E NO ENTANTO É PRECISO CANTAR – DESABAFO 02

Este título pertence a música Marcha da Quarta-Feira de Cinzas de Vinícius. Foi justamente na quarta-feira que saiu o resultado dos desfiles das Escolas de Samba. O nosso samba sempre saiu perdendo. Quando só os negros curtiam o samba. As elites dominantes discriminavam-no. Chegavam a usar a polícia para por fim a batucada boa. Não foi atoa que no primeiro samba gravado de autoria de Mestre Donga, tinha a presença do tal delegado: ” O chefe da polícia pelo telefone mandou me avisar…” O saudoso Bezerra da Silva era figurinha carimbada na delegacia de Copacabana. Ele morava na favela Cantagalo neste bairro. Apesar de ser um excelente pedreiro, não tinha carteira assinada e a toda hora era pego cantando seu sambinha e ganhava a famigerada Vadiagem. Mas foi na Praça Onze das famosas batucadas que surgiu a figura lendária da Tia Ciata que desafiou o sistema e botou o coro pra comer com sua Roda de Samba. O samba agonizava mas não morria (Nelson Sargento). Continuava firme. Até que liberaram. Pronto! As favelas desceram organizadas em forma de Escola de Samba. Como na época da criação do mundo, os brancos viram que era bom e foram se chegando. Então os contraventores resolveram roubar a cena. Venderam nosso carnaval para as multimídias e colocaram os negros como coadjuvantes e transformando os globais em protagonistas. O carnaval perdeu o brilho para as favelas,  seu reduto. Nem assisti aos desfiles os favelados sambistas têm mais direito. Em várias Escolas de Samba não temos mais a figura do presidente e sim de um “Mandão”, quem não se enquadra está fora. Escrevo com tristeza este texto, pois também testemunhei os absurdos na apuração dos resultados dos desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Uma terrível falta de respeito com os sambistas. O cúmulo foi o rebaixamento da Império da Tijuca e a permanência da Vila Isabel no Grupo Especial. Isto porque a Império da Tijuca desfilou vestida, fantasiada e a Vila Isabel desfilou pelada e ainda ganhou uma nota dez em fantasia. O mais interessante é que nenhuma reportagem séria denunciando este absurdo foi vista. Como naquela história, Triste fim de Policarpo Quaresma (Lima Barreto) ou nos versos de Vinícius “Acabou o nosso carnaval).

Rumba Gabriel