Parem de criminalizar a favela

Crianças se refrescam do calor na Nova Holanda. (Créditos: Reprodução Internet)

No domingo, passei na frente de uma banca de revistas e fui ver as manchetes dos principais jornais da cidade. Como sempre, nenhuma notícia boa; só tragédias e manchetes corriqueiras. Mas uma, em especial, me chamou a atenção, e foi justamente em um dos periódicos mais lidos pelos moradores da periferia e das comunidades, que é o Meia Hora, do Grupo O Dia.

O Meia Hora é conhecido por suas capas ditas irreverentes e divertidas. Muitas fazem piadas com o tema preferido deles: crimes e violência. Porém, já tinha notado que algumas quase atravessavam a tênue linha do racismo e preconceito. Dessa vez, eles conseguiram mostrar que não respeitam as milhares de pessoas que vivem nas favelas do Rio de Janeiro.

A foto em questão é de uma rua na Favela Nova Holanda, com crianças se divertindo em piscinas de plástico. Segundo a matéria, que não apresenta nem o autor da foto, muito menos o da reportagem, as piscinas teriam sido financiadas pelo tráfico de drogas local para dificultar a entrada de policiais na favela – como se a polícia carioca fosse se preocupar com a integridade física dos moradores da região, a mesma polícia que não pensa duas vezes na hora de trocar tiros com traficantes na porta das escolas e outros locais com movimento. É essa mesma polícia que confunde um telefone celular com uma pistola e não pensa duas vezes na hora de atirar para matar, como fez com o menino Eduardo, no Complexo do Alemão, há quase três anos.

Esse tipo de matéria traz grandes implicações. Ela alimenta e reproduz a ideia de que tudo que acontece nas favelas é obra do tráfico. Ignoram a potência criativa e econômica dessas localidades. Na concepção desse tipo de jornalismo, quem mora e vive nas favelas é cúmplice ou recebe alguma benesse do comando. Porém, eles estão enganados.

Nas favelas, o comércio legal movimenta muito dinheiro. Não é à toa que, em muitas, funcionam bancos, lojas, restaurantes e até bares premiados. Existe uma rede de coletivos culturais e de jornalismo independente que nunca dependeu do tráfico. Mas, para a imprensa oficial, quem mora na favela é bandido.

Ativistas e coletivos que atuam na periferia estão organizando um ato de repúdio no próximo dia 28 de janeiro, em frente à sede do jornal carioca. Eu estarei lá.