Livros da minha vida (Parte 1)

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Nesta semana, retomei contato com centenas de livros meus que, em consequência de mudanças, eu não via há tempos. 14 sacolões repletos de livros que comprei ou roubei em livrarias e sebos ao longo de muitos anos. Roubar livros para ler não é crime no tribunal do imaginário. Quando entrei para a faculdade, aos 18 anos, comecei, de fato, a comprar e acumula. Antes; eu lia o que minha mãe, professora municipal e estudante de letras, já tinha em casa, o que não era muito.

Minha mãe começou a fazer faculdade quando já tinha dois filhos pequenos. Eu, com 5 ou 6 anos, às vezes, a acompanhava nas aulas. Ela foi a primeira da família a cursar uma universidade. Filha de lavadeira, suas irmãs trabalhavam como manicure e empregada doméstica. O interessante é que essa minha tia, que trabalhou a vida toda como empregada ou cozinheira, é uma das leitoras mais vorazes que conheço, até hoje, aos 75 anos. Lê de tudo, de Machado de Assis a romances melosos de banca de jornal. Atualmente, acho que ela é a maior leitora da família.

Desencaixotar estes livros foi como rever velhos amigos. Folhear as páginas sublinhadas, cheias de setinhas laterais foi como recordar antigas conversas. Nossos livros, aqueles que nos pertencem há tempos e cuja leitura foi marcante, são como um album de fotos, repletos de recordações de nossas passadas eras mentais.

Na adolescência, comprei muitos livros em bancas de jornal, principalmente clássicos e policiais. Lembro dos primeiros livros que comprei, por escolha própria, com algum dindim que ganhei de aniversário. Foram adquiridos na Casa Mattos da Rua Mariz e Barros, na Tijuca, em frente ao Instituto de Educação. Eu deveria ter entre 12 e 13 anos e comprei Fernão Capelo Gaivota, de Richard Bach, e Aventuras do Pudim de Natal, da Agatha Christie.

Agatha Christie foi minha primeira paixão literária. Dos 13 aos 18, devo ter lido uns 12 livros daquela simpática senhora londrina. O Caso dos Dez Negrinhos foi o primeiro livro que li em apenas um dia. Fiquei tão orgulhoso de atravessar aquelas quase 300 páginas entre o despertar e o novo sono… Menina sem estrela, de Nelson Rodrigues, foi outro livro que li de uma só sentada.

Lembro de outros títulos marcantes dessa primeira era de leituras: O Pequeno Príncipe, O Menino do Dedo Verde, Coração de Vidro, Meu Pé de Laranja Lima e Éramos Seis, que me abriria as portas para a maravilhosa Coleção Vaga-Lume. Outro dia, com meu filho de 10 anos, reli O Escaravelho do Diabo e O Mistério do Cinco Estrelas. Ele gostou dos dois, mas a sua paixão atual é a coleção Desventuras em Série.

Depois de entrar na Escola de Comunicação, do Campus Praia Vermelha da UFRJ, virei rato de sebo. Conhecia e circulava por diversos sebos no Centro da Cidade. Dois ou três no Edificio Avenida Central, alguns na rua da Carioca, na Rua São José, na Marechal Floriano – eram 10 ou 12 lojas que eu frequentava com frequência sempre que reunia uns trocados.

Recuperar estes livros me fez refletir sobre o percurso de leituras como um percurso de experiência. Esse período, dos 19 aos 24 anos, foi a era de ouro de minhas leituras.

Ali, eu estava consciente, focado e aficcionado na, digamos, acumulação de capital cultural. Eu lia porque amava, mas também como plano, como estratégia de crescimento. Na faculdade, eu me vi em desvantagem. Convivi, pela primeira vez, com uma juventude Zona Sul mais culta, com mais leitura, mais viajada, com outro histórico familiar. Essa suposta desvantagem me motivou. As leituras que fiz nesta época determinaram a pessoa que sou hoje de forma mais cabal do que a própria faculdade.

(Continua…)