Então, é Natal

Natal no Complexo do Alemão. (Créditos: André Gomes de Melo / Governo do Estado)

Ano após ano, a maior festa do cristianismo tem perdido o brilho dos tempos de outrora. Falta exatamente uma semana para o aniversário do nascimento do Menino Jesus, mas a mensagem principal da data foi substituída por uma insana campanha publicitária de consumo de todas as espécies.

Lembro dos meus tampos de criança, de como a comemoração era diferente dos tempos atuais, a começar pela mensagem natalina. A mensagem de amor e paz era mais importante do que comprar um videogame novo ou aquela roupa caríssima. A verdade é que se você perguntar para uma pessoa o que é o Natal e o que ele significa, poucas vão responder com exatidão.

Até a minha adolescência, a noite de Natal era a data mais esperada do ano depois do meu aniversário. Considerava essa noite especial porque era a única oportunidade de estar com todos os meus parentes, com quem não tinha a oportunidade de conviver diariamente. Era a data em que encontraria tias e tios, primas e primos, avô e avós. Sim, havia troca de presentes e mesa da ceia era farta, beirando o desperdício e a ostentação, mas isso era apenas um detalhe.

A noite de Natal era mágica, e quando a chegada do 25 de dezembro estava próxima, os adultos nos colocavam para dormir para a chegada do Papai Noel. Então, éramos acordados pouco depois da meia noite para abrir os presentes. Havia toda essa magia e encenação sadia. Na manhã seguinte, eu e meus primos exibíamos orgulhosos os presentes, e revezávamos.

Hoje, as famílias nem se encontram mais como antigamente. Muita coisa mudou, e não poderia ser de outra forma. Como ser feliz no Natal com essa quantidade de pessoas morando nas ruas das grandes capitais? Como ter felicidade plena vivendo numa cidade onde os direitos humanos mais básicos não são respeitados?

Como se sentir bem sabendo que centenas de milhares de funcionários públicos e prestadores de serviços não terão uma noite feliz porque não recebem seus salários há meses? De que maneira ter paz de espírito num lugar onde a polícia militar invade favelas matando crianças inocentes, seja dentro de casa, escolas ou em campos de futebol? Difícil, não?

É por essas e outras razões que o Natal tem perdido todo o seu encanto e alegria. A data parece hoje só mais uma black friday com direito a rabanadas e peru. Porém, a mensagem natalina é atemporal e universal. Isso nós não podemos perder de jeito nenhum, independente de religião.