Em clima (de terror) olímpico

Acordei hoje (21/07/2016) por volta das 6h20 da manhã ao som de uma intensa troca de tiros de policiais da UPP Fallet/Coroa com a rapaziada do Morro da Coroa. Eu moro na divisa entre as duas comunidades.

É importante falar do que considero cara de pau do Estado em transmitir uma falsa sensação de tranquilidade para os moradores e os turistas que virão ao Rio de Janeiro para as Olimpíadas. Eles dizem que está tudo tranquilo, que as forças de segurança vão dar conta. O Estado vai dar conta? Vai nada! Só nesta semana, dez carros foram incendiados na região da Tijuca. A resposta? “Estamos averiguando”. Tropas do esquadrão antibombas explodem sacolas de lixo a torto e a direito sem nem sequer conferir o que há ali antes. Mas será que o esquadrão não tem tecnologia para ver o que há dentro de uma sacola? Estranho.

A ameaça terrorista parece ter mais importância do que a vida do trabalhador de bem, que é obrigado a descer a favela em meio a um tiroteio enquanto o ministro da Justiça dava uma entrevista coletiva. O tema era enaltecer o trabalho da Polícia por prender dez pessoas sob a acusação de agirem sob ordens do Estado Islâmico no Brasil. Estas pessoas foram presas não por explodirem alguma coisa, apenas por serem vistas como potencial ameaça. Se a motivação fosse real, poderíamos prender todo o Congresso em Brasília e o novo Planalto golpista que esta aí. Mas isso não importa para eles. O que importa é o jogo de cena pra ficar bem na foto ou na Globo enquanto a favela sofre, enquanto o trabalhador é impedido de sair para trabalhar, para ir à escola e de viver uma vida digna.

Às vezes, penso que nesta está mais fácil passar despercebido sendo terrorista do que trabalhador. Cadê a Força Nacional?