Quem será o próximo?

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Desespero, pânico, dor e muito sofrimento são alguns dos sentimentos que estamos vivenciando nessas últimas 72 horas aqui no Alemão. O que está acontecendo aqui é inimaginável. Dói na alma ver as pessoas, os moradores das áreas em confronto expostas a momentos tão terríveis como os desses dias. É uma queda de braço doentia e sem lógica. Nessa briga de gato e rato, cada morador é usado como isca e trucidado de forma covarde e vil, sem direito a defesa e ter a quem pedir socorro. Estão simplesmente nos aniquilando.

Com a desculpa de colocar uma cabine blindada em uma das áreas aqui do Alemão, a UPP pediu apoio ao Bope, o Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro. A impressão que temos é que eles vieram com sede de sangue. Agora, tudo isso está acontecendo: tiroteios diários, muitos em horário escolar, e mortes.

No meio de todo esse confronto imbecil, vemos baixas de ambos os lados. Com muita tristeza, registro aqui o caso de dois jovens, mortos no mesmo dia: sexta-feira, 21 de abril. Gustavo tinha apenas 17 anos, era ajudante de padeiro, e sonhava com essa profissão. Estava as 5h da manhã a caminho do trabalho e foi alvejado com diversos tiros de fuzil. Morreu na hora, sem chance nenhuma de se defender ou se esconder. Mais tarde, por volta das 14h, foi a vez de Bruno, 22, soldado do Exército Brasileiro em seu dia de folga. Ele estava sentado no sofá de sua casa e tomou um tiro de fuzil na coxa que atingiu a veia femoral. Quando foi socorrido por vizinhos e levado para a Unidade de Pronto-Atendido, estava consciente, mas pouco depois veio a notícia do seu falecimento. A favela inteira chorou a morte desses dois jovens.

Quero registrar também aqui que, nesse mesmo período, d. Bernadete, 68, estendia roupa na laje de casa. O susto com o início de uma troca de tiros a levou a falecer de forma abrupta. Mesmo estando há tempos ouvindo tiros quase que diariamente, neste dia, acabou sendo fatal. Ninguém jamais se acostuma a essa realidade de tiros com armas de guerra no meio do dia, em um local populoso e de grande densidade demográfica. Ninguém.

Tem sido assim por aqui. Dias após dia, choramos mais um que tomba, mais uma vida que se vai sem ter nem o direito de, ao menos, interpelar os seus algozes. É como se não fossemos nada, “a carne mais barata do mercado”, jogados aos abutres. Com essa rotina de abusos e violações, já era para ter acontecido uma intervenção até da ONU. Algo tem que ser feito imediatamente.

Os tiros não param. Não há recuo de nenhum dos lados. Ninguém cede. Ninguém hasteia a bandeira branca. Enquanto isso, as crianças não podem ir para a escola, as pessoas perdem seus empregos, o comércio fecha, e doenças e traumas se instalam mais e mais nas mentes já fragilizadas de todos nós.

O que os governantes querem com tudo que têm causado aos moradores? Por que não apresentam uma solução definitiva? Fica a pergunta: quem será a próxima pessoa a ser executada por esse Estado genocida? Parem de nos matar! Afinal, algo é desde sempre muito claro: essa guerra é contra nós, os favelados.