Memórias de carnavais sem holofotes

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E chegou o carnaval – enquanto período de tempo propriamente dito no calendário. O clima já permeia a cidade desde o início do mês. Nos ensaios, os blocos já movimentavam a região do Centro. Esse tipo de carnaval é tradicional, sim, mas não foi dessa maneira que pulamos durante minha infância e adolescência.

O carnaval de rua do subúrbio foi o meu primeiro e longo contato com a folia. Ruas fechadas, tomadas por gente fantasiada, confetes e barracas faziam parte do cenário que me ajudou a construir um imaginário sobre o que era essa festa popular. As festas de rua no subúrbio costumam acontecer à noite. Isso me faz achar estranho até hoje a galera acordar cedo para curtir blocos e, consequentemente, voltar pra casa às 22h. Pra mim, o cerne da folia começava esse horário.

Sem muito dinheiro e querendo dar aquele rolê, o roteiro ficava pela região mesmo. Caso a grana acabasse nas bebidas e no churrasquinho, poderíamos voltar a pé para nossas casas. Geralmente, a turma começava a curtir na Avenida Monsenhor Félix, em Irajá. Depois, na Estrada da Água Grande, em Vista Alegre. Às vezes, havia espaço para uma passada em Cordovil e Brás de Pina, onde desaguávamos no Largo do Bicão, na Vila da Penha. Em algumas ocasiões, chegávamos a ir a Madureira.

As turmas fantasiadas estavam sempre por estes lugares, como os Índios, sempre trajando tons de branco. Era a oportunidade para os caras e as mulheres dali mostrarem o corpo trabalhado na academia. Não havia quem não perdesse alguns bons segundos admirando. A outra turma é uma tradição mais forte e mais temida: os bate-bolas. Nesse caso, não há uma pessoa que, quando criança, não tenha sentido medo deles. Rocha Miranda, bairro próximo ao nosso roteiro, é a terra da Legalize, uma das grandes turmas de bate-bola da cidade.

No fim das contas, fica aquele verso de um certo malandro mais velho: “Carnaval de rua, perigoso e divertido. Mas passei por tudo isso entre mortos e feridos”.