Não nos chamem de mulatas

Primeiramente (além do “Fora Temer”), deve-se a explicação: o termo “mulata” tem origem na palavra “mula” em espanhol e português, que, por sua vez, derivam do termo em latim mulus com mesmo significado. A mula é o equino resultante do cruzamento do cavalo com burra. Homem branco e a negra: o estupro. O termo mulata faz analogia a um animal, bem como “criolo”, outro termo designado a negros que também remete a uma raça de cavalo.

Expressões e hábitos racistas foram a tônica do Carnaval em 2017 bem antes do seu início. São debates interessantes que levam a reflexões saudáveis sobre como cultural e socialmente estamos longe de uma igualdade racial. Se o mundo anda chato, pergunte-se constantemente se não está cometendo um erro. Caso não resolva, é bom avaliar as concepções esdrúxulas disfarçadas de brincadeiras.

Voltando aos termos, “mulata” é uma palavra que não agrega nenhum significado construtivo. Nem toda mulher samba e, principalmente, é obrigada a gostar de samba. E as que gostam – e/ou trabalham com isso, passistas – diversas vezes têm sua privacidade invadida com toques indesejados, convites desrespeitosos e fotos constrangedoras. As generalizações vazias vão além: “mulata exportação” é de doer os ouvidos. É se imaginar dentro de um contêiner viajando para Europa, sem direito de reclamação. A cada “não concordo” proferido e um argumento bem colocado, brota do chão: “mas eu não sou machista…”. Um exagero feminino. Um descalabro masculino, seja o garçom do bar ao executivo na empresa.

Que esse Carnaval seja o início de mudanças. Que as mulheres negras sejam menos penalizadas pelo desejo alheio e pela liberdade maldosa do sexo masculino. Até a Globo já vestiu a Globeleza – chegou a hora de despir o Carnaval e o cotidiano de objetificações ofensivas e inadequadas.