E agora?

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Depois de uma semana cheia de trabalho, duas mudanças de casa e em meio a caixas e sacolas, olho para a tela do computador e penso: “E agora?”.

O mouse… Cadê do mouse? Tô lascada! Vamos sem mouse mesmo. Já sei que vai haver uma relação tensa entre minha pessoa e o teclado, mas tudo é meio assim na vida: sempre uma relação tensa entre o que queremos e o que nos é apresentado. Olho a bagunça organizada em volta e penso: “Deveria ter escrito antes”. Mas quando? Foi uma semana movimentada. Toda mudança, mesmo que seja para o local de origem, traz a ansiedade no “novo”, ainda que se trate de um velho conhecido.

Vejo as letras se agrupando sobre o branco da tela e continuo refletindo… Sobre o que escrevo no meu primeiro dia de colunista da ANF? Cultura, Política, ativismo… Mas, enquanto penso…

Eu me chamo Simone, tenho 57 anos. Ainda acredito que viver é uma experiência extraordinária. Tenho três filhos, três netos e sou casada há 33 anos com um cidadão preso, atualmente em regime aberto. Quem sou? Continuo caminhando e arrumando os cantos escuros do peito que tantos anos de medo e luta me trouxe. Mulher sozinha com três filhos, marido preso, pouco dinheiro, trabalhando e militando. É punk!

Trajetória de medo misturado com fatalidade. Não há nada pior do que andar na corda bamba, com a vida comandada por uma situação acima das suas possibilidades, reafirmando todo dia a sua capacidade de resistir ao medo de errar na educação dos filhos, de não poder ajudar o parceiro isolado, de não dar conta da manutenção do lar, da orientação psicológica das crias… Administramos o medo, aprendemos a conviver com ele. Num ambiente duro, árido, tenso, cruel, despersonalizador, resgatar sentimentos esperançosos pós martírio é o que todas nós, mulheres que povoam as portas das prisões desse país, aguardam: a reorganização familiar.

Eu sou Simone, que acordo todo dia agradecendo a Deus por estar viva, por todos nós estarmos vivos após tantas e lutas e embates pela liberdade. Olho em volta e vejo minha netinha que brinca entre as caixas de mudança, meu filho que verifica o telefone, minha nora na sala, meu marido William no quarto, e a vida que vai seguindo. Acredito no crescimento qualitativo do ser humano, acredito na família como raiz matricial e teimo em acreditar na vida, apesar da caminhada.

Não sei se o que passarei a falar aos domingos será o que você gostaria de ler, mas tenha certeza que o que lerá é o que minha alma quer dizer!

Que venham novos domingos!