De dentro do Complexo do Alemão

Convido você a conhecer um pouco do Complexo do Alemão. Um conjunto de 12 favelas que passou a ser bairro, mesmo que seja no papel, em 1993 a partir de um decreto do prefeito César Maia. Nesta narrativa, vou desenrolar o texto indicando o que fazer por um dia no Alemão.

Começo o dia no mirante do alto do morro do Alemão, lugar privilegiado com uma vista total para toda a Leopoldina, Ramos, Bonsucesso, Olaria, Penha e Ilha do Governador com seu aeroporto internacional, com seus aviões. Entre pousos e decolagens é um bom momento de se ver e apreciar  o nascer do sol. Um presente de boas vindas, o raiar de um belo dia de primavera no Rio de Janeiro. Logo após, dar uma bela caminhada na Serra da Misericórdia contemplando o verde que até o momento é extraordinário quando  penso que estou no alto de um conjunto de favelas. Existe até um lago chamado Lagoa da Dona Maria. No verão o local é invadido pelas crianças e jovens.

Pelo Teleférico, se tem uma visão do alto, uma visão muito ampla do que se tem lá embaixo, podemos ver a favela no seu verdadeiro “acontecer”, seus moto-táxis, suas kombis, carros de sons, kombi do peixe, caminhão do lixo, criançada indo para a escola, fazendo brincadeiras, as casas, os becos, as vielas, sua gente!

Na Estação Palmeiras uma Biblioteca, ainda não inaugurada, mas um bom ambiente para uma boa leitura e um bom papo. Do lado de fora, algumas crianças pedem para comprar uma água ou dar uma ajuda. Alguns quiosques abertos vendem bebidas e uma barraca vende artesanatos locais, como quadros, chinelos, bonés, todos com a temática da favela, nela estão Mariluce Mariá e Cleber. Mari já foi para os Estados Unidos falar do Alemão, quanta honra! Eles contabilizam os turistas que já passaram por ali, já perderam a conta, mas que já veio gente de várias partes do mundo.

Na Grota, aos sábados  tem a feira, com as barracas de frutas e legumes, peixe e a melhor e mais procurada, a de pastel frito na hora. Depois do pastel, hora de dar um rolê de moto-táxi pela favela. Minha dica é pegar um no ponto da entrada da Grota, entrar pela Rua Joaquim de Queiroz e ir favela adentro, passando pela Canitar, onde passará pela Quadra da Canitar, local onde eram realizados os famosos bailes Funk do Complexo do Alemão e hoje está fechada por conta da pacificação no qual os bailes estão vetados. Logo depois o campo do sargento, um campo que resistiu ao crescimento da favela, é um grande campo ainda de terra, onde são realizados grandes eventos, já teve um grande show do Zezé de Camargo & Luciano e o projeto Aquarius. Ao lado, a sede da Ong Educap, famosa por ter recebido em 2012 a visita do príncipe britânico Harry, entrando pelas Casinhas, chega-se à Fazendinha e logo em seguida sobe para a Alvorada, parte mais alta do Alemão. De lá avistamos o Cristo Redentor e o morro do Pão de Açúcar. Passa-se pela Estação do Itararé do Teleférico e descendo, podemos saltar na escadaria da Oca dos Curumins. Hora de conhecer uma escada toda pintada por um artista inglês e o Ponto de Cultura da Oca. Descendo voltamos para o mesmo lugar, a entrada da Grota.

Caminhando pela Estrada do Itararé, um pouco da história do lugar. Antes das obras do PAC iniciadas em 2007, só haviam esqueletos de fábricas abandonadas à cerca da violência que imperava na região. Hoje estes locais são condomínios de famílias reassentadas, uma escola de ensino fundamental, uma escola municipal, um centro comercial, uma Clínica da Família e duas creches.

Chegamos em uma outra entrada do Complexo, a de Nova Brasília, diz-se que foi a primeira favela do Complexo a ter uma associação de moradores, logo depois foi a da Grota. O comércio de Nova Brasília é muito expressivo, vem pessoas de fora comprar aqui. São lojas de todo o tipo, inclusive uma lotérica que tem filas todos os dias. É um vem e vai de pessoas o tempo inteiro. Subindo a Rua Nova Brasília, chegamos na Praça do Conhecimento e na Praça do Terço, indo mais um pouco chegamos no Ciep Theóphilo de Souza Pinto, homenagem ao  primeiro presidente da Associação de Moradores da Grota. Diz que esse Ciep foi uma grande conquista para a comunidade no governo Brizola.

Logo abaixo temos o Cine Carioca, o cinema da Prefeitura que não deixa a desejar em nada se comparando à uma sala de cinema de shopping. Os filmes são os mesmos que estão em cartaz no circuito atual e o melhor, o preço é muito baixo, R$ 4,50 . É para todos! Então temos a Praça do Conhecimento que chamamos carinhosamente mas o nome certo é Nave do Conhecimento, como sendo um equipamento da Prefeitura. A Nave oferece cursos na área de audio-visual, informática e um ambiente super bonito com computadores modernos e de alta qualidade. Para uso e acessíveis à todos. Na minha opinião, maravilhoso!

Tudo isso foi feito com as Obras do Pac. Onde era um emaranhado de casas e becos, hoje temos uma Nave do Conhecimento, uma praça e um cinema. A praça é ponto de encontro de todos.

Saindo, vamos no que chamamos de “Baixo Complexo”,  fica no loteamento da Nova Brasília. Chegamos no Bistrô R&R, local onde vendem cervejas artesanais e importadas, são mais de 250 títulos de cervejas. Você não diz que está na favela. Sempre tem música ambiente e um atendimento de primeira.

Na mesa do bar posso dizer: no Alemão tem ainda a Vila Olímpica, com suas atividades para crianças, jovens, adultos , idosos e portadores de deficiência. Temos artesanatos, produzidos por várias frentes, temos uma rádio mulher, rádio poste, ongs como o Raízes em Movimento e o Voz da Comunidade que realiza os eventos Arraiá do Alemão e Por um Natal Melhor. Ainda a galera dos esportes, o futebol Complexo do Alemão, a luta com o projeto Spíndola Team, e muito, mas muito mais!

E o melhor, seus botecos, sua gente guerreira e trabalhadora! Ufa, espero que goste de um dia no Alemão! Isso é só um pouco, uma pequena parte do que se tem para fazer e conhecer aqui. Sempre digo o “Complexo é muito mais complexo” só quem vive aqui sabe como é! Temos forró, só não temos o famoso Baile Funk, mas um dia teremos, sem medo de acontecer algo, autorizado.

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Foto: Helcimar Lopes