Estado de greve ou estado de guerra?

A resposta? Ambos.

Créditos: Reprodução Internet

Saques, assaltos, invasões a residência, roubos de carro. Depois de uma grande campanha nas redes sociais realizada de maneira – aparentemente – espontânea pelos capixabas, o país inteiro ficou sabendo do caos em que o Espírito Santo se encontra após uma greve branca da Polícia Militar. Greve branca no sentido de que, pelo regimento, militares não podem realizar este tipo de ação, mas suas famílias estão se colocando na porta dos batalhões e “impedindo” a saída dos carros. Cai o pano.

Todo este descrédito não desmerece o fato de que os policiais do Espírito Santo têm todos os motivos para reclamar. Os profissionais alegam receber o salário mais baixo da categoria no país. Há controvérsias. O fato é que estão há sete anos sem reajustes, o efetivo é menor do que deveria e não há regulamentação de carga horária. Como todas as polícias do país, se sentem desvalorizados pelos governos locais e também pela população. Essa medida de pressão extrema levou o ES a um verdadeiro estado de sítio: as taxas de homicídios aumentaram seis vezes em três dias, lojas foram saqueadas, aulas foram suspensas, os ônibus não circulam, há toque de recolher.

Aqui no Rio de Janeiro, vivemos também momentos bastante estranhos. A Polícia Civil está em greve há três semanas. Reivindicam 13º salário, horas extras e bonificações que não são pagas há meses. Desde o dia 20, as delegacias só efetivam registros de ocorrência de crimes graves como homicídios e roubos de automóveis. Os agentes penitenciários também fizeram algumas paralisações. Já a Polícia Militar, apesar dos boatos dos últimos dias, não pode fazer greve. Como o resto dos servidores, os policiais militares estão com parte dos salários atrasados. 18 policiais foram assassinados só no mês de janeiro – a maior parte deles estava de folga. Muitos protestaram na frente da Alerj contra a aprovação das medidas de austeridade do Governo Pezão, onde acabaram, inclusive, atacados pelos próprios colegas de farda.

Resta ao povo carioca, porém, uma sensação de medo generalizado. O aumento vertiginoso no número de assaltos e furtos pela cidade, que corre à boca pequena entre os cidadãos do Rio e de municípios da Baixada Fluminense, nos faz pensar se estamos assim tão distantes de nossos irmãos capixabas. Não existem dados estatísticos sobre a quantidade de crimes na cidade durante o mês janeiro – um reflexo imediato da greve da Polícia Civil. Mas é só dar uma breve passeada pelo feed de notícias do Facebook para esbarrar com alguém que sofreu um assalto, que teve um celular furtado ou um carro roubado. Ou seja, é possível pensar que a Polícia Militar do Rio de Janeiro de, fato, não se encontra em estado de greve, mas, certamente, está trabalhando em marcha lenta. Há visivelmente pouco policiamento nas ruas, especialmente da Zona Norte e demais regiões vulneráveis, o que favorece a prática de crimes mesmo à luz do dia.

Por outro lado, é curioso pensar que o mesmo Estado que alega não possuir recursos para pagar os trabalhadores da Segurança pode engendrar dias e dias de tiroteio no Complexo do Alemão. O mesmo tem ocorrido em diversas outras favelas do Rio, com relatos de incursões quase diárias. A repressão ao protestos de servidores na última quarta-feira, 01, com bombas e balas de borracha a torto e a direito, também deu mais um show de desperdício de munição e dinheiro público.

Hoje, eu ouvi alguém perguntar o que se poderia fazer quando o estado se torna inimigo de seu povo. E se a gente descobrisse que o Estado (pelo menos, o nosso) nunca possuiu outra função senão esta?