Onde está a ideia de bem comum da favela nos dias de hoje?

É cada vez mais difícil encontrar pessoas dispostas a ajudar o coletivo. Coisas comuns à vida na favela de antes, como a solidariedade, a união e o senso de coletividade, hoje parecem não ter mais sentido. O cotidiano é mau e perverso, e com isso as pessoas estão se tornando insensíveis dia após dia. Sentir a dor do outro, estender a mão no momento difícil, doar uma cesta básica ao vizinho que ficou desempregado, ajudar uma vizinha que precisa do dinheiro do ônibus para ir fazer uma entrevista de emprego… Isso quase não se vê mais.

Eu pergunto: o que tem acontecido? Crise financeira, aumento da violência, falta de amor ao próximo ou o conjunto de tudo um pouco? Observando o comportamento geral nos dias atuais, é nítido que os problemas do próximo parecem ser mesmo só dele. Antigamente, não era assim. Todos colaboravam uns com os outros. O que dava para um, dava para todos. Era assim nos bailes de corredor, era assim quando o vizinho não tinha pó de café. A favela sempre foi um lugar onde era rotina ajudar os amigos e vizinhos na hora da laje, na hora do churrasco e também na hora do aperto. Hoje, isso está acabando de forma triste.

A prova mais cabal disso é a falta de ações da coletividade. Vivemos altos índices de abusos e violações de direitos por parte do Estado, e não vejo os moradores mobilizados para, ao menos, tentar solucionar o problema que nos assola. São vários os casos seguidos de violência por parte da polícia sobre quem vive aqui. Oque fazem os demais? Nada. Preferem se abster dos fatos, fechar a janela para não ver. Preferem o silêncio.

A ideia de bem comum está se esvaindo. Tenho a impressão de que a dor do outro não mais nos interessa, quando deveria ser exatamente o contrário. Vivemos o sentido real da palavra comunidade – assim, o bem comum do outro deveria ser meu alvo também. Passo pelos barracos e vejo velhos moradores apáticos, em transe letárgico, “com a boca cheia de dentes, esperando a morte chegar”. Não querem e não vão à luta pela sua própria sobrevivência. É como se dissessem: “Não é comigo”, enquanto muitos vivenciam crises de pânico, casas perfuradas, com amigos e parentes sendo baleados, esculachados e mortos.

Eu tenho um sonho: que os moradores percebam de forma urgente a necessidade de lutar pelo bem comum de todos nós, um a um lutando por si e alcançando a vitória para todos. Vamos, favela, não se acovarde ante as inúmeras atrocidades desse sistema corrupto e genocida! Reaja ou seremos todos mortos enquanto ficamos aqui sentados, fazendo reclamações nas redes sociais!

Reaja em favor do bem comum antes que seja tarde demais.