Lá vem ele, o Carnaval

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Algumas saídas de metrô já estão interditadas. Adentro a única aberta, onde transitam executivos, senhoras, estudantes, uma Carmen Miranda, um Batman e um unicórnio. Concluo que está chegando a hora…

O tal momento parece estar entre nós cada vez mais cedo. Ensaios que se iniciam quase junto com o Natal são a tendência para os mais entusiasmados foliões. O nascimento é de Jesus, mas todo mundo sabe que quem salva mesmo é o decreto do Rei Momo. Preparar a fantasia com apenas uma semana de antecedência é estar atrasado. Carnaval é coisa séria, precisa de um planejamento milimétrico, de semanas. O carioca vira economista (do contrário, como calcular todas as despesas de passagem e cervejas por muitos dias?), customizador de fantasias, mestre em logística, calculador de rota para tantos blocos e o mais importante: otimizador do tempo. Acorda-se cedo sem reclamar, dorme-se tarde não importando o local. Fazemos muitas coisas e conhecemos muita gente em um dia só. Imagina em quatro (e meio, afinal, ainda temos a Quarta-Feira de Cinzas).

Para toda boa maratona é preciso um bom treino, e essa é a explicação que encontro para a antecipação da festa. Outro dia, ouvi um amigo dizer que desde dezembro estava juntando dinheiro pro Carnaval. Indagado se o motivo era uma viagem, ele me confidenciou que não. Era para os litrões de cerveja, que todos sabemos que custam mais caro nessa época- mas que ninguém deixa de consumir. Segundo esse amigo, a reserva de dinheiro era providencial: em 2017, a nota dele nesse quesito não seria menor que dez, nota dez.

Além dos fatores, é notório que não é o Carnaval que se adapta às normas, e sim, as normas que se adaptam ao Carnaval. Gritos e confetes no metrô, batucada no trem, trânsito adaptado. Ninguém quer silêncio, ainda que depois das 22h. O trabalho sério fica por conta dos barracões das escolas de samba, das tias da cerveja e de tantas outras mulheres cuja responsabilidade e garra sempre me inspiraram.

Apesar de não aderir completamente à folia, acabo como uma entusiasta da maior festa do mundo. Até porque, é difícil não ser contaminado a se fantasiar, desejar ser outra pessoa pelo menos por um dia. Carnaval é necessário, importante e vital para que o ano siga e que a nossa lucidez seja preservada. Que venham as fadas, as sereias. Que venham os desfiles, criados com tanto suor e genialidade da favela.

O clima já está entre nós. E ainda faltam sete dias…