Lula ou Lulismo?

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Pesquisa Vox Populi divulgada na semana passada sobre as eleições presidenciais de 2018 aponta o ex-presidente Lula como franco favorito, vencendo em todos os cenários no primeiro e segundo turno, contra todos os adversários. As simulações de segundo turno incluíram os nomes de Jair Bolsonaro, Marina Silva, Geraldo Alckmin e João Dória. Em todos os cenários, Lula aparece com uma liderança folgada, ultrapassando a barreira de 50% das intenções de voto. Chama atenção que, na pesquisa espontânea, que é quando os pesquisadores perguntam em quem o eleitor votaria sem apresentar nenhuma cartela de opções, Lula aparece disparado na frente dos demais, com 42% das menções. O segundo colocado, Bolsonaro, aparece com 8%. 

Lula cresce em relação às pesquisas anteriores, e reforça uma imagem positiva para a população. Para 55% dos entrevistados, foi o melhor presidente que o Brasil já teve. O segundo colocado neste quesito, Fernando Henrique Cardoso, aparece 40 pontos atrás, com 15%. O percentual de eleitores que consideram Lula honesto aumentou de 30 para 35%. A pesquisa Vox Populi, encomendada pela CUT, foi realizada entre os dias 29 e 31 de julho, após a condenação de Lula pelo Juiz Sérgio Moro, devido às denúncias de lavagem de dinheiro envolvendo o triplex do Guarujá. Para 42% dos entrevistados, Moro não conseguiu provar as acusações contra Lula. 32% acham que Moro provou, e 27% não souberam ou não quiseram responder.

Com toda a implacável perseguição midiática, política e jurídica que tem sofrido, além da ameaça de impedimento de sua candidatura ou mesmo de sua prisão, Lula tem um desempenho muito superior ao de seus possíveis adversários. Quais as razões deste fenômeno?

Em recente entrevista à Rádio Criciúma (SC), Lula aponta, como uma das razões da atual crise, o fato de que os economistas neoliberais concebem o Brasil como um mercado consumidor de apenas 30 a 35 milhões de pessoas, e os pobres estariam fora dessa conta. Segundo Lula, para fazer o Brasil crescer, é preciso aumentar o poder de compra da base da sociedade com emprego, renda e oportunidades de crédito para este amplo setor da população, gerando um novo impulso econômico e combatendo a recessão.

A resposta de Lula sintetiza uma das bases fundamentais do Lulismo, fenômeno social que encontra paralelos com o Peronismo na Argentina, ou com o legado trabalhista de Getúlio Vargas, Jango e Brizola no Brasil, mas não somente. O new deal, política econômica adotada pelo presidente norte-americano Franklin Roosevelt na década de 1930, se baseava em uma equação parecida: após a grande crise econômica de 1929, com a economia em frangalhos e boa parte da sociedade americana na miséria, Roosevelt aposta no mercado interno, na criação de frentes de trabalho, na geração de renda e na expansão do consumo para fazer a economia crescer.

O Lulismo, portanto, é algo para além da esquerda, embora tenha origem nela. Trata-se de um pacto entre o andar de cima, especialmente o setor produtivo, e o andar de baixo, produzindo uma espécie de capitalismo popular que, ao elevar o poder de compra da população mais pobre, expande o mercado consumidor e movimenta a economia.

Outra característica do Lulismo foi o fortalecimento da indústria nacional, em especial nos setores agrícola, de infraestrutura e energético, ampliando a atuação econômica do Brasil no mundo, em especial nos países da América Latina e da África, fortalecendo a integração econômica no eixo Sul-Sul. Não à toa, os alvos da operação Lava-Jato foram justamente empresas com forte atuação nestes setores da economia: JBS/ Friboi, Oderbrecht e Petrobras. E ainda há quem diga que é sobre corrupção…

O Lulismo é suficiente para resolver os problemas do país? Certamente que não. Falta muito para a sociedade brasileira avançar, em especial na educação, na cultura, na democratização dos meios de comunicação, tema fundamental que não foi enfrentado nos governos Lula e Dilma. É preciso avançar na qualidade dos serviços prestados pelo estado à população: hospitais, escolas, transporte público. Isso tampouco é socialismo. É estado de bem-estar social, welfare state modelo europeu.

O fato é que a crise política vivida no Brasil agravou a crise social e econômica. A receita neoliberal de restringir direitos através da reforma trabalhista e previdenciária, reduzir o papel do estado e cortar os investimentos públicos, não parece ter o respaldo das urnas. Foi preciso um golpe parlamentar para que essa agenda surgisse novamente como uma falsa solução para os problemas nacionais. Ao que parece, se não prosperar uma via anti-democrática, ao arrepio da vontade da população brasileira, o Lulismo ainda é o que existe de mais viável eleitoralmente no Brasil para a retomada de um projeto nacional de desenvolvimento democrático e com base popular.