É chegada a hora de lutar

Ação cobre placa da Alameda Casa Branca, onde o líder revolucionário foi assassinado em São Paulo, e a "renomeia"para Alameda Carlos Marighella. (Créditos: Reprodução Internet)

Duas leitoras do Jornal A Voz da Favela estavam discutindo sobre o porquê de os atuais governantes, mesmo com todos os seus crimes e atos desumanos, continuam no poder e não são presos. Esse é o caso Michel Temer, que se livrou de responder por crimes de corrupção no STF. A conversa descambou para uma solução: “Precisamos de um novo Marighella!”. Elas discutiam possibilidades de levantes armados em que a população pobre fosse protagonista e de um governo revolucionário que governaria o país em assembleia popular.

Fiquei só ouvindo. Eram duas senhoras com sotaque de Minas Gerais. Uma contou que era de Itabira e escrevia um jornal local. Eu me inspirei e procurei saber mais sobre o revolucionário Carlos Marighella. Logo, fiquei muito feliz e, depois, triste. Primeiro por ter existido um brasileiro, baiano, filho de negros, que não se limitou ao hierarquizado Partido Comunista Brasileiro para seguir pela ação direta, pela luta real, a luta armada. Depois por saber que ele morreu e que nunca mais ninguém teve a coragem daquele que foi considerado o inimigo público número 1 pela Ditadura Militar.

Nesse tempo, quando o governo promovia alguma ação desumana contra o povo, grupos respondiam com ataques estratégicos. O livro Minimanual do Guerrilheiro Urbano, publicado em junho de 1969, foi uma das mais divulgadas obras de Marighella e serviu de orientação para diversos movimentos revolucionários. Nesta obra, ele detalhou táticas de guerrilha urbana a serem empregadas nas lutas contra a hegemonia. Circulou em versões mimeografadas e fotocopiadas, algumas diferentes entre si, sem que se possa apontar qual é a original. Ainda é lido em todo o mundo. 

Apesar do exemplo, acredito que a luta armada não possa vir desacompanhada da luta popular, nas bases, juntos aos moradores de favelas e periferias, nas fábricas e nos espaços de educação. Não aguento mais ver militares nas ruas, aqui para impedir revoltas causadas pelo sucateamento e venda dos bens públicos e pelas retiradas dos direitos trabalhistas e previdenciários. Os empresários governam sem sair de suas cadeiras. Eles financiam campanhas políticas e, com isso, impõem suas leis – tudo pela estabilidade, para aquecer o mercado, para aumentar o lucro do patrão.

As senhorinhas mineiras estão certas. É preciso uma resposta contundente. Eu me lembro de quando o povo ocupou a frente do prédio onde morava o então governador Sergio Cabral. Notícias davam conta de que ele não dormia e que os vizinhos pediam para que ele se mudasse. Foi atacado em sua família, no seu dia-a-dia, exatamente como fazem conosco.

Mas quem será o novo Marighella? Como pré-requisitos, é preciso ser negro, pobre, homem, mulher, trans. Precisa conhecer de marxismo ou anarquismo, saber atirar e não abandonar os amigos, além de possuir alma de poeta.

Alguém se candidata?