Quem banca o Estado carrasco?

Não estamos em guerra. Ainda que eu diga com frequência que estamos, é preciso analisar com mais profundidade.

Que guerra é essa em que o exército que você financia é o mesmo exército que te ataca? Que guerra é essa onde os teus tributos financiam um soldado que atira sem cuidado algum no seu bairro? Que guerra é essa em que os políticos que você elegeu não reagem quando crianças são fuziladas dentro da escola da sua rua? Não movem uma palha. É um vazio de posicionamentos e ações.

Não sou eu que faço estas perguntas. Não é qualquer cidadão do Rio de Janeiro que vai fazer estas perguntas. São perguntas que só podem ser formuladas por moradores de favelas da cidade. Este amplo espectro de cidadãos enfrentam uma guerra inominável e seletiva, uma guerra apartheid. É uma suposta guerra às drogas, mas o que acontece, de fato, é que a Favela é o campo de batalha exclusivo.
Os poderes instituídos não fazem nada.
Tiroteio em horário de saída da escola. Tiroteio em horário de entrada. Tiroteio ao lado de escola. Tiroteio furando casas, carros, caixas dágua… Ou seja, Estado distribuindo prejuízo financeiro a um grupo de contribuintes. Estado Carrasco. Pode? É permitido pela Constituição?

Se essa guerra existe, precisar parar porque você está pagando por ela. Pensando bem, o Supremo Tribunal Federal poderia proibir caveirões, incursões em horários escolar – se posicionar enfim, em prol do cidadão. Coloquem uma emenda na Constituição Federal, por favor: fica vedada a qualquer aparato de segurança estadual ou federal declarar guerra contra qualquer parcela de nossa própria população.

Estamos em guerra, sim. Uma guerra absurda. Uma guerra estúpida. Uma guerra gerida por um máfia… Uma guerra, digamos, inominável.
Como vamos parar esta guerra seletiva, essa guerra-apartheid? Como vamos interromper essa matança de jovens e crianças, sempre das favelas? As favelas sangram. A dor se espraia. A revolta se acumula. As crianças estão deitadas nos corredores. Uma nova juventude se empenha para enfrentar e transformar.

Como vamos parar essa guerra, quer ela exista ou não?