Dignidade!

Créditos: Reprodução Internet

Zapeando pela televisão essa semana, vi uma matéria que me causou emoções profundas no meu peito: vergonha, tristeza, compaixão, e, ao mesmo tempo, um sentimento de carinho, amor, de desejo de acolhimento daquele ser digno, alegre, estelar.

Vi a história de uma senhorinha, professora pública aposentada, ex-cantora, negra, na fila de um sindicato para ganhar uma cesta básica. Vi seu corpinho arrastando um carrinho de compras, e, para sua tristeza, as cestas básicas tinham acabado.

Mas a dignidade dessa mulher é o que me emocionou profundamente. Apesar do seu pequeno corpo curvado, havia uma imponência, um domínio. Certamente, era uma mulher que sabe seu valor, mas que aceita com dignidade as intempéries do tempo e segue adiante com uma atitude digna em relação à vida e à situação em que se encontra. Apesar de miúda, demonstrava força: sua voz era forte, seus passos seguros. Ela me lembrou uma Candace, rainhas guerreiras do reino de Meroé no sul do Egito. Realmente, aquela mulher possuía a fibra de uma lutadora, uma postura de quem carrega com orgulho sua ancestralidade. Como uma pessoa com tantas coisas a oferecer e compartilhar se vê arrastando um carrinho para buscar mantimentos?

Posso começar a fazer uma dissertação sobre a atitude covarde dos nossos governantes, do descaso, da corrupção, da omissão, da deturpação moral. Essa postura, porém, não é só dos nossos gestores, mas grassa pelo tecido social mundo afora, resultado dos tempos cinzentos em que estamos vivendo, da sociedade agressiva, vingativa, desesperançada em que estamos nos transformando. A omissão, a frieza e a crueldade têm sido exercício diário na vida de muitos, de como nossos idosos estão desamparados e invisíveis. É um mundo em tempos de pré-convulsão. Mudanças profundas se avizinham.

Mas prefiro escrever sobre o quanto me senti orgulhosa em ser mulher. Quando vi aquela professorinha cantando “Summertime” com voz uma forte, elegante, bonita, cheia de vida, me alegrou a forma firme com que falava e lembrava dos tempos de cantora e suas turnês musicais, dos países que conheceu e da alegria que seus pequenos olhos traduziam. Vi nela uma professora que gostaria de ter tido, de ter ouvido suas histórias de andanças pelo mundo. Quem sabe, ela poderia até soltar a voz. Na entrevista, não pediu ajuda de forma piedosa, queria trabalho – cantar, por exemplo. Chorei!

Nos tempos que se aproximam, torço para que a dignidade vença a indiferença, que o humano possa ressurgir em nós, que possamos perceber nosso pequeno tamanho diante da imensidão e da longevidade do universo.