Novembro Negro: sobre Dandaras e Zumbis dos Palmares

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Ao contrário do que comumente ouvimos nas aulas de História no Ensino Fundamental e Médio, os povos originários de África que foram sequestrados e forçados a trabalhar como escravos nas Américas, inclusive no Brasil, são marcados por sua trajetória de resistência. Nessa semana, traremos uma breve passagem sobre o Quilombo dos Palmares, uma das grandes experiências de lutas dessa população que ousou sonhar um modo digno de vida.

Os quilombos eram compostos em sua maioria por escravizados e escravizadas que corajosamente fugiam dessa condição e almejavam outra forma de organização da vida. Palmares localizava-se na Serra da Barriga, atual estado de Alagoas. Surgiu por volta de 1580 e teve seu apogeu entre os anos de 1630 a 1650. De acordo com historiadores, chegou a aglomerar nessa época 20 mil quilombolas, que se mantinham através da caça, pesca, coleta de frutos, de artesanato e, principalmente, da agricultura de milho, mandioca e feijão – processo esse que resultou na República de Palmares.

Em Palmares, quilombolas vivenciaram outra forma de organização social, política e econômica, que demonstrou a necessidade de lutar para manter a liberdade conquistada. Assim o fizeram: se armaram e se protegeram das inúmeras investidas militares da Coroa Portuguesa, que viam no quilombo uma grande ameaça, já que poderia se tornar um exemplo a ser seguido por outros negros e negras.

Nesse mocambo (o mesmo que dizer quilombo), muitas pessoas, após anos de muito sofrimento na mãos dos bárbaros portugueses, puderam retomar a autonomia de seus corpos no dançar, cantar, comer e ser feliz. É de suma importância destacar aqui o papel exercido por Dandara e Zumbi dos Palmares. Dandara foi uma grande mulher, que desenvolveu um papel de liderança nesse espaço. Ela pegou em armas contra o racismo expresso pela escravização, organizou homens e mulheres para irem à luta, enfrentou barreiras impostas pelo machismo por ser uma mulher guerreira. Enfim, foi uma lutadora por muito esquecida, aparecendo somente como companheira de Zumbi, mas protagonista de sua história. Não podemos deixar de nos referir também a ele, grande líder e guerreiro do mocambo e que resistiu às invasões bélicas portuguesas por suas artimanhas militares.

O ódio e o racismo eram tamanho que, enquanto o quilombo não foi destruído, os senhores de engenho e a Coroa não desistiram. Em 1694, invadiram o Mocambo do Macaco, o maior núcleo de resistência, e alcançaram o objetivo de dispersar Palmares. Em 20 de novembro de 1695, por traição, Zumbi foi capturado, teve sua cabeça decepada e exposta em praça pública para que, dessa forma, servisse de exemplo para que outros negros e negras não o quisessem seguir.

No entanto, o plano deu errado. Zumbi e Dandara se tornaram as grandes referências de luta e resistência para a população negra, se tornando a data de sua captura o Dia da Consciência Negra no Brasil. Sim, somos herdeiras, herdeiros e continuadores da busca para a construção de uma sociedade humanamente emancipada. Não foi fácil para os que vieram antes e não será para nós. Não é de forma desavisada que o ensino elitista e racista tenta esconder que nossos passos vêm de longe. Só iremos parar quando a liberdade, o respeito e a vida digna também existirem para nós, filhas de Dandara e e Zumbi.

A yoo ma duro nigbagbogbo (“Estaremos sempre em pé”)!