É o fim da república?

Nos últimos meses do reinado de Pedro II, o fim da monarquia já estava declarado: “O Império caiu de podre”. O sistema republicano era praticamente desconhecido no Brasil até o século XIX. Apenas uma pequena elite que havia estudado na Europa sabia o que era uma república. E, talvez, não saibamos até hoje.

Quase 150 anos depois, passamos por períodos ainda mais conturbados: Café com Leite, Estado Novo, Redemocratização, Golpe Militar, Ditadura e redemocratização. O Brasil é historicamente um país autoritário, fundado por meios autoritários, por pessoas autoritárias e aristocráticas, que posteriormente ficariam a frente de instituições que se pretendem democráticas em um país autoritário. É paradoxal e soa confuso, mas é o Brasil.
 
Após anos de Ditadura e da falha do regime, optamos pela democracia pelo que ela não é: um governo não-autoritário. Fundamos a democracia sem sermos democráticos. Como consequência, o brasileiro não confia em partidos, não confia no Judiciário e não confia nos políticos. Rejeitamos as bases da democracia moderna: a representatividade e o equilíbrio dos Três Poderes. O poder mais confiado por nós é o Executivo – característico de governos autoritários.
 
Personificamos tanto o poder que, apaixonadamente, não votamos em agendas políticas, mas em pessoas que soam como única opção. Nós adoramos fundar heróis. Adoramos concentrar poder nas mãos de uma só pessoa, como se fossem a única solução possível. A verdade é que não é bem assim. Não há resposta fácil. Não existe saída rápida. A república e, consequentemente, a democracia, depende do fazer diário de práticas individuais que impactam o coletivo. Ainda não é o fim da república, mas já estamos caindo de podre.