O peso da lei é de acordo com a cor

Novembro é um mês importantíssimo para o Movimento Negro no Brasil. Diversas atividades acontecem em torno do tema consciência negra. Há quem lembre de artistas e personalidades negras somente nesse mês. É o hype que não se pode perder pra ficar bem na fita e ter uma festa legal.

Para quem vive a luta e é preta ou preto todos os dias do ano sabe bem que novembro não é o único mês que temos para dialogar sobre isso. Principalmente quando somos a maioria no país e encabeçamos as listas dos que estão em situação de miséria, índice de assassinatos e população carcerária. Não é normal, mas somos criados para pensar que é.

Rafael Braga é hoje o maior símbolo de como as leis funcionam por aqui: se for preto e pobre é réu. Em 2013, com 25 anos, foi o único preso do histórico 20 de Junho – a maior das manifestações de rua contra o aumento da tarifa de ônibus. Foi detido portando Pinho Sol e água sanitária. Os policiais o acusaram de estar portando material explosivo, e a Justiça o condenou a 5 anos e 2 meses de prisão.

#LiberdadeRafaelBraga: Campanha Internacional pela Liberdade de Rafael Braga – veja o mapa de atividades que vão acontecer pelo Brasil aqui

Em 2015, recebeu regime aberto e saiu da cadeia monitorado por uma tornozeleira. No dia 12 de janeiro de 2016, Rafael Braga foi abordado por policiais da UPP da Vila Cruzeiro, favela onde retornou a morar com a sua família. Foi acusado de envolvimento com o tráfico, espancado e ameaçado de estupro no caminho da delegacia caso não assumisse a posse de grande quantidade de drogas. Rafael foi preso novamente, agora acusado de tráfico de drogas e associação o tráfico.

Isso aconteceu com Rafael, mas poderia ter sido comigo, com meus amigos ou familiares. São pretos, moram em favelas e territórios periféricos. Quantos já não morreram e a gente nem sabe? A grande mídia não dá o foco necessário a esse caso porque não lhe interessa. Uma pele branca e um CEP de Ipanema mudariam o olhar e a abordagem da polícia. A verdade é violenta e incomoda.

E há quem diga: “Ah, mas esse papo de racismo é coisa da cabeça de vocês…”

Ouça aqui: Nyl MC – Afronta: Ritmo e Poesia contra o racismo