O apogeu da desfaçatez

Créditos: Dida Sampaio / Estadão Conteúdo

Estamos obcecados. Aterrorizados. Chocados. Ou melhor, estamos mesmo pasmos, que é o terror sem grandes reações. A política é o novo ópio do povo – ópio estragado, de onda ruim.

Estamos paralisados e de olhos arregalados em pleno saque. Aqueles que acompanham febrilmente o dia a dia da Narrativa-Brasil observam incrédulos a desfaçatez mais escancarada avançar, em sucessivos e inacreditáveis lances, contrários, opostos, em guerra com os princípios que deveriam reger minimamente uma democracia. A despreocupação com as aparências é o triunfo ostensivo do modo mafioso de gerir um país.

Para que um José Serra (PSDB) fosse ministro, por exemplo, o seu partido deveria ter ganho a eleição. Perdeu. Foi democraticamente recusado pela população votante do Brasil. Mas este ser político esteve lá, no cargo usurpado, pelo menos até a noite de ontem, quando pediu demissão. De toda maneira, estava ele e ainda estão todos os outros. Os tucanos são um pouco mais ridículos pelas pretensões que ostentam.

Os coxinhas fizeram um Partido Provisório contra a Corrupção. Até aí tudo bem, mas quando a corrupção mais ampla se instalou, o Partido Provisório desapareceu. Desconfio que este Partido era um aparelho da direita, marionetes de verde amarelo e panela, destaques de varanda da Unidos da Coxinhice.

O grampo do Romero Jucá vai ecoaaar pela eternidade histórica nacional. A morte de Teori e do Jornalismo Investigativo vai ecoooar pelos tempos futuros.

Teremos imensa vergonha de Michel Temer. Teremos imensa vergonha de Rodrigo Maia e Moreira Franco. Teremos imensa vergonha de nossa mídia, de nosso jornalismo, da concentração de poder que permitimos existir num espaço que deveria ser ostentado enquanto a plena tribuna da diversidade de opinião.

Alexandre de Moraes envergonhará a Justiça Brasileira por muitas e muitas décadas. Estes nomes e mais alguns serão consolidados como bisonhos personagens, traidores. Bloqueados minimamente pela Democracia – eu disse minimamente! -, estes maus elementos da República cometeram o mais vergonhoso erro histórico. São culpados, foram flagrados, mas ainda são incrivelmente vencedores – incrível, porém, provisoriamente vencedores. Estes impérios repentinos, forjados sob o rancor e a opressão, são também impérios inviáveis a longo prazo, pois fomentam tanta revolta e tanto desespero que programam inconscientemente o seu próprio fim.

Porque o estopim virá. Um estado de coisas assim é insustentável. Manda quem pode, obedece quem não conhece a história do mundo. Os dias de vocês estão contados, traidores. A vitória de vocês é um blefe.

Não passarão.