da história do nosso país.

Segundo dados do IBGE, a população carcerária em 2016 chegou ao número de 622.202 presos, dos quais 61,8% eram negros e pardos. Em contrapartida, o país registra 205,5 milhões de habitantes, dos quais 46,7% se declararam pardos e 8,4% se declararam negros. Somando os dois, teremos 55,1%, o que significa que temos um valor proporcionalmente inferior a massa carcerária.

Já no que diz respeito ao acesso às universidades, em 2015, apenas 12,8% eram negros, com idades entre 18 e 24 anos. Essa baixa presença tem a ver com o atraso escolar, já que, também segundo o IBGE, 53,2% dos negros ainda cursam o Ensino Fundamental ou Médio na idade em que deveriam estar na faculdade, contra 29,1% dos brancos.

Deixo a reflexão de que precisamos reavaliar nossos conceitos e refletir sobre as desigualdades que nos cercam para que possamos entender o ponto fundamental das Ciências Sociais: de onde viemos, quem somos e para onde vamos. Como diz o poeta, rapper e geógrafo Renan Inquérito, “quem não tem sangue de preto na veia deve ter na mão”.