Foi-se novembro, mas o “afro-descendente” resiste

Joe Beasley é entrevistado ao final do evento. (Créditos: Verônica Oliveira / ANF)

A Coca-Cola Brasil promoveu na última segunda feira (28) o Desafio sobre Diversidade Racial. Em janeiro, a empresa já havia assinado uma carta de adesão à Iniciativa Empresarial pela Igualdade Racial, se comprometendo acertadamente em aumentar a participação de talentos afro-brasileiros em seus quadros gerenciais e ser uma voz ainda mais ativa para a causa.

Dez meses depois, o evento trouxe para debate o presidente recém empossado da Coca-Cola Brasil Henrique Braun, o presidente da Faculdade Zumbi dos Palmares José Vicente, o diretor do Instituto Ethos Caio Magri e o líder do Movimento dos Direitos Civis nos Estados Unidos Joe Beasley. A conversa foi mediada pela jornalista Flávia Oliveira e tinha como objetivo promover trocas de experiência com militantes convidados e discutir maneiras de democratizar o acesso dos negros ao mercado de trabalho.

Isso me fez pensar nas empresas que fazem o caminho contrário: usam a diversidade racial para se auto-promoverem, sem implementar sequer uma ação de combate à desigualdade social. Tempos atrás, ouvi a palestra de um gestor que se orgulhava que todos os office-boys de sua empresa eram negros. O setor corporativo já percebeu que a diversidade é rentável. Mais que isso: a diversidade é um ganho para todos, uma riqueza. Porém, esquecem de que não há como mudar a realidade que não se conhece.

No evento da Coca-Cola, Caio Magri trouxe o seguinte dado: se a velocidade permanecer constante, levaremos 80 anos para que o país alcance a igualdade de gênero e, 120 anos, a racial. As empresas precisam acelerar esse processo, enxergando que não é justo o negro estar somente na base, como também no topo. A resposta dessa questão é muito clara: falta de vontade política.

Joe Beasley surpreendeu-se ao constatar que “as favelas são muitas por aqui e não recomendadas nem para cachorros viverem”. Ele está certo. Aliás, Joe não usa a denominação “afrodescendente” para falar dos pretos (aqui deixo um recado para as equipes de RH: a gente se amarra em ser chamado de preto! Podem seguir a entrevista normalmente, ok?). Mas seja no RH, seja no setor financeiro ou administrativo, são esses mesmos executivos que decidem qual é a melhor estratégia: elaborar cartilhas anti-discriminatórias em vez de absorver finalmente os jovens negros que se capacitam nas universidades.

Ainda em 2016, não importa se a mão-de-obra é qualificada, e sim, a cor e classe da sua mão. Mas o negro não quer migalha. O negro não quer apenas consumir um produto ou apenas produzi-lo, e sim, trabalhar na concepção do mesmo, com o conhecimento. Por enquanto, seguimos lutando, porém, apenas para existir.