O que a privatização da Cedae tem a ver conosco, favelados?

Créditos: Tiago Queiroz/AE

Que o Rio de Janeiro está quebrado, todos sabem. Mas o importante é lembrar das medidas que os governantes estão tomando para (supostamente) solucionar este problema. Uma delas é a privatização da Cedae, a companhia estadual responsável por fornecer os serviços de águas e esgotos à população. Esta foi uma das exigências do Governo Federal para que o Estado do Rio de Janeiro possa voltar a pegar dinheiro emprestado através do chamado Acordo de Recuperação Fiscal.

Apesar disso, não entendemos de que maneira vender as ações da Cedae poderá ajudar o Estado. Na verdade, o mais provável é que uma das poucas empresas públicas que ainda dá lucro por aqui acabe vendida a preço de banana. As demonstrações financeiras da empresa estão aí para provar.

Quem mais vai perder com isso é a população mais pobre, em especial, os favelados. Afinal, quando a empresa estiver nas mãos da iniciativa privada, o objetivo central será o lucro e não a prestação desse serviço tão vital. Quem garante que os já precários serviços vão continuar a ser prestados nas periferias, onde são mais urgentes e onde as pessoas menos têm condições de pagar por ele?

Todos os dias, denunciamos os números escandalosos do assassinato da juventude, que chegou a marca de 25.891 em 2014, segundo o Mapa da Violência. É necessário também lembrar que, segundo dados do IBGE, 37.488 crianças morreram na mesma época antes de completar 5 anos de idade. Uma das principais causas de óbito nessa faixa etária é a falta de saneamento básico – outro motivo é o descaso que quem depende da saúde pública vive cotidianamente. Desta forma, vender a Cedae é um prejuízo sem tamanho, quase um crime, contra a classe trabalhadora.

O recado é: para solucionar a crise, mais chicotada nas nossas costas. Temos que unir nossas forças contra os ataques que os trabalhadores estão sofrendo. Quando ocuparmos as ruas e avenidas e não for por causa do Carnaval, eles é que vão sambar.

Como dizia o samba de Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro:
“Não tem órgão oficial, nem governo, nem Liga
Nem autoridade que compre essa briga
Ninguém sabe a força desse pessoal
Melhor é o poder devolver a esse povo a alegria
Senão todo mundo vai sambar no dia
Em que o morro descer e não for carnaval”.